Rio das Flores, história viva

Rio das Flores, história viva

POR GEORGE VIDOR
O café chegou a responder por mais de 80% da renda nacional e os traços do que foi essa época ainda podem ser vistos em algumas fazendas do Vale do Paraíba. As mais conhecidas ficam nos municípios de Vassouras, Valença, Piraí mas sugiro uma visita a Rio das Flores, ainda no Estado do Rio de Janeiro, divisa com Minas Gerais. Talvez porque em Rio das Flores não tenha"florescido" depois do café nenhuma atividade econômica tão pujante, as marcas do passado estão mais visíveis. Participo de um grupo de profissionais de comunicação que se reúne uma vez por mês na região de Itaipava e em julho resolvemos fazer algo diferente. Por indicação de Alexandre Machado, que é colunista do Diário de Petrópolis, e ainda consegue nas horas vagas promover a cultura de Rio das Flores, fomos até lá. O acesso pode ser feito por Valença ou por uma estrada estadual (RJ-145) que acompanha o Rio Preto, divisor de Rio e Minas. Para se pegar essa estrada é preciso ir pela BR-040 (Rio-Juiz de Fora) e sair dela exatamente na divisa, passando por baixo do viaduto que cruza o Rio Paraibuna. De Petrópolis a Rio das Flores leva-se uma hora e meia, em velocidade normal. Ao longo da estrada, já no município de Rio das Flores, estão várias fazendas históricas. A Paraíso, que foi a mais exuberante de todas, é aberta à visitação para grupos. Como tínhamos pouco tempo, escolhemos para visitar a Fazenda União, a quinze minutos da cidade de Rio das Flores (Estrada do Abarramento; telefones 24.9845.7351: e 24.2453.4145, ou fazendauniao@yahoo,com.br). É possível se hospedar lá (diária de R$ 340 por casal), almoçar ou jantar. O casal que adquiriu a fazenda há 14 anos tem feito um trabalho de restauração magnífico, capaz de emocionar os visitantes (nem tudo está perdido neste país!). Ao se visitar cômodo por cômodo da fazenda, que é de 1836, fica-se sabendo um pouco do que foi a riqueza proporcionada pelo café, assim como a decadência da região, depois da abolição da escravatura. Uma vez por mês, ou sob prévia encomenda, o casal promove o"Jantar dos Baröes", com os empregados vestidos a caráter, e música ao vivo. Para uma visita pura e simples, a União cobra R$ 20 por pessoa, mas com direito a um café com bolinhos de primorosos. mas leve um dinheiro a mais porque lá funciona um antigo armazém, que vende artesanato e produtos da região (a linguiça de lombo é um espetáculo). Para comer em Rio das Flores, o pedido é o restaurante Escondidinho (tel: 24.2458.1037), da dona Rosa, que também tem uma pousada. A especialidade da casa é comida portuguesa, com excelente bacalhau. Comida farta e preços bem em conta, O restaurante só abre de quinta a domingo. No domingo, fica muito cheio, porque fregueses de cidades vizinhas também costumam freqüentá-lo. Além de centros de exposição e venda de artesanato, em Rio das Flores vale também visitar a Matriz de Santa Tereza D`Ávila, onde Santos-Dumont e a irmã foram batizados (o pai dele na época era administrador de uma fazenda de café). Na volta, é imperdível uma passada em São José das Três Ilhas. O acesso se faz por Três Ilhas, distrito de Rio das Flores, mas São José já fica em Minas, no município de Belmiro Braga. São nove quilômetros de estrada de terra e muita poeira. Mas chegando lá encontra-se o que pode vir a ser no futuro uma mini-Tiradentes: casas com fachada colonial e calámento em pé-de-moleque. A igreja de pedra começou a ser construída em 1858 para o casamento da filha do Barão de São José Del Rey. Só foi concluída depois da abolição da escravatura, e sem a mão-de-obra escrava não foram mais assentadas pedras em seu topo. A igreja está precisando de restauração e a vila, idem. Os quadros estão passando por uma restauração em Belo Horizonte, patrocinada pela Petrobras. Os moradores costumam chamar a vila de São José"dos Carrapatos". Realmente parece que eles ficam à espreita, aguardando a chegada dos visitantes. Então, antes de descer do carro, é bom passar nas pernas e na barriga algum repelente, tipo inseticida (são carrapatos mínimos, tipo micuins, difíceis de serem vistos; mas depois que mordem, dão uma coceira...). Existe um tentativa para se incluir Rio das Flores em roteiros de cidades históricas. Visitas ao Museu Imperial em Petrópolis poderiam sem conjugadas com visitas a esssas fazendas hist'roicas de Rio das Flores, município com apenas oito mil habitantes. Fachada da Fazenda União. A cada boa colheita, um adorno era acrescentado às portas e janelas. A sede da casa grande da fazenda foi repintada com suas cores originais, depois de uma pesquisa minuciosa feita por seus proprietários-restauradores. A incrível igreja de pedra de São José das Três Ilhas (1858), que começou a ser construída pelo Barão de São José Del Rey. Interior da igreja. Fotos gentilmente cedidas por Euler Matheus, fotógrafo oficial do nosso grupo.

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