Festival Vale do Café, edição 2012 (novas visitas)

Festival Vale do Café, edição 2012 (novas visitas)

POR GEORGE VIDOR
Coluna veiculada na edição vespertina digital para assinantes do Globo a Mais, em 23/7/2023, disponível para assinantes em tablets:
Na semana de visita do papa Francisco e da Jornada Mundial da 
> Juventude Católica, optei por escrever sobre um tema mais ameno, 
> embora tenha um vínculo muito forte com nossa história econômica. 
> Desde a edição do ano passado passei a acompanhar mais de perto o 
> Festival do Vale do café, que se realiza desde 2003, o que para mim 
> tem sido uma grande satisfação não só pela qualidade das apresentações 
> musicais mas também pela oportunidade de visitar fazendas do século 
> XIX. 
> O festival coincide com um movimento de revitalização dessas fazendas. 
> Poucas delas produzem ainda café. A maioria se dedica à criação de 
> gado leiteiro ou de corte, cavalos ou simplesmente serve para o lazer 
> das famílias dos proprietários. No entanto, a manutenção das fazendas 
> históricas exige é cara e precisa ser permanente. O turismo e eventos 
> como o festival, promovido durante duas semanas no mês de julho, 
> tendem a se transformar em fontes importantes de receita, capazes de 
> financiar restaurações e preservação desse fabuloso patrimônio 
> histórico. Por isso, merecem mais apoio das autoridades do setor. 
> O auge do ciclo do café no Vale do Paraíba foi entre as décadas de 
> 1850 e 1880. Durante essa fase, os “barões” passaram a investir na 
> ampliação das sedes, dotando-as de mobiliário sofisticado, obras de 
> arte. Recebiam para almoços, jantares e festas como se estivessem na 
> Corte. 
> Com a abolição, a decadência foi muito rápida, pois tudo se baseava, 
> infelizmente, na mão de obra escrava. Vassouras, que chegou a 
> concentrar 70% da produção de café, não chegou a criar um mercado 
> consumidor que pudesse sobreviver autonomamente quando os escravos 
> foram libertados, diferentemente do que já acontecia em São Paulo, com 
> a contratação de imigrantes.. 
> E essa decadência se refletiu nas sedes de fazenda e nos palacetes de 
> Vassouras. Vários ficaram em ruínas, atoladas em dívidas. Ao longo do 
> século XX, com a terra desmatada e exaurida pelo café, as fazendas 
> foram trocando de proprietários, mas somente por volta de 1980 – ou 
> seja, muito recentemente - passaram às mãos de novas gerações ou de 
> donos dispostos a restaurá-las, com cacife próprio ou com ajuda de 
> outras fontes de financiamento. E o resultado já é bem visível em toda 
> a região. Anos atrás visitei a Fazenda União, em Rio das Flores. Este 
> ano retornei à São Fernando (mais uma vez, muito bem recebido pela 
> família de Ronaldo César Coelho) e conheci São Luiz da Boa Sorte, 
> uma grata surpresa, sobre a qual me estenderei um pouco mais. 
> Junção de duas fazendas (São Luiz e Boa Sorte), pertenceram 
> inicialmente a uma família poderosa, Gomes Ribeiro de Avellar. Os atuais 
> proprietários a adquiriram em 2007 num leilão de um banco que a 
> assumira por conta de dívidas do proprietário anterior. A fazenda, com 
> 90 alqueires, estava depredada. Liliana Rodriguez (colega jornalista) 
> e Nestor Rocha não se intimidaram diante do desafio. Conquistaram 
> patrocinadores para restaurar a capela, a fachada e o teto. Até o dia 
> 28 de julho eles estão promovendo lá uma espécie de “Casa Cor” rural 
> com mobiliário do século XIX, reunindo peças da própria casa e outras 
> cedidas por antiquários do Rio e de São Paulo. Muitas das peças 
> expostas foram a leilão esta semana. 
> A fazenda chegou a ser a maior produtora de leite da região. Nestor 
> agora prefere investir na engorda de gado, especialmente para outros 
> pecuaristas. Além da sede e das demais construções, há um esforço 
> considerável de reflorestamento (foram plantadas mil mudas de pau 
> brasil); 
> Liliana conduz simultaneamente um projeto social que é motivo de 
> orgulho. Diariamente, grupos de 80 a 90 alunos das escolas 
> municipais, em dois turnos (um pela manhã e outra à tarde) visitam a 
> fazenda, passeando pelas instalações enquanto assistem a um pequena 
> encenação entre um “barão” e um “escravo”. O projeto é financiado com 
> recursos da Lei Rouanet e na atual fase deverá atender a 7.000 alunos. 

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> É a melhor aula de história que todos eles podem ter. A maioria nunca 
> havia entrado em uma fazenda histórica. 
> Neste próximo fim de semana a fazenda ainda estará aberta para 
> visitação, por causa da exposição do mobiliário, batizada de “Casa 
> Real”, numa referência ao Conde d'Eu, marido da Princesa Isabel, que 
> em 1876 ficou hospedado, lá, enquanto percorria o vale. Um restaurante 
> está provisoriamente funcionando na antiga tulha de café, com cardápio 
> único e preço razoável. O melhor caminho é seguir pela BR 040 e 
> entrar em Três Rios, na 365. Se o tráfego estiver fluindo em todo o 
> percurso, leva-se cerca de duas horas e meia até lá. 
> Quando comecei no jornalismo, o café ainda representava mais da metade 
> das exportações brasileiras. Por isso o tema continua me fascinando. 
> Durante as apresentações do festival (para saber mais, acesse 
> www.festivaldovaledocafe.com.br), há sempre produtores, não 
> necessariamente da região, oferecendo degustação de café. Este ano os 
> convidados são produtores de Varre Sai (noroeste fluminense) e da 
> Serra do Caparaó, no Espírito Santo.

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