Visita ao Porto Maravilha
Visita ao Porto Maravilha
Coluna veiculada em 30/9/2014 na revista vespertina digital O Globo a Mas, dirigida a assinantes que a leem em tablets e smartphones:
Visitei as obras dos túneis em construção na zona portuária. Andar por
lá, da Rua Barão de Teffé à Praça Mauá, foi uma experiência bem
agradável, porque já é visível o efeito da revitalização de toda essa
área. Na Barão de Teffé, uma parte da história da cidade "aflorou",
depois que as escavações encontraram o que restou dos antigos Cais do
Valongo e Cais da Imperatriz. O mar ia até onde fica hoje a rua
Sacadura Cabral. Havia ali então um braço de mar (uma ría, um valongo)
que foi aterrado para a construção do primeiro cais. Desde que a corte
portuguesa fugiu de Lisboa e se instalou na cidade, em 1808, a chegada
de escravos africanos na hoje Praça XV causava incômodo aos nobres
passantes. O comércio de seres humanos podia ocorrer, mas não à vista
de todos. Assim, a chegada dos africanos aprisionados passou para o
Valongo, um lugar mais escondido no Rio de então. Não há registros
precisos, mas se acredita que 500 mil escravos possam ter chegado por
ali.
No Segundo Reinado, o jovem imperador D. Pedro II deu outro destino
ao cais, construindo um novo, alguns metros acima, para receber sua
noiva, a princesa napolitana Teresa Cristina. Foi dessa forma que
surgiu o Cais da Imperatriz (ao vivo e em cores a futura imperatriz
não correspondia às pinturas sobre ela enviadas ao jovem
imperador; ao vê-la desembarcar, D. Pedro teria caído em prantos,
decepcionado). O prefeito Pereira Passos apagou traços dessa história
ao construir o aterro que possibilitou a construção da avenida
Rodrigues Alves e do atual porto do Rio. Mas manteve o marco de
comemoração da chegada da imperatriz, na praça Jornal do Commércio.
Esse sítio arqueológico é candidato junto à Unesco a se tornar
patrimônio da humanidade.
Logo em frente, está o primeiro grande armazém portuário do Rio,
construído pelo engenheiro André Rebouças, a pedido de D. Pedro II.
Negro, Rebouças descendia de ex-escravos. Ele e o irmão foram
brilhantes engenheiros (e não é à toa que batizam uma das principais obras
viárias do Rio, o túnel Rebouças).
O armazém com paredes de tijolinhos, interessantíssimas, virou o
galpão das artes. Ainda bem que a edificação foi restaurada. O
potencial da região fica evidenciado com a reaproveitamento de antigos
prédios, a exemplo do hotel Barão de Teffé, que poderá se transformar
em um residencial.
Acessamos as obras dos túneis pelo "shaft" que fica entre a rua
Sacadura Cabral e a Avenida Venezuela, depois de passarmos pela Pedra
do Sal e o Largo da Prainha (por sinal, a igreja da Prainha, cuja teto
desabara, está em fase final de restauração). É o ponto em que as duas
galerias do túnel da Via Expressa se aproximam da única galeria do
túnel do Binário. Para facilitar as obras, foi feito uma ligação entre
todas elas nesse trecho.
Na última sexta-feira, faltavam apenas 40 metros para a galeria única
do túnel do Binário estar totalmente aberta. A escavação vem
avançando 10 metros por semana, pois se trata de um trecho com
geologia mais delicada. Mas enquanto isso, prosseguem as obras de
pavimentação definitiva e das paredes laterais. É bem provável que o
túnel possa ser entregue ao tráfego na sequência dos festejos que vão
celebrar os 450 anos da cidade, em março do ano que vem.
As obras das duas galerias do túnel da Via Expressiva estão indo
rápido, pois encontraram uma geologia mais favorável. Estão escavados
os trechos entre o "shaft" de acesso na praça Barão de Ladário/Rua
Primeiro de Março, em frente ao I Distrito Naval, até depois do "shaft
da Avenida Venezuela. As obras também avançam pelo emboque e
desemboque do túnel na Avenida Rodrigues Alves, assim como na futura
interligação com o mergulhão da Praça XV Nesse caso, o túnel é feito
de cima para baixo. Estão sendo construídas as paredes diafragmas. A
seguir, será a vez da laje de cobertura para dar sustentação às
paredes. Faz-se uma primeira escavação embaixo e nova laje é
construída. E assim a escavação prosseguirão até o piso das galerias.
O túnel da Via Expressa está prometido para o início de 2016. Mas
antes disso ficará pronta a parte da superfície. Entre a Rua Pereira
Reis, no Santo Cristo, e a ligação com as avenidas Brasil e Rio de
Janeiro as obras deverão ser mais ligeiras.
