Forest Gump (Israel)


Forest Gump (Israel)
Por George Vidor

Estou passando por um momento Forest Gump, aquele famoso personagem do ator Tom Hanks, que por casualidade estava em lugares de acontecimentos que ele testemunhava sem ter a menor ideia do que se passava de fato. Estou em Israel, numa viagem cultural e de lazer. Há anos tenho curiosidade de vir aqui, por razões diversas. Sem grande planejamento prévio, cheguei aqui. Estava visitando as colinas do Golan, na fronteira com a Síria, exatamente no dia em que o presidente Donald Trump anunciou que os Estados Unidos iriam reconhecer o controle de Israel sobre aquele território.
Trata-se de uma mudança de status, significativa. O Golan é considerado pelas Nações Unidas, e por muitos países como território ocupado. Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, o exército israelense atacou e venceu as posições sírias na colina.  Estrategicamente era uma questão crucial. No Golan estão a nascente do Rio Jordão e de outras fontes de doce água que nutrem o Mar (lago) da Galileia, de onde Israel retirava 85% do seu suprimento. No Oriente Médio, água é tão importante quanto petróleo. A terra de Israel só existe porque é uma ponte entre a África, a Ásia e a Europa. Era preciso passar por aqui porque havia água. A alternativa seria o deserto.
As linhas de fronteira definidas em 1948 não consideraram esse fato.
Em 1973, na Guerra do Yom Kipour, a Síria avançou sobre o Golan mas foi repelida. Desde então Israel ocupou as colinas como seu espaço territorial. As melhores vinícolas do país estão lá. Produz no Golan também cerejas, leite de vaca e bens manufaturados de consumo.
Israel não usa o Golan para ataques à Síria. Na guerra civil dos últimos anos apoiou grupos de rebeldes contra Hafez Assad, mas somente oferecendo cuidados médicos aos feridos. Esperava assim abrir uma janela de diálogo com os sírios no caso da queda de Assad. Mas o Estado Islâmico entrou no conflito, e acabou prevalecendo a tese que se é ruim com Assad, agora seria pior sem ele. Os rebeldes se enfraqueceram e as forças pró-Assad estão novamente do outro lado da fronteira. A capital síria, Damasco, está a apenas 60 quilômetros do Golan.
A mudança de status do Golan por parte dos Estados Unidos faz parte de jogo de xadrez político na região. No dia 9 de abril, haverá eleições em Israel. O atual primeiro ministro Benjamin Netanyahu vem caindo nas pesquisas, em face de denúncias feitas pela oposição de favorecimento dele, e do partido Likud, na compra de submarinos alemães. Mas Israel vive um bom momento econômico e o que as pessoas mais desejam aqui é viver em segurança. Talvez a economia ajude a se buscar uma solução para o histórico conflito entre judeus e palestinos. Uma confederação entre dois estados, com administrações independentes, mas com infraestrutura comum? Cabendo a Israel a gestão da economia e da defesa?
Vamos ver como isso evolui a partir do resultado das eleições de 9 de abril.


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