Um depoimento
Um depoimento
A redação do Globo fica perto nas proximidades da sede administrativa da Prefeitura do Rio e a uns trezentos metros da Avenida Presidente Vargas, passarela principal da manifestação que havia sido marcada para hoje (20/6/2013) no Rio, contra tudo, tal a variedade das palavras de ordem. Em face das medidas de segurança que a empresa precisou adotar, achei melhor me deslocar de táxi. O dia já começou tenso e ficou pior depois de conversar com o taxista, um senhor de meia idade que deve ter vindo para o Rio já adulto, pois mantém ainda um sotaque muito forte e característico de seu estado de origem, o queridíssimo Ceará (essas informações servem apenas para situar o contexto). Inevitavelmente a conversa caminhou para o clima em que o país está mergulhado. O senhor revelava enorme revolta contra os políticos ("roubam e não acontece nada") e até justificou os quebra-quebras ("só assim os políticos aprendem") e a ocupação de prédios públicos, quando passamos em frente ao Palácio de Guanabara e vimos que os cuidados para proteger a sede do governo estadual estavam reforçadas.
O dia foi então tenso, pois a região onde trabalhamos era a mais conflagrada, ao fim das manifestações. O Globo é vizinho do batalhão de choque da Polícia Militar...Diversas bombas de efeito moral estouraram junto ao nosso prédio, para evitar que os manifestantes tocassem fogo no Terreirão do Samba e provocassem ainda mais tumulto.
Quando tudo parecia sob controle, saímos a pé, do Globo até um estacionamento a cerca de trezentos metros, para pegar carona no carro de um colega. Já achando que estava fora da zona de perigo, ainda me arrisquei a parar no Mercado São José, em Laranjeiras, para encontrar com meu filho mais velho, que me pedira para provar a comida de um chef conhecido dele, que tem lá um bar simpático (o Botero). Era razoavelmente tarde e não imaginava que ainda haveria manifestantes dispostos a se dirigir ao Palácio Guanabara naquele horário. Ledo engano, De repente chegou a informação que um grupo faria exatamente isso e as portas do mercado foram fechadas (havia muita jovem lá dentro, creio que vários haviam participado da fase pacífica da manifestação ou ao menos se mostravam solidários com os manifestantes, pois as moças estavam com as caras pintadas de verde e amarelo). Diante do clima tenso achei que era hora de bater rapidamente em retirada, mas na hora de pagar a conta em grupo sempre levamos algum tempo. De repente um outro dono de bar, também trajado de chefe de cozinha, chegou avisando que a PM havia passado e soltado uma dessas bombas com gás lacrimogênio ou de pimenta (posso garantir que o efeito é quase insuportável).
Sou gato escaldado. Receio que a sucessão de manifestações acabem alimentando os atos de vandalismo, com uma reação imprevisível da parte das forças que representam o estado. Em 1967 e 1968, como estudante secundarista, os líderes universitários nos usavam como bucha de canhão (íamos uniformizados às passeatas e aos atos de protesto, imaginem, alvo fácil das forças que iriam reprimi-las). Tomara que essa história não se repita e não tenhamos mártires na atual onde de protestos.
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