De segunda a sábado os trabalhos são contínuos, em três turnos. Mas
domingo é dia de descanso e no fim de outubro/início de novembro
haverá visitas guiadas do público às galerias dos túneis. Acreditem, é
um bom programa. Meu filho mais velho me acompanhou na visita,
ciceroneada pelo presidente da Cdurp, Alberto Gomes Silva, e por uma
entusiasmada equipe da concessionária Porto Novo , que toca as obras e ficará
responsável pelo projeto Porto Maravilha até 2026. Em determinado
momento ele comentou comigo: "tenho a sensação de estar testemunhando
algo semelhante à construção do túnel Rebouças".
lá, da Rua Barão de Teffé à Praça Mauá, foi uma experiência bem
agradável, porque já é visível o efeito da revitalização de toda essa
área. Na Barão de Teffé, uma parte da história da cidade "aflorou",
depois que as escavações encontraram o que restou dos antigos Cais do
Valongo e Cais da Imperatriz. O mar ia até onde fica hoje a rua
Sacadura Cabral. Havia ali então um braço de mar (uma ría, um valongo)
que foi aterrado para a construção do primeiro cais. Desde que a corte
portuguesa fugiu de Lisboa e se instalou na cidade, em 1808, a chegada
de escravos africanos na hoje Praça XV causava incômodo aos nobres
passantes. O comércio de seres humanos podia ocorrer, mas não à vista
de todos. Assim, a chegada dos africanos aprisionados passou para o
Valongo, um lugar mais escondido no Rio de então. Não há registros
precisos, mas se acredita que 500 mil escravos possam ter chegado por
ali.
No Segundo Reinado, o jovem imperador D. Pedro II deu outro destino
ao cais, construindo um novo, alguns metros acima, para receber sua
noiva, a princesa napolitana Teresa Cristina. Foi dessa forma que
surgiu o Cais da Imperatriz (ao vivo e em cores a futura imperatriz
não correspondia às pinturas sobre ela enviadas ao jovem
imperador; ao vê-la desembarcar, D. Pedro teria caído em prantos,
decepcionado). O prefeito Pereira Passos apagou traços dessa história
ao construir o aterro que possibilitou a construção da avenida
Rodrigues Alves e do atual porto do Rio. Mas manteve o marco de
comemoração da chegada da imperatriz, na praça Jornal do Commércio.
Esse sítio arqueológico é candidato junto à Unesco a se tornar
patrimônio da humanidade.
Logo em frente, está o primeiro grande armazém portuário do Rio,
construído pelo engenheiro André Rebouças, a pedido de D. Pedro II.
Negro, Rebouças descendia de ex-escravos. Ele e o irmão foram
brilhantes engenheiros (e não é à toa que batizam uma das principais obras
viárias do Rio, o túnel Rebouças).
O armazém com paredes de tijolinhos, interessantíssimas, virou o
galpão das artes. Ainda bem que a edificação foi restaurada. O
potencial da região fica evidenciado com a reaproveitamento de antigos
prédios, a exemplo do hotel Barão de Teffé, que poderá se transformar
em um residencial.
Acessamos as obras dos túneis pelo "shaft" que fica entre a rua
Sacadura Cabral e a Avenida Venezuela, depois de passarmos pela Pedra
do Sal e o Largo da Prainha (por sinal, a igreja da Prainha, cuja teto
desabara, está em fase final de restauração). É o ponto em que as duas
galerias do túnel da Via Expressa se aproximam da única galeria do
túnel do Binário. Para facilitar as obras, foi feito uma ligação entre
todas elas nesse trecho.
Na última sexta-feira, faltavam apenas 40 metros para a galeria única
do túnel do Binário estar totalmente aberta. A escavação vem
avançando 10 metros por semana, pois se trata de um trecho com
geologia mais delicada. Mas enquanto isso, prosseguem as obras de
pavimentação definitiva e das paredes laterais. É bem provável que o
túnel possa ser entregue ao tráfego na sequência dos festejos que vão
celebrar os 450 anos da cidade, em março do ano que vem.
As obras das duas galerias do túnel da Via Expressiva estão indo
rápido, pois encontraram uma geologia mais favorável. Estão escavados
os trechos entre o "shaft" de acesso na praça Barão de Ladário/Rua
Primeiro de Março, em frente ao I Distrito Naval, até depois do "shaft
da Avenida Venezuela. As obras também avançam pelo emboque e
desemboque do túnel na Avenida Rodrigues Alves, assim como na futura
interligação com o mergulhão da Praça XV Nesse caso, o túnel é feito
de cima para baixo. Estão sendo construídas as paredes diafragmas. A
seguir, será a vez da laje de cobertura para dar sustentação às
paredes. Faz-se uma primeira escavação embaixo e nova laje é
construída. E assim a escavação prosseguirão até o piso das galerias.
O túnel da Via Expressa está prometido para o início de 2016. Mas
antes disso ficará pronta a parte da superfície. Entre a Rua Pereira
Reis, no Santo Cristo, e a ligação com as avenidas Brasil e Rio de
Janeiro as obras deverão ser mais ligeiras.
De segunda a sábado os trabalhos são contínuos, em três turnos. Mas
domingo é dia de descanso e no fim de outubro/início de novembro
haverá visitas guiadas do público às galerias dos túneis. Acreditem, é
um bom programa. Meu filho mais velho me acompanhou na visita,
ciceroneada pelo presidente da Cdurp, Alberto Gomes Silva, e por uma
entusiasmada equipe da concessionária Porto Novo , que toca as obras e ficará
responsável pelo projeto Porto Maravilha até 2026. Em determinado
momento ele comentou comigo: "tenho a sensação de estar testemunhando
algo semelhante à construção do túnel Rebouças".
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