Japão: sextas impressões

Japão: sextas impressões

POR GEORGE VIDOR
O Japão do imaginário ocidental praticamente não existe mais. Tóquio, por exemplo, é uma cidade ultra-moderna, e mesmo nos bairros mais afastados, onde nao há edificios altos, as construções nada lembram as antigas casas de madeira. São coladas uma nas outras, em ruas estreitas e os espaços dos terraços quase sempre são aproveitados. Por isso Kioto se destaca, já que a cidade moderna se mescla com construções baixas. muitas das quais de madeira, com arquitetura antiga, especialmente o telhado desenhado na maneira que está no nosso imaginário. E por toda parte há templos budistas e xintoistas. Meu programa de visitas em Kioto começou pelo Castelo Nijo, a fortaleza onde viveram os Tokigawa, shoguns que efetivamente mandaram e desmandaram no Japão do final do seculo XVI até 1868, quando o poder foi recuperado pelo imperador (dinastia Meiji). O castelo é uma fortaleza com dois palácios principais, um para as audiências e outro para a residência da familia Tokigawa. No corredor do palácio das audiencias, o assoalho de madeira foi feito de forma a se ter a impressão de ouvir pássaros. Essa técnica foi usada também para alertar a guarda do shogun sobre a chegada de alguém não anunciado previamente. Kioto era na época capital do Japão, mas os Tokigawa tinham sua base em Edo, cidade para a qual a dinastia Meiji se transferiu exatamente porque ela havia crescido de importância política, econômica e militar - pelo menos metade da população no seculo XIX era constitíida de samurais. Consta que Edo, em 1700, já era a cidade mais populosa do mundo. Edo virou Tóquio, que quer dizer a capital do leste - Kioto quer dizer a capital do oeste; a cidade se chamava Koto, antes. Até hoje quem nasce em Tóquio é um Edoko (acho que se escreve assim). Depois do castelo Nijo, fui para o Templo Kinkaku, onde está um dos cartões postais da cidade de Kioto, o Pavilhão Dourado. Esse Pavilhão teve de ser reconstruído com todos os detalhes originais, após quase ter sido destruído pelo fogo. Nessa área há uma casa de chá, na qual se pode degustar o tipo de chá em pó (matcha) e o doce (wagachi) servidos em uma famosa cerimônia, que tem um cunho meio religioso, pois no ritual sao feitos pedidos. Do Pavilhão Dourado fui ao Kiyomizu-dera, possivelmente o templo mais importante da cidade, que fica na subida de uma montanha. Junto ao templo principal há um deck de madeira, montado sobre estacas que nao levaram um prego ou um parafuso sequer. É tão famoso esse lugar que os japoneses, quando cometem alguma ousadia ou precisam fazer algo que exija coragem usam a expressão"é como se eu tivesse me atirando do palco do templo Kiyomizu". Ao lado há um templo xintoista conhecido por abrigar uma especie de pedra do amor. Noivos passam por ali para pedirem um casamento feliz, e de de fato nos painéis do templo estao fixadas muitas mensagens de agradecimento, inclusive do exterior. A proposito no Valentine s Day aqui. As moças dão chocolate preto para namorados ou amigos. No dia 14 de marco, devem receber como retribuição chocolate branco ou algum presente (perfume, etc.). Nas ruas de acesso ao templo há muitas lojas que vendem principalmente a cerâmica de Kioto e souvenires. Para nós , brasileiros, só dá mesmo para comprar umas coisinhas de lembrança, porque quase nada no Japao custa menos do que um dolar. Ao fim da tarde fomos comer um Yudofu, que literamente significa tofu (o queijo de soja) na água quente. Somente esse prato é servido no restaurante (a culinária de Kioto é bastante admirada em todo o país; esse tipo de cozinha é chamado kyo-ryori). Pequenas guanições acompanham o tofu, que é comido com molho à base de shoyu, salsinha e primenta suave. E mais arroz branco, com nabo japonês, sempre. Parti depois para Nara, cidade com as mesmas características de Kioto, e à noite voltei ao batente de entrevistas em Tóquio, encerrando o breve tempo dedicado ao turismo em meu programa.

Comentários