Charles III e a economia do Reino Unido

 Charles III e a economia do Reino Unido

George Vidor

Reina, mas não governa. Se a expressão cabia para Elizabeth II, continuará sendo válida para Charles III. Monarcas não têm qualquer poder de interferência, nem mesmo de influência, sobre o orçamento público britânico. Podem até dar palpites ou fazer sugestões aos primeiros-ministros e autoridades próximas sobre isso ou aquilo, mas sequer têm poder de veto sobre alguma decisão orçamentária aprovada pelo parlamento.
Resumo da ópera: a subida de Charles III ao trono britânico não terá influência direta sobre os rumos da economia do Reino Unido. Pode ter alguma influência indireta à medida que Charles contribua positivamente para ajudar a Grã-Bretanha a aprofundar relacionamentos com parceiros comerciais, econômicos e políticos. Isso se tornou ainda mais necessário com o Brexit, pois os britânicos agora não fazem mais parte da União Europeia, porém dependem muito do intercâmbio com a UE. O desafio será costurar um status especial, tal qual a União Europeia tem com a Noruega (nação que optou por não aderir a UE, embora por uma decisão decorrente de  estreitíssima margem de votos do seu eleitorado), por exemplo.
No entanto, o Brexit fez ressurgir ressentimentos no continente. O Reino Unido teve no passado várias tentativas fracassadas para ser aceito no então Mercado Comum Europeu. Conseguiu vencer as barreiras para se tornar membro da comunidade até então continental e agora, depois de muitos anos, por decisão soberana de seu povo, pulou fora da União Europeia. Creio que os ingleses (escoceses foram contra o Brexit) já devem ter se arrependido de tal iniciativa. A troca de mercadorias e a prestação de serviços se tornaram mais problemáticas, devido ao restabelecimento de normas burocráticas e tarifárias. A circulação de pessoas e mão-de-obra também se complicou. Não parece haver boa vontade, do lado do continente, para se resolver esse impasse, haja vista as reações da cúpula da UE quando o governo britânico tentava empurrar com a barriga a efetivação do Brexit (se não quiseram ficar mais conosco, pulem logo fora, pareciam dizer).
Ainda é cedo para se medir o impacto do Brexit sobre a trajetória da economia britânica, mas não há dúvida que o Reino Unido terá de se desdobrar mais, fora da União Europeia, para recompor uma estrutura que o torne menos vulnerável diante das incertezas no campo energético provocadas pela Rússia a partir dessa guerra na Ucrânia. O petróleo e o gás, especialmente, russos eram fatores importantes nessa equação e os europeus chegaram a acreditam que assim estariam mais seguros no suprimento de hidrocarbonetos, recorrendo menos a regiões conflagradas, como o Oriente Médio ou o Norte da África.
As descobertas e a produção no Mar do Norte foram fundamentais na solução dos problemas causados pelos primeiro e segundo choques do petróleo na década de 1970. O Reino Unido se tornou um relevante exportador de hidrocarbonetos. Mas tal produção é declinante e o próprio Reino Unido já depende, progressivamente, de outras fontes de suprimento.
Qual influência Charles III terá sobre isso? Creio que pouca.  Talvez tornando a família real menos perdulária no consumo de energia. E/ou nos subsídios orçamentários recebidos para desempenhar o papel figurativo na sociedade britânica, que os súditos tanto gostam. Não mais do que isso.

Texto para SBT News

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