Nas mãos de São Pedro
Nas mãos de São Pedro
Coluna veiculada em 18/3/2014 na revista digital vespertina O Globo a Mais, voltada para assinantes que a leem em tablets e smartphones:
"O Brasil se tornou muito dependente dos humores de São Pedro para
geração de energia elétrica. Como não são mais construídas
hidrelétricas com reservatórios que acumulam água de um ano para
outro, e a matriz continua sendo essencialmente hídrica, a oferta de
energia depende de uma boa vazão dos rios. O que, por sua vez, depende
de um bom volume de chuvas.
Este ano tivemos poucas chuvas no Sudeste, região que ainda concentra
a maior parte dos reservatórios remanescentes. A vazão dos rios
diminui na região que mais consome eletricidade do país.
Sobra energia no Norte (lá, as chuvas estão até abundantes demais),
mas há um limite para transferência desse excedente, por causa da
capacidade das linhas de transmissão que interligam o sistema
elétrico.
A único opção tem sido acionar as usinas térmicas emergenciais, que
usam combustíveis caros. A energia gerada nas térmicas emergenciais
não está amarrada a contratos de longo prazo. Seus preços são
definidos então por regras que balizam o chamado mercado livre. Pelo
modelo matemático que define o cálculo desses preços, a energia vem
se mantendo na cotação limite.
Se há uma situação de escassez e os preços subiram, as tarifas teriam
de ser ajustadas para o consumidor. Do jeito que está, a companhia
distribuidora paga mais caro pela eletricidade, mas não pode
transferir esse custo. Isso ocorrerá a partir de 2015. Deveria ter
começado em 2014, porém o governo confiou na boa vontade de São Pedro
e para não se arriscar em ano de eleições gerais jogou a bola para a
frente.
Mas a conta está ficando cara demais. O Tesouro não tem tanto dinheiro
para bancar o rombo.
Antes que a bomba financeira explodisse, o governo aprovou algumas
medidas paliativas na semana passada. Em abril haverá um leilão para
que as distribuidoras contratem energia a preços mais baixos,
negociando inclusive contratos de longo prazo (cinco a dez anos) com
usinas térmicas, que, assim, deixarão de ser emergenciais e se
tornarão permanente. Mesmo que volte a chover muito, elas terão a
garantia de suprimento mínimo, a preços pré-estabelecidos.
Parte do rombo vai se coberto por um empréstimo. O custo desse
empréstimo terá de ser transferido para os clientes cativos
(residenciais e empresas que negociaram contratos de fornecimento de
longo prazo), porém não de uma só vez.
O governo nos livrou de um tarifaço em 2014, mas na verdade só adiou
para os próximos anos. A eletricidade ficará inevitavelmente mais
cara, mesmo com chuvas abundantes em 2015. Se elas vierem, podem
amenizar o ajuste. Se São Pedro continuar de mau humor, salve-se quem
puder. "
geração de energia elétrica. Como não são mais construídas
hidrelétricas com reservatórios que acumulam água de um ano para
outro, e a matriz continua sendo essencialmente hídrica, a oferta de
energia depende de uma boa vazão dos rios. O que, por sua vez, depende
de um bom volume de chuvas.
Este ano tivemos poucas chuvas no Sudeste, região que ainda concentra
a maior parte dos reservatórios remanescentes. A vazão dos rios
diminui na região que mais consome eletricidade do país.
Sobra energia no Norte (lá, as chuvas estão até abundantes demais),
mas há um limite para transferência desse excedente, por causa da
capacidade das linhas de transmissão que interligam o sistema
elétrico.
A único opção tem sido acionar as usinas térmicas emergenciais, que
usam combustíveis caros. A energia gerada nas térmicas emergenciais
não está amarrada a contratos de longo prazo. Seus preços são
definidos então por regras que balizam o chamado mercado livre. Pelo
modelo matemático que define o cálculo desses preços, a energia vem
se mantendo na cotação limite.
Se há uma situação de escassez e os preços subiram, as tarifas teriam
de ser ajustadas para o consumidor. Do jeito que está, a companhia
distribuidora paga mais caro pela eletricidade, mas não pode
transferir esse custo. Isso ocorrerá a partir de 2015. Deveria ter
começado em 2014, porém o governo confiou na boa vontade de São Pedro
e para não se arriscar em ano de eleições gerais jogou a bola para a
frente.
Mas a conta está ficando cara demais. O Tesouro não tem tanto dinheiro
para bancar o rombo.
Antes que a bomba financeira explodisse, o governo aprovou algumas
medidas paliativas na semana passada. Em abril haverá um leilão para
que as distribuidoras contratem energia a preços mais baixos,
negociando inclusive contratos de longo prazo (cinco a dez anos) com
usinas térmicas, que, assim, deixarão de ser emergenciais e se
tornarão permanente. Mesmo que volte a chover muito, elas terão a
garantia de suprimento mínimo, a preços pré-estabelecidos.
Parte do rombo vai se coberto por um empréstimo. O custo desse
empréstimo terá de ser transferido para os clientes cativos
(residenciais e empresas que negociaram contratos de fornecimento de
longo prazo), porém não de uma só vez.
O governo nos livrou de um tarifaço em 2014, mas na verdade só adiou
para os próximos anos. A eletricidade ficará inevitavelmente mais
cara, mesmo com chuvas abundantes em 2015. Se elas vierem, podem
amenizar o ajuste. Se São Pedro continuar de mau humor, salve-se quem
puder. "
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