Um poço de petróleo recordista

Um poço de petróleo recordista

GEORGE VIDOR*Jornal do Brasil
Com apenas um poço em operação numa plataforma que não será a definitiva, o Campo de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos, atingiu um patamar de produção de 45 mil barris equivalentes de petróleo por dia. Não existe precedente no Brasil, e mesmo no exterior são raríssimos poços com esses índices de produtividade.
Libra foi o primeiro campo do pré-sal a ser licitado sob o regime de partilha. Somente um consórcio se apresentou. Formado quase às pressas, o consócio teve 40% de participação da Petrobras, 20% da Shell, 20% da Total e os demais 20% divididos por duas companhias chinesas. Pela regra então vigente, a Petrobras seria forçosamente a operadora e deveria ter pelo menos 30% de participação no consórcio vencedor, qualquer que fosse ele. 
Com os resultados que estavam sendo obtidos nos testes do campo de Tupi (rebatizado posteriormente como Lula, em homenagem a... mais um animal marinho, tal qual os demais campos marítimos que a Petrobras põe em operação...), o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu adotar novas regras para os futuros blocos a serem licitados na chamada camada do pré-sal. O regime de concessão foi arquivado e adotou-se o de partilha de produção. Leva o bloco quem estiver disposto a oferecer maior percentual da produção – descontados os custos de investimento e operação – ao governo, além do maior bônus de assinatura. Mesmo com o potencial que os testes nos campos do pré-sal estavam demonstrando (apenas o que era mais afastado da costa, sob concessão da Exxon, frustrou as expectativas), a postura que o governo Lula adotou, e sua fiel escudeira Dilma Rousseff pôs em execução, causou enorme desconfiança entre as grandes companhias de petróleo. As mudanças tinham cheiro de Venezuela bolivariana. 
A dupla Lula-Dilma fez o Brasil andar para trás na indústria de petróleo, embora o discurso e a política industrial adotadas tivessem a fachada de que estavam andando para frente. O sucesso das recentes rodadas de licitação da Agência Nacional de Petróleo, após o afastamento de Dilma Rousseff, comprova isso na prática. A Petrobras, como companhia estatal, não está, e nem deve estar, alheia a um esforço nacional de desenvolvimento. No entanto, para cumprir sua missão, não pode deixar de funcionar como uma empresa, antenada para custos e rentabilidade. 
As regras adotadas por Lula-Dilma amarravam a estatal dentro de propósitos ideológicos, político e (reticências) do governo. As mudanças dessas regras retiraram a tutela e a Petrobras pode agora formar parcerias mais adequadas aos interesses da empresa. A produção em Libra exigiu a superação de muitos obstáculos; a exploração do pré-sal não é fácil pelas características dos reservatórios (águas profundas e ultraprofundas, dificuldades para se reinjetar nos poços o gás natural associado ao petróleo, a passagem por uma camada gelatinosa de sal de dois mil metros altamente corrosiva e por aí vai). A formação de consórcios com outras empresas que estão na vanguarda tecnológica da indústria possibilita avanços mais rápidos. O valor das ações da Petrobras na bolsa de valores revela como os investidores estão voltando a ver com bons olhos a empresa. 
Outras boas notícias do setor estão por vir. Aguardem!
* Jornalista que há anos acompanha o setor de petróleo

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