Rejeitos voltam a ser minério de ferro comercial

Rejeitos voltam a ser minério de ferro comercial

POR GEORGE VIDOR
Há poucos dias participei no Inhotim, o famoso museu a céu aberto de 
arte contemporânea, em Brumadinho, Minas Gerais, do Forum das Águas, 
que reuniu prefeitos, secretários e gestores da bacia hidrográfica do 
Paraopeba. Anos atrás os municípios banhados pelo Paraopeba formaram 
um consórcio com o intuito de organizar a defesa civil nas situações 
críticas causadas por enchentes do rio. A questão hoje é diferente, 
pois a escassez de água se tornou mais preocupantes que as próprias 
enchentes. 
A economia do Paraopeba é dependente de duas atividades que consomem 
água: a mineração e a agropecuária . Além disso, as sedes dos 
municípios cresceram, concentrando núcleos urbanos bem populosos, que 
também consomem água, geram esgotos e resíduos sólidos em grandes 
volumes. 
A gestão dos recursos da bacia hidrográfica se tornou então uma 
questão vital para a região. 
Ainda em Brumadinho, durante o Forum, fui convidado para visitar um 
novo empreendimento, que justamente naquela semana havia entrado em 
funcionamento, e que poderá contribuir para o equacionamento, em 
futuro próximo, da equação da água no setor mineração, Trata-se da 
Green Metals, uma companhia controlada por fundos privados de famílias 
de investidores de Belo Horizonte.
 Os investidores acreditaram na tecnologia desenvolvida por Dener 
Siqueira e mais um professor da Universidade Federal de Minas Gerais 
(UFMG) para reaproveitamento dos rejeitos de minério de ferro. A 
novidade dessa tecnologia é que no processo de separação de elementos 
do rejeito não é mais usada água, mas sim uma combinação de peneiras, 
centrifugação, ímãs e GLP (também utilizado como gás de cozinha). O 
resultado final é um minério voltando a ter mais de 60% de teor de 
ferro, argila que serve de matéria-prima para indústrias de cerâmica e 
areia com 4% de ferro, que atraiu para lá uma fábrica de argamassas. 
100% de aproveitamento. 
Fomos recebido por Denner - que começou a vida profissional, ainda 
adolescente, trabalhando em uma mineradora de manganês, de sua família 
- empoeirado da cabeça dos pés pois com suas equipes estava calibrando 
equipamentos dentro do primeiro silo da Green Metals. Puro entusiasmo 
e satisfação, por ter dado partido à produção em escala industrial de 
um processo que teve início na sua tese de mestrado. 
A Green Metais adquiriu nove milhões de toneladas de rejeitos de uma 
mineradora local, a nove quilômetros de distância de suas instalações. 
Processará esse volume e mais o que for gerado pela mineradora. Ou 
seja, a mineração, daqui para frente não vai acumular montanhas de 
rejeito e nem precisará construir barragens caras, que sempre embutem 
algum risco ambiental pela possibilidade de rompimento. 
O rejeito na verdade é um minério empobrecido. Quando se retira dele a 
sílica e a argila, volta a ser minério de ferro com valor comercial. 
Por isso, a Green Metals já tem um contrato com a Vale para instalar 
uma nova unidade na região, mas não se restringirá à companhia,m pois 
a ideia e atender a outras mineradoras também. 
Ponto para Brumadinho, que além do Inhotim, deu um passo à frente para 
transformar a mineração do quadrilátero ferrífero em uma atividade 
mais sustentável. 

Coluna veiculada na edição de 16/12/2014 da revista digital vespertina O Globo a Mais

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