A subida dos juros
A subida dos juros
Comentário públicado no O Globo a Mais de 16/4/2013
As taxas básicas de juros vão subir, talvez já na reunião de 17/4/2013
do Comitê de Política Monetária (Copom) ou, o mais provável, na que
ocorrer no fim de maio. O pior é que essa elevação talvez não consiga
fazer com que a inflação brasileira recue de patamar. Octávio de
Barros, chefe do departamento econômico do Bradesco, que tem sido um
dos mais sensatos analistas sobre os rumos da economia brasileira,
lembrou muito bem, em recente comentário, que em apenas quatro dos 13
anos que vigora o regime de metas o IPCA ficou abaixo de 5,5%. Ou
seja, nem quando a taxa de juros estava lá nas alturas o Banco Central
conseguiu atingir o centro da meta (4,5%). Barros chega a sugerir uma
espécie de Plano Real 2, com adoção de pequenas reformas que
contribuam para uma desindexação da economia brasileira.
Recentemente recebemos aqui no GLOBO a visita do presidente da
Helibras, Eduardo Marson, que estava no Rio para participar da feira
de armamentos e defesa LAAD. A indústria vem produzindo a todo vapor,
inclusive grandes helicópteros para uso militar e futuramente também
para uso comercial. O número de empregados em Itajubá quase
quadruplicou, com aumentos reais de salários quase todos os anos. Com
essa pressão de custos, os sócios majoritários franceses indagaram da
diretoria da companhia se os salários precisavam mesmo aumentar todos
os anos. Não foi fácil explicar que essa é a regra no Brasil, herança
do período terrível da inflação aguda. Os salários aumentam todo ano
porque também sobem as tarifas de serviços públicos (sob concessão ou
não), as anuidades escolares, os preços das passagens de ônibus, metrô
e trens, os impostos patrimoniais (IPTU, IPVA, etc.), os planos de
saúde, a tabela de contribuição à previdência oficial, e por aí vai.
Com toda essa indexação, cabe aos chamados preços livres o papel de
segurar a inflação. Muitos desses preços variam abaixo da média, mas
há momentos em que os mercados se ajustam, como tem acontecido com
alimentos e outros itens (especialmente serviços). Então, para que a
inflação caia e os preços despenquem é preciso que haja uma super
oferta dos bens e serviços com preços livres, ou que a demanda se
contraia fortemente. A super oferta às vezes depende de fatores
climáticos, no caso dos alimentos, ou de investimentos de longo prazo
em infraestrutura que encurtem a distância entre os centros de
produção e de consumo.
Não existe hoje na economia brasileira uma demanda que justique a
inflação na casa de 6,5%. A inflação chegou a esse ponto por causa da
própria inflação passada que é repassada aos preços futuros pelos
mecanismos de indexação. Solução prática para isso ninguém ainda
apresentou (razão de Octávio de Barros mencionar a necessidade do
Plano Real 2). Não será também com recessão que vamos conseguir
desatar esse nó, pois qualquer movimento de recuperação faz a inflação
ressuscitar.
Tudo indica que a inflação voltará para o patamar de 5,5%, com ou sem
alta de juros. Mas o Banco Central não vai querer continuar
arriscando, diante do bombardeio que tem recebido do mercado
financeiro e de muitos economistas respeitados.
do Comitê de Política Monetária (Copom) ou, o mais provável, na que
ocorrer no fim de maio. O pior é que essa elevação talvez não consiga
fazer com que a inflação brasileira recue de patamar. Octávio de
Barros, chefe do departamento econômico do Bradesco, que tem sido um
dos mais sensatos analistas sobre os rumos da economia brasileira,
lembrou muito bem, em recente comentário, que em apenas quatro dos 13
anos que vigora o regime de metas o IPCA ficou abaixo de 5,5%. Ou
seja, nem quando a taxa de juros estava lá nas alturas o Banco Central
conseguiu atingir o centro da meta (4,5%). Barros chega a sugerir uma
espécie de Plano Real 2, com adoção de pequenas reformas que
contribuam para uma desindexação da economia brasileira.
Recentemente recebemos aqui no GLOBO a visita do presidente da
Helibras, Eduardo Marson, que estava no Rio para participar da feira
de armamentos e defesa LAAD. A indústria vem produzindo a todo vapor,
inclusive grandes helicópteros para uso militar e futuramente também
para uso comercial. O número de empregados em Itajubá quase
quadruplicou, com aumentos reais de salários quase todos os anos. Com
essa pressão de custos, os sócios majoritários franceses indagaram da
diretoria da companhia se os salários precisavam mesmo aumentar todos
os anos. Não foi fácil explicar que essa é a regra no Brasil, herança
do período terrível da inflação aguda. Os salários aumentam todo ano
porque também sobem as tarifas de serviços públicos (sob concessão ou
não), as anuidades escolares, os preços das passagens de ônibus, metrô
e trens, os impostos patrimoniais (IPTU, IPVA, etc.), os planos de
saúde, a tabela de contribuição à previdência oficial, e por aí vai.
Com toda essa indexação, cabe aos chamados preços livres o papel de
segurar a inflação. Muitos desses preços variam abaixo da média, mas
há momentos em que os mercados se ajustam, como tem acontecido com
alimentos e outros itens (especialmente serviços). Então, para que a
inflação caia e os preços despenquem é preciso que haja uma super
oferta dos bens e serviços com preços livres, ou que a demanda se
contraia fortemente. A super oferta às vezes depende de fatores
climáticos, no caso dos alimentos, ou de investimentos de longo prazo
em infraestrutura que encurtem a distância entre os centros de
produção e de consumo.
Não existe hoje na economia brasileira uma demanda que justique a
inflação na casa de 6,5%. A inflação chegou a esse ponto por causa da
própria inflação passada que é repassada aos preços futuros pelos
mecanismos de indexação. Solução prática para isso ninguém ainda
apresentou (razão de Octávio de Barros mencionar a necessidade do
Plano Real 2). Não será também com recessão que vamos conseguir
desatar esse nó, pois qualquer movimento de recuperação faz a inflação
ressuscitar.
Tudo indica que a inflação voltará para o patamar de 5,5%, com ou sem
alta de juros. Mas o Banco Central não vai querer continuar
arriscando, diante do bombardeio que tem recebido do mercado
financeiro e de muitos economistas respeitados.
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