Ao menos na imaginação, vamos viajar

POR GEORGE VIDOR
Alô pessoal: ao menos na imaginação, vamos viajar Primeiro vou me apresentar: comecei no jornalismo aos 16 anos (estou com 50; faço 51 em setembro), no antigo Correio da Manhã. Em 1968, era aluno do Colégio Pedro II, e, com outros colegas, editava o jornal do grêmio, que, apesar de panfletário, tentava fugir das características dos jornalzinhos estudantis da época, procurando imitar a apresentação da imprensa de verdade. Possivelmente por essa diferença o Ação ganhou o concurso de jornalismo escolar promovido pelo Correio. Uma parte do prêmio era um estágio remunerado, e em 1969, depois do Ato Institucional número 5, com o Correio cada vez mais acuado pelo governo militar e enfraquecido financeiramente, lá fui para a redação (já sem o uniforme do colégio pois a agitação de 1968 e, principalmente o jornal fez com que perdesse a matrícula, com mais de 60 colegas, no Pedro II). No próprio Correio passei a flertar com o jornalismo econômico - fiz a reportagem sobre a primeira plataforma que a Petrobras comprou para explorar petróleo no mar - e nunca mais o larguei. Fui até estudar economia para entender mais o que diziam os economistas e, assim, poder executar melhor as minhas tarefas. Mas minha proposta para este blog não se restringe a temas econômicos. É claro que essa é a minha especialidade, e possivelmente os leitores esperam que trate de economia. No entanto, para não ser repetitivo em relação à coluna que escrevo às segundas-feiras no jornal (ou minha participação nos editoriais), pretendo aqui fazer comentários sobre outros assuntos do cotidiano. Quero compartilhar, por exemplo, minhas impressões de viagem e conversas que tenho por aí. Então vamos começar com uma recente e rápida viagem que fiz ao Norte da Inglaterra, há poucas semanas. Minha mulher foi à Escandinávia em viagem profissional e como, na volta, teria de fazer obrigatoriamente escala em Londres ou Frankfurt, aproveitei milhas acumuladas para encontrar com ela e tirar uns cinco dias de férias (já que tínhamos um feríado no meio da semana aqui no Brasil). Para encurtar a história, saímos de Londres, de carro, em direção a Leeds, percorrendo uns 400 quilômetros da A1. Dirigir na mão inglesa exige mais atenção ( as ultrapassagens são pela direita, nos cruzamentos é preciso sempre olhar também para a direita, e nas rotundas a preferência é sempre de quem vem; os pontos cegos nos espelhos retrovisores são um pouco diferentes; por conta de tudo isso, para um brasileiro é preferível não dirigir à noite). Londres tem um anel rodoviário, mas para chegar até ele é preciso estudar bem o roteiro pois o trânsito na cidade não é fácil, com ruas estreitas, carros estacionados ocupando quase metade da rua, e ainda a mão trocada...). No nosso roteiro pela A1 escolhemos duas paradas, as cidades históricas de Stamford e de Lincoln, que de fato são umas graças. Almoçamos em Stamford, na cadeia de restaurantes italianos chamada Ask, pois fica aberta durante toda a tarde (a maioria dos restaurantes no interior da Inglaterra pára de atender a partir das duas; o comércio fecha inevitavelmente às cinco; portanto, se vc quiser tomar um chá das cinco, chegue impreterivelmente às quatro...). Lincoln tem uma belíssima catedral anglicana e um castelo medieval, onde, durante o verão, são apresentadas peças de Shakespeare ao ar livre. De Lincoln fui a Leeds, e como não segui à risca as orientações de meus anfitrões, acabei me perdendo um pouco. A compra de um mapa da cidade em um posto e as explicações de um jovem paquistanês (falando um inglês de difícil compreensão para mim, que entendo mal qualquer língua que não o português do Brasil), e mais o auxílio do celular - que agora funciona mil maravilhas na Europa - fez com que chegássemos sãos e salvos em nosso destino e a tempo de jantar em um excelente restaurante de frutos do mar na belíssima e simpática Harrogate. Come-se bem hoje na Inglaterra - acreditem se quiserem, mas o melhor creme brulée que comi na vida foi em Beaulieu, na New Forest, em um pub (quando há dois anos fiz uma tour de bicicleta por lá; mas isso é outra história). É preciso fazer reserva com muita antecedência nesse restaurante de Harrogate, porque além de bom é relativamente barato (em libras, já que em reais tudo ficou caro na Europa). O jantar foi tão agradável que nossos anfitriões insistiram em nos acompanhar no roteiro que pretendíamos fazer no dia seguinte: visita a Fountains Abbey (ruínas, já que o rei Henrique VIII mandou destruir todos os monastérios quando brigou com a igreja; essas abadias de fato eram os centros de conhecimento e de administração dos recursos locais; mas isso também é outra história), a Durham, e a York, lugares marcados com a cor verde (nota máxima) no guia Michelin. O programa foi ambicioso demais e acabamos explorando pouco York, que é a segunda cidade mais visitada da Inglaterra. Desistimos então de ir ao Lake District, o que acabou sendo uma boa idéia pois pudemos conhecer melhor o Yorkshire Dales, uma região de campo, inserida dentro de um parque nacional, com pequenas cidades simpáticas. Fiquei um tanto surpreso de o Michelin não indicar essa região, que é muito agradável e tem grande valor histórico. Perdemos o chá das cinco em Hawes (fizemos uma aposta sobre quem conseguiriria pronunciar o nome dessa cidade como os ingleses), mas valeu a viagem. Na volta passamos pelas ruínas do castelo em que a rainha Mary Stuart, da Escócia, permaneceu por 19 anos confinada, a mando da rainha Elizabeth (I). Dizem os historiadores que Mary Stuart só podia sair de seus aposentos duas horas por dia, para tomar sol e fazer crochet (ou tricot?). Chegada a hora de retornar voltamos em direção a Londres pela autoestrada M1, passando por Worcester. Ficamos na nossa última noite em um bed&breakfast; na Cotswolds (uma casa do século XVIII de um senhor que depois de ficar viúvo resolveu transformá-la em B&B;), região que rivaliza em beleza com o Yorkshire. Jantamos em Stow-on-the-Wold e no dia seguinte passeamos pela região. No caminho para o aeroporto de Heathrow, paramos no Blenheim Palace (verde no Michelin), onde Winston Churchill nasceu. O palácio, ainda pertence à família ( o atual duque, sobrinho de Churchill, mora lá de dezembro a março), e é aberto a visitação. Fica bem perto da cidade de Woodstock. De lá, direito ao aeroporto para entregar o carro com calma e embarcar sem stress. Contornamos Oxford no caminho, pois já a conhecíamos de uma outra viagem, e não haveria tempo hábil para uma nova visita. Espero que tenham gostado das dicas. Ao menos na imaginação é possível acompanhar a viagem que fizemos. Para não fugir à rotina, uma pequena observação sobre a situação econômica da Inglaterra: achei o país ainda mais próspero do qur há dois anos. Não há sinal visível de desemprego ou pobreza, o que explica porque os ingleses continuam agarrados à libra e temerosos em aderir ao euro. Não sei por quanto tempo eles conseguirão se manter à parte da moeda única européia. Enquanto a Inglaterra for ponto de apoio para o dólar na Europa talvez eles consigam ir levando.

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