Perdas maiores que as da corrupção

Perdas maiores que as da corrupção

POR GEORGE VIDOR
escândalo de corrupção revelado pela operação Lava Jato talvez não 
tenha precedente na história brasileira. O que aconteceu é abominável. 
Mas, do ponto de vista estritamente financeiro, o valor desviado (por 
enquanto o Ministério Público teria conseguido rastrear 
aproximadamente R$ 2 bilhões) perde relevância diante do estrago 
causado pela influência política sobre as decisões da Petrobras. 
A Petrobras lançou como prejuízo no terceiro trimestre mais de R$ 2 
bilhões referentes a duas refinarias que estão agora engavetadas, a do 
Maranhão e a do Ceará. Na primeira, a obra não passou da terraplenagem 
e mesmo assim o prejuízo na contabilidade da empresa foi de R$ 1,6 
bilhão. 
O foco da Petrobras havia se concentrada na área de exploração e 
produção, Buscou-se nesse período incorporar inovações tecnológicas 
nos equipamentos e sistemas utilizados para melhorar o custo benefício 
de cada projeto. 
Na área de abastecimento não havia esse tipo de referência quando a 
Petrobras passou a construir refinarias em série. O projeto da Abreu e 
Lima, em Suape, não respeitou qualquer critério de viabilidade 
econômica e financeira. O do Comperj passou a caminhar ao sabor dos 
ventos, inclusive reinventando a roda para produzir insumos 
petroquímicos a partir do petróleo pesado brasileira. Depois virou uma 
refinaria convencional, deixando-se para uma segunda etapa o braço 
petroquímico. Nessas idas e vindas o projeto só foi encarecendo. 
Já as refinarias premium do Maranhão e do Ceará foram pura alucinação, 
destinadas mais a atender ao xadrez político do que qualquer outra 
coisa. 
Toda essa loucura teve como pano de fundo o preço alto do petróleo. 
Com o barril acima de US$ 100 era possível financiar todo tipo de 
maluquice. 
Ainda que essa "bolha" especulativa que jogou o preço do óleo tão 
baixo possa se dissolver, a realidade do mercado de petróleo levará o 
preço para mais de US$ 50 o barril, porém para bem menos que US$ 70. 
Assim, o espaço para maluquices desapareceu. A Petrobras somente 
conseguirá sobreviver recuperando o status de empresa séria.
Coluna veiculada em 3/2/2015 na revista digital vespertina O Globo a Mais

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