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200 anos do comércio Brasil-Portugal

 200 anos do comércio Brasil-Portugal   A companhia aérea internacional com mais voos para cidades brasileiras é a TAP Air Portugal. Voos diários fazem essa ligação com Lisboa e o Porto. No passado, os voos entre Brasil e Portugal eram ocupados principalmente por portugueses imigrantes, sempre saudosos da terrinha, como costumavam se referir carinhosamente ao país natal. Antes da apresentação das novelas brasileiras na TV portuguesa, e do aumento do fluxo turístico (em ambas as direções), a população estranhava o português falado no Brasil, não só pelo uso de palavras diferentes, como pela construção das frases (no Brasil usa-se muito o gerúndio; em Portugal, o infinitivo e o imperativo) e o próprio acento. Se uma pessoa está bem, no Brasil está legal. Em Portugal, legal é um termo usado nos tribunais...  Houve efetivamente uma redescoberta do Brasil pelos portugueses e de Portugal pelos brasileiros. As oportunidades que surgiram na economia portuguesa após a integração com a União Eur

Charles III e a economia do Reino Unido

  Charles III e a  economia do Reino Unido George Vidor Reina, mas não governa. Se a expressão cabia para Elizabeth II, continuará sendo válida para Charles III. Monarcas não têm qualquer poder de interferência, nem mesmo de influência, sobre o orçamento público britânico. Podem até dar palpites ou fazer sugestões aos primeiros-ministros e autoridades próximas sobre isso ou aquilo, mas sequer têm poder de veto sobre alguma decisão orçamentária aprovada pelo parlamento. Resumo da ópera: a subida de Charles III ao trono britânico não terá influência direta sobre os rumos da economia do Reino Unido. Pode ter alguma influência indireta à medida que Charles contribua positivamente para ajudar a Grã-Bretanha a aprofundar relacionamentos com parceiros comerciais, econômicos e políticos. Isso se tornou ainda mais necessário com o Brexit, pois os britânicos agora não fazem mais parte da União Europeia, porém dependem muito do intercâmbio com a UE. O desafio será costurar um status especial, tal

E lá se foram 200 anos...

E lá se foram 200 anos...   George Vidor   Após ou durante sua terceira viagem ao país, o escritor austríaco Stefan Zweig escreveu Brasil país do futuro, uma obra polêmica pois muitos acreditam que teria sido feita sob encomenda do governo Vargas, em plena ditadura do Estado Novo. Zweig era um reputado humanista que vislumbrou o Brasil como país do futuro, convencido de maneira honesta e sincera a partir de muita leitura, observação factual e de depoimentos que ele próprio captou viajando por aqui.  Estava afastado da sua Viena natal, anexada pelos nazistas em 1938, no que eles chamavam de Grande Alemanha. Judeu, de uma família razoavelmente abastada (o pai tinha uma indústria têxtil), ele, assim como outros intelectuais de renome na Áustria, viu-se obrigado a escapar do fanatismo nazista. Embarcou para Londres. Lá se sentiu incomodado pelo ambiente reinante quando a Inglaterra declarou guerra à Alemanha hitlerista. Por sua cidadania originalmente austríaca, era visto com desconfiança

SER OU NÃO SER UM PAÍS INDUSTRIALIZADO?

  Por George Vidor (Economista e jornalista, foi colunista do jornal O Globo e comentarista da Globonews) Sou da geração que associava economias desenvolvidas a países altamente industrializados. Economias baseadas em setores primários (agricultura, mineração) só alcançariam a categoria de desenvolvidas quando passassem a contar também com uma indústria poderosa. Essa discussão foi especialmente marcante a partir dos anos 1950 na América Latina, com as teses cepalinas – que chamavam atenção para a deterioração das relações de troca entre as nações exportadoras de produtos primários e as exportadoras de manufaturas. Pesquisadores ainda hoje destacam o embate, nos anos 1950, entre o industrial paulista Roberto Simonsen e Eugênio Gudin, fundador da primeira escola de economia do país. Gudin, um liberal convicto, defensor das teorias das vantagens absolutas e comparativas de Adam Smith e David Ricardo, não era favorável à industrialização a qualquer custo, enquanto Simonsen justificava o p

Livro - Economia Brasileira e o nascer das finanças

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O propósito desta série é narrar um pouco da história econômica do Brasil do início do século XIX até meados do século XX. O pano de fundo desse enredo é o envolvimento do Banco do Brasil nesses acontecimentos. O argumento se apoia na própria historiografia do Banco do Brasil, iniciada, nada menos, por Afonso Arinos de Melo Franco, um dos mais renomados juristas, políticos e acadêmicos do seu tempo. Afonso Arinos assumiu a missão de historiador como funcionário do Banco do Brasil. Trabalhou no primeiro volume em 1942, relatando os primórdios da instituição – e em consequência, a evolução do Brasil nascente. Teve de interromper o trabalho por questões políticas, pois seria afastado dos quadros do banco pelo governo Vargas, em 1943, por sua participação no chamado “Manifesto dos Mineiros”. Concluiria o primeiro volume após a redemocratização do país em 1945. Esse volume inicial se refere ao que se considera a história do primeiro Banco do Brasil,criado em 1810 e l

Texto Sobre Machado de Assis para o Livro Brasileiros

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José Maria Machado de Assis. É nosso escritor maior. Ponto de exclamação. Suas principais obras, escritas durante o século XIX, permanecem atuais. Na língua portuguesa, sua arte de narrar o cotidiano talvez só se compare a de seu contemporâneo Eça de Queiroz. Mas não vamos voltar a essa polêmica, pois aqui se trata de Grandes Brasileiros, e Eça era português. Fui apresentado a Machado nos idos de ginásio. Para quem não sabe o que é isso, era um período de quatro anos que vinha logo após os cinco anos do ensino primário. Agora tudo equivale ao chamado ensino fundamental. Não lembro exatamente quando essa apresentação a Machado ocorreu, se no segundo ou terceiro ano do meu ginásio (em 1965 ou 1966, quando o país se encontrava ainda nos limiares de um regime militar iniciado em abril de 1964, e que se estenderia até 1985). Estudava na então seção Sul – Humaitá – do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Machado bem que poderia ter dado aula de literatura no CP II. Mas no seu tempo n

Sobre Jornalismo de Economia

Sobre Jornalismo de Economia...

