Taxa de juros: remédio contra a inflação ou veneno?

Taxa de juros: remédio contra a inflação ou veneno?

POR GEORGE VIDOR
Coluna veiculada na edição de 8/4/2014 da revista digital vespertina O Globo a Mais, dirigida a assinantes que a leem em tablets:
Os mais recentes prognósticos das instituições financeiras e 
consultorias de economia em relação à inflação de 2014 apontam para um 
índice que se aproxima muito do teto da meta (6,5%). E isso juntamente 
com um a previsão de redução no ritmo de crescimento do Produto 
Interno Bruto (PIB). 
Um crítico mais ardiloso diria que o mercado financeiro (que, quase 
unanimemente prescrevia a alta como remédio contra a inflação) não 
acredita de fato que a taxa de juros seja capaz de segurar os preços 
no Brasil. 
A alta dos juros faria todo sentido, como terapia, se tivéssemos hoje 
uma forte depressão de demanda. Mas não é o que se contata, por 
exemplo, nas vendas de alimentos nas redes de supermercados ou nas 
feiras li8vres. O Consumo desses produtos se estagnou ou até se 
reduziu. 
Restrições de oferta? Chuvas em excesso no Norte e de menos no 
Centro-Sul realmente afetaram a produção de alimentos (chega a ser 
surpreendente que o clima não tenha provocado um desastre na 
agropecuária este ano), mas como o país não restrições para importar, 
não se pode dizer que haja uma situação capaz de jogar tanto os 
preços para cima. 
Inflação é um fenômeno só, mas faz diferença , para a escolha da 
terapia mais adequada, identificar as suas causas. A economia 
brasileira confunde os analistas pois caminha sem harmonia entre seus 
diferentes segmentos. Existem setores a mil por hora enquanto os 
outros parecem condenados a andar ao passo de tartaruga. No conjunto, 
a demanda global não se altera a um ponto que, em tese, não causaria 
tamanha inflação. No entanto, nessa falta de harmonia, tem-se um 
quadro em que, nas condições atuais do mercado de trabalho, há uma 
situação de pleno emprego. 
Em tal conjuntura, qual a dosagem necessária de juros para segurar a 
inflação? Provavelmente apenas uma overdose, para empurrar a economia 
à recessão. 
Remédio que mata o doente não é remédio, é veneno. 
Infelizmente, há pouca preocupação quanto ao diagnóstico da inflação 
(o próprio Banco Central, em seu relatório trimestral, não tem 
contribuído muito para se avançar nesse debate). Os estudos estão mais 
voltados para se tentar acertar o próximo passo do BC em relação ás 
taxas de juros do que propriamente em se encontrar uma solução viável 
para o problema.

Comentários