Ouro Preto, nossa relíquia
Ouro Preto, nossa relíquia
Não ia a Ouro Preto há 25 anos. A antiga Vila Rica continua sendo uma relíquia do Brasil, agora até com suas áreas históricas mais bem conservadas do que na última vez que estive lá. No entanto, o mesmo não se pode dizer do seu entorno. A cidade cresceu muito, e como na maior parte urbana do país, de maneira quase desordenada. Em alguns pontos, essa ocupação chega a prejudicar o visual das áreas históricas e não será facil consertar isso, pois o município já agrega cerca de 60 mil pessoas e está muito perto da região metropolitana de Belo Horizonte. Mas vamos ao que Ouro Preto tem de melhor. Sem dúvida, as igrejas. Erguidas no século XVIII, as maiores igrejas foram construídas como se fossem fortalezas, capazes de resistir na época a tiros de canhão. O barroco está no seu interior, nos altares, capelas, oratórios, púlpitos, relicários, imagens (pinturas e esculturas). Aleijadinho deixou nelas sua marca genial, assim como mestre Ataíde. Os restos mortais de Aleijadinho estão na igreja de Nossa Senhora da Conceição - onde também há um pequeno museu. Já Ataíde foi enterrado em Mariana, que é oito anos mais antiga do que Ouro Preto, e foi a primeira capital das Minas Gerais. No circuito das igrejas, duas visitas são obrigatórias: a de Nossa Senhora do Pilar (a segunda com mais ornamentações em ouro no Brasil; a primeira é a de São Francisco, em Salvador) e a de São Francisco. Mas também, vale visitar a igreja de Nossa Senhora do Rosário, uma das poucas a ter arquitetura barroca. Como nem sempre está aberta para visitação, procure antes se informar sobre os horários, porque ela fica praticamente em um dos extremos do centro histórico e como Ouro Preto é uma cidade cheia de ladeiras... Mas o melhor hotel de Ouro Preto fica quase em frente, o que é uma boa pedida, pois nele está um dos bons restaurantes da cidade (Coq D'Or) e próximo do Piacere, também recomendado pelos guias de turismo. A igreja do Carmo, junto à Praça Tiradentes é outra que merece uma visita, principalmente por causa do Museu do Oratório. Lá podemos conhecer as diferenças dos antigos oratórios (os oratórios de alcova eram bem pequenos; os de salão, maiores). Alguns oratórios são arrendondados e se fecham e por isso são chamados de oratórios bala (como se fossem uma bala de canhão...). Há os oratórios de viagem, os de quarto de donzela, e os mais curiosos são os que eram carregados pelo esmoler, o pedinte. O comércio mais ativo de Ouro Preto é o de jóias e pedras preciosas. É preciso ter muita atenção para não se levar gato por lebre. Os tapetes tipo arraiolo geralmente têm bom preço e se os leitores aceitam uma sugestão rcomendo a senhora que tem uma pequena loja na mesma rua do restaurante Casa dos Contos (apesar do nome, este restaurante self service, de comida mineira tradicional, não fica junto à celebre casa que serviu de prisão para os inconfidentes, mas sim em uma ladeira junto à principal via de acesso à cidade, próximo à Praça Tiradentes). Onde se hospedar? A Pousada Mondego está no Roteiro de Charme e realmente é muito agradável. Fica no Largo do Coimbra, junto à ingreja de São Francisco. O único senão é uma feira ao ar livre, horrível, de artesanato em pedra sabão. Restaurantes? Além dos já citados, para almoço a recomendação é o Chafariz (rua São José) cujo proprietário é um mineiro muito simpático que pretende abrir um quiosque de comida mineira na Avenida Atlântica. Preço: R$ 25 por cabeça (com direito a aperitivo: a cachaça Gota de Minas, cuja produção hoje é quase toda exportada). Para jantar tem o Triumpho, com música ao vivo, ao lado da igreja N.S. do Rosário, ou o Café das Geraes, no meio da Rua Direita (ou Conde de Bobadela). É Imperdível uma visita à Chocaleteria Ouro Preto (rua Getúliio Vargas 66). O chocolate com especiarias é uma delícia. O chocolate com grãos de café, idem. E a loja em si é uma graça, com um belo visual para o Pico do Itacolomy (um dos cartões postais da cidade e do Estado) e para a igreja do Pilar. Visitando Ouro Preto não deixe de ir também a Mariana, cidade história com igrejas tão interessantes quanto as de Ouro Preto. A catedral de Mariana abriga um órgão alemão do século XVIII (só há quarenta deles em todo o mundo), onde há concertos um domingo por mês. O órgão foi um dos pedidos do bispo de Mariana à Coroa portuguesa e chegou lá por volta de 1750 (foi construído em Hamburgo no início do século XVIII e ficou em Lisboa por quase cinquenta anos). O órgão chegou a Mariana desmontado, apenas com um manual de instrução para remontagem. Não havia na época quem entendesse de órgão, mas mesmo assim o instrumento - muito complexo para a época - foi remontado perfeitamente. Depois dessa visita, fui convidado em janeiro para participar de um seminário promovida pela Sociedade Mineira de Engenharia (SME) e pude então mais uma vez visitar Ouro Preto e Mariana. Almoçamos na Casa do Ouvidor e foi ótimo. A foto abaixo é da Chocoleteria de Ouro Preto com suas simpáticas e atenciosas atendentes.
Voltei a Ouro Preto mais uma vez (primeiro fim de semana de julho de 2011) e as informações no texto acima continuam válidas. Além delas, gostaria de destacar visitas aos lavabos das sacristias das igrejas citadas (na de São Francisco está uma obra prima de Aleijadinho; na de Conceição, o lavabo foi construído pelo pai dele, e vale a pena comparar os dois estilos). O hotel Nossa Senhora do Rosário, reformado, ficou ainda melhor. Tanto as ocupações do entorno que descaracterizam a cidade, como a feira do Largo do Coimbra ,deverão ser reposicionadas, o que é uma notícia alentadora;
Dos restaurantes, além dos Bené da Flauta (hoje o melhor para jantar) , da Casa do Ouvidor e do Chafariz, recomendo também o Acaso 65. que fica bem próximo da igreja do Rosário. As instalações do restaurante ficam em uma antiga senzala o que o torna ainda mais interessante. Lá a especialidade é comida mineira, no sistema de self service.
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