Pianíssimo Jazz em Juiz de Fora

Pianíssimo Jazz em Juiz de Fora Não sou de família mineira. Sou carioca. Os laços entre mineiros e cariocas se devem não só à proximidade geográfica, mas também à história. O ouro das minas gerais era escoado pelo Rio. Ainda hoje parte considerável do minério extraído no Quadrilátero Ferrífero é exportado por portos fluminenses. Tiradentes conspirou na Vila Rica (atual Ouro Preto), porém foi preso, julgado, martirizado e enforcado no Rio. Políticos mineiros sempre adoraram ter casa no Rio, para o bem e para o mal (rsrsrs) Meu enteado foi morar em Belo Horizonte, casou e teve dois filhos lá, meus netinhos mineiros. Motivo mais do que suficiente para nos levar a BH vez por outro. Pretexto também para revisitar às vezes algumas das cidades históricas. Profissionalmente estive em várias cidades mineiras. E tenho a honrar de ter recebido duas comendas mineiras. Das principais cidades mineiras, a que fica mais perto do Rio é Juiz de Fora. Tão perto que o pessoal de Belo Horizon

Um pedacinho da Bélgica no Rio

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Um pedacinho da Bélgica no Rio Enquanto há vida, há esperança. É um velho ditado, que tem tudo a ver com a realidade. Não é um simples clichê de autoajuda. Isso se aplica inclusive à economia. Mesmo em um período de crise aguda e tão longa, como a que vivemos, há quem aposte no futuro e enxergue oportunidades no presente. Um breve comentário da minha querida colega Luciana Froes, crítica de gastronomia do Globo e agora também da Rádio Sul América Paradise FM, despertou nossa curiosidade – especialmente da minha mulher – em conhecer um restaurante belga no centro histórico do Rio. A localização do restaurante está fora do perímetro que seria considerado ideal para um empreendimento deste tipo. Não é um restaurante que serve feijão com arroz ou feijoada às sextas-feiras. “Como assim, não tem feijoada?”, indagavam os potenciais clientes ao chef Alexandre Binard logo que o restaurante (Brasserie Belga) abriu as portas. Binard veio para o Brasil por causa de um amor. Conheceu u

Forest Gump (Israel)

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Forest Gump (Israel) Por George Vidor Estou passando por um momento Forest Gump, aquele famoso personagem do ator Tom Hanks, que por casualidade estava em lugares de acontecimentos que ele testemunhava sem ter a menor ideia do que se passava de fato. Estou em Israel, numa viagem cultural e de lazer. Há anos tenho curiosidade de vir aqui, por razões diversas. Sem grande planejamento prévio, cheguei aqui. Estava visitando as colinas do Golan, na fronteira com a Síria, exatamente no dia em que o presidente Donald Trump anunciou que os Estados Unidos iriam reconhecer o controle de Israel sobre aquele território. Trata-se de uma mudança de status, significativa. O Golan é considerado pelas Nações Unidas, e por muitos países como território ocupado. Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, o exército israelense atacou e venceu as posições sírias na colina.  Estrategicamente era uma questão crucial. No Golan estão a nascente do Rio Jordão e de outras fontes de doce água que nutrem o M

Pingo nos is

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Nossos vizinhos (George Vidor)                                Quando pensamos nesse universo imenso, do qual somos uma partícula microscópica, todas as polêmicas que nos têm envolvido parecem ridículas. E realmente o são. Para que se preocupar com o besteirol que se espalha pelas redes sociais ou mesmo pela grande mídia? É uma discussão que agora não levará a nada. A alma humana é indecifrável. Ou possivelmente serão necessários mais dois mil anos para decifrá-la, se é que a humanidade sobreviverá até lá. E se é que existe alma mesmo, ou tudo não passa de imaginação da enigmática consciência, que só pode ser criação divina (com qual propósito?). Se os grandes pensadores não nos deram respostas satisfatórias, deixando ainda mais dúvidas sobre o tabuleiro, e nem os textos sagrados são unânimes quanto a isso, não seremos nós simples mortais que vamos encontrar as saídas. Melhor então a fazer é refletir sobre nossos problemas comezinhos, como, por exemplo, a anemia da econom

Pingo nos is

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O Teto salvador (George Vidor)    Aprovada pelo Congresso Nacional durante o governo Temer, uma emenda constitucional estabeleceu um teto de gastos para o setor público federal. Pelos próximos dezenove anos, de acordo com a Constituição, os gastos federais não poderão ter crescimento real. Ou seja, no máximo o teto acompanhará a inflação. Dentro de nove anos, a Constituição admite uma revisão do teto. Portanto, o ajuste fiscal passou a ter respaldo constitucional. No primeiro ano de mandato, o governo Bolsonaro terá uma folga, porque as despesas federais em 2018 ficaram abaixo do teto. E o teto de 2019 foi corrigido com base na inflação estimada para o exercício anterior (2018). Com o teto, o controle de gastos se tornará mais rigoroso, pois algumas despesas crescem autonomamente (previdência, por exemplo). Assim, alguns gastos terão de ser necessariamente cortados e outros permanecerão como tal. Para que esse controle seja efetivamente possível, os governos precisam