O Brasil holandês em Recife
O Brasil holandês em Recife
Este ano estive duas vezes em (no) Recife, ambas viagens a trabalho, muito rápidas, mas na última - agora em novembro - tive a satisfação de conhecer o Instituto Ricardo Brennand. Inaugurado em 2002, o Instituto fica próximo ao campus principal da Universidade Federal de Pernambuco, a uns 15 quilômetros do centro, e está aberto diariamente à visitação (a entrada custa R$ 2,00), em horário comercial.
O industrial Ricardo Brennand, primo do famoso escultor Francisco Brennand, construiu o Instituto - a construção em si já é motivo de curiosidade, por suas características, que se assemelham às de uma fortaleza - para expor a sua valiosa e interessante coleção de obras de arte (logo na entrada tem uma escultura de Auguste Rodin...). As esculturas clássicas estão distribuídas pelos jardins e corredores, e o ponto alto sem dúvida é a pinoteca, que reúne obras originais de Frans Post, pintor que retratou o Brasil holandês, no curto período de Maurício de Nassau, em meados do século XVII. Das 19 telas a óleo originais, que Nassau cedeu (os nobres não vendiam obras de arte; ou eles as confiscavam em operações militares ou as"cediam" em troca de uma"módica" quantia) ao rei Luiz XIV, da França, restaram apenas 7 depois da Revolução de 1789.
Além das 19 telas encomendadas por Nassau,o artista fez alguns trabalhos a partir dos desenhos e esboços dessas telas. E parte dessas obras que retrataram esse período da nossa História está hoje em Recife. Foi o pouco que sobrou do Brasil holandês, além dos fortes, que sofreram muitas intervenções arquitetônicas depois que os portugueses os retomaram dos portugueses. O que ainda restava do palácio de Maurício de Nassau ruiu no começo do século XIX: no local onde se supõe que ficavam seus célebres jardins está a atual sede do governo pernambucano (Campo das Princesas). A outra casa construída por Nassau ficaria no hoje bairro da Boa Vista, próximo do centro, mas segundo o historiador Evaldo Cabral de Melo a localização exata da propriedade continua sendo uma incógnita. Nassau também construiu uma ponte sobre o Rio Capiberibe, cujas extremidades resistiram por mais de dois séculos.
Assim, das construções daquela época apenas as ruínas da primeira sinagoga das Américas foram encontradas por arqueólogos, e agora Estima-se que em certo momento até seis mil judeus tenham vivido no Brasil holandês (muitos judeus da Península Ibérica que não quiserem se converter à força ao cristianismo migraram para Amsterdã, pois a então Holanda, onde já prevalecia o protestantismo, admitia alguma liberdade religiosa; mesmo assim, os judeus sofriam restrições: não podiam, por exemplo, abrir lojas...). Quando os holandeses capitularam no Brasil, esses judeus, grande parte de origem ibérica, foram parar em Nova York. Era pelo menos o que dizia a lenda, mas os pesquisadores têm encontrado documentação que tornam essa versão cada vez mais verdadeira.
Querem saber mais? Então visitem o Instituto Ricardo Brennand, que além de Frans Post, tem quadros de Rugendas, Debret, e ainda uma imensa coleção de armas brancas (só uma espada que pertenceu ao Rei Farouk, o último monarca do Egito, estaria avaliada em US$ 50 milhões).
Octogenário, Brennand continua no mundo dos negócios, agora investindo em pequenas centrais hidrelétricas, junto com Cornelius Brennand, nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Com as PCHs em funcionamento e mais as que se encontram em construção, o grupo terá em breve capacidade de gerar 300 megawatts. Os Brennand saíram do negócio do açúcar - que motivou a invasão holandesa no século XVII - mas se mantêm na indústria do vidro e da cerâmica.
A visita ao Instituto pode ser conjugada com uma incursão à oficina de trabalho do escultor Francisco Brennand, que fica próxima. E no embalo pode-se visitar também a casa onde viveu Gilberto Freyre no bairro de Apipucos.
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