Juros, uma barreira cultural e psicológica

Juros, uma barreira cultural e psicológica

POR GEORGE VIDOR
As elevadíssimas taxas de juros são uma das maiores aberrações da economia brasileira, mas a correção dessa anomalia levará tempo, porque não depende apenas de bons fundamentos macroeconômicos. A maior barreira para redução dos juros talvez seja a psicológica e cultural. Os agentes econômicos encontraram formas de conviver com essa aberração, como se tivessem criado alguns anticorpus para conseguir levar os negócios adiante. E os consumidores idem. A autoridade monetária, por sua vez, se habituou a usar a taxa de juros como único instrumento para atingir seus objetivos e não tem experiência de lidar com uma economia com juros relativamente baixos. Por isso, está se sentindo agora como se pisasse em ovos. Os economistas também não conseguem avaliar os efeitos benignos de uma redução mais substancial dos juros sobre o conjunto da economia, e acabam se concentrando apenas no que eles enxergam como possíveis ameaças.
Então o Brasil somente conseguirá vencer essas bareriras na base da tentativa e erro. A autoridade dá um passo, o mercado avalia, e assim as coisas andam. Não é preciso se fazer grande esforço para se constatar como os juros brasileiros continuam altos. Os índices de inflação vêm caminhando próximos do piso da meta, o prêmio de risco nos empréstimos para o Brasil está descendo ladeira abaixo (o Tesouro emitiu títulos de 30 anos pagando cerca de 6,5% ao ano em dólar!), o câmbio se mantém valorizado - até perigosamente.
No entanto, a autoridade prefere errar por conservadorismo do que ousar. Um corte de 0,25 ponto percentual nas taxas de juros básicas agradaria o mercado, como de fato ocorreu ontem (24/1/07), e o Banco Central  pôde manter a imagem de durão.
O corte deveria ter sido de 0,5 ponto percentual, mas a decisão do Copom não foi desanimadora porque ficou claro para todos que a redução dos juros continuará. Melhor do que nada. E vamos em frente na política de tentativa e erro, pois de repente a barreira cultural-psicológica será quebrada, assim como aconteceu com várias outras (a superinflação, o enquadramento das contas públicas, a privatização, etc). 

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