Cãmbio tem seu próprio antídoto

Cãmbio tem seu próprio antídoto

POR GEORGE VIDOR
O Brasil acumulou no ano passado um déficit preocupante nas chamadas 
transações correntes (comércio e serviços) com o exterior. Preocupante 
pelo valor absoluto muito alto (cerca de US$ 90 bilhões) e 
especialmente por ter ido muito além, como proporção do Produto Interno 
Bruto, da média histórica do país (3,7%, do PIB, comparados a 2,1%). 
O déficit é explicado por várias razões. Nos últimos anos o Brasil 
recebeu um volume considerável de investimentos diretos estrangeiros, 
que estão colhendo agora somas expressivas de lucros e dividendos. Nos 
demais itens da conta de serviços, o desequilíbrio se acentuou no 
turismo (antes, dois milhões de brasileiros viajavam anualmente ao 
exterior, número que saltou para 12 milhões), nos fretes marítimos, no 
aluguel de equipamentos, etc. A balança comercial também passou a ser 
deficitária desde 2013. 
O desequilíbrio continua a ser financiado em grande parte pela 
renovação de investimentos estrangeiros diretos e por empréstimos 
contraídos no exterior por empresas e bancos brasileiros. 
Como não é uma situação sustentável no médio prazo, o antídoto está no 
próprio regime de câmbio flutuante. Se essa situação de desequilíbrio 
é em parte explicada pela valorização do real por um tempo excessivo 
(exatamente porque a entrada de dólares, pela via financeira, superou 
a saída por grande diferença), talvez o rombo comece a encolher pela 
depreciação que a moeda brasileira sofreu nos últimos meses. 
É uma recuperação que ainda não aparece nas estatísticas semanais da 
balança comercial mas que nos próximos meses se tornará mais visível.
Coluna originalmente veiculada na edição de 24/2/2015 da revista vespertina digital O Globo a Mais

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