Águas rolando

Águas rolando

POR GEORGE VIDOR
Menos aflitos, meios empresariais estão inclinados a apoiar Alckmin
Com a candidatura Lula fora do páreo, por força da Lei da Ficha Limpa, os meios empresariais estão agora menos aflitos diante da disputa eleitoral deste ano e talvez se unam em torno de uma candidatura de centro, provavelmente a de Geraldo Alckmin, atual governador de São Paulo. Alckmin não é um pré-candidato capaz de provocar paixões nos eleitores. Mesmo entre seus aliados, há quem o veja como um político que nunca perdeu as características de prefeito do interior (médico, começou a carreira política em Pindamonhangaba, sua cidade natal). Porém o que não lhe falta é experiência e argúcia na articulação política.
Ninguém governou o principal estado da federação mais tempo do que ele (nem o lendário Adhemar de Barros). Com 44 milhões de habitantes, São Paulo é um “país”, mais populoso que as regiões Norte e Centro-Oeste somadas. Cheio de problemas, sim, mas também com larga vantagem em infraestrutura se comparado com as demais unidades federativas. Cerca de 90% das estradas consideradas boas ótimas e boas são paulistas. Não faz muito tempo, São Paulo era um desastre ambiental, com índices de saneamento básico vexaminosos. Atualmente, é o estado com os melhores indicadores em fornecimento de água, coleta e tratamento de esgotos, mesmo com a despoluição do rio Tietê não deixando de ser apenas um sonho.
O Brasil, desde a redemocratização, nunca havia chegado ao início de um ano eleitoral sem candidaturas definidas ou em construção. E o que se vê hoje é uma indefinição completa em quase todos os estados. Quem concorrerá para governador ou a senador nos principais colégios eleitorais? Tudo continua nebuloso. Essa falta de nomes novos – desconsiderando-se as candidaturas caricaturais – favorece Alckmin, que amadureceu politicamente desde sua primeira tentativa de chegar à Presidência da República. Tem uma visão mais clara sobre os limites da ação do estado na economia. E como presidente talvez seja capaz de promover a reforma tributária que o país necessita, conciliando os interesses, inclusive os de São Paulo, que hoje é o mais resistente à mudança.
Esse é um cenário hipotético porque muita água vai rolar na política. Lula travará a batalha para não ser preso. Hoje só escaparia da prisão se decidisse se submeter a um tratamento psiquiátrico (não faltariam médicos dispostos a atestar distúrbios de personalidade no ex-presidente desde que ele resolveu se comparar a Antônio Conselheiro, o fanático desmiolado que conduziu o povo de Canudos a uma tragédia, no fim do século XIX). Nos demais processos a que responde na justiça, Lula é acusado também de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, delitos que já o condenaram a doze anos e um mês de prisão em regime fechado. Escapará de outras condenações nos casos do sítio de Atibaia, das contribuições recebidas pelo Instituto Lula, do apartamento vizinho ao seu em São Bernardo do Campo, na delação de Antônio Palocci? A situação do ex-presidente se complica a cada dia e ele parece jogar suas fichas em uma crise institucional.
A propósito, estou com a missão de escrever uma resenha sobre a versão brasileira do famoso livro de Douglass North, Prêmio Nobel da Economia, a respeito da importância das instituições no desenvolvimento. Ainda que não esteja sendo fácil digerir o livro – em português, muita coisa parece não fazer sentido – é estimulante acompanhar o raciocínio de North na defesa da tese que as instituições, formais e informais, são a pedra angular do processo de desenvolvimento.
Entre turras e beijos
A indústria do petróleo, capitaneada pela Petrobras, e a construção naval, andavam às turras. Em casa que falta pão, todo mundo discute e ninguém tem razão, diz o ditado. As brigas foram parar na justiça. A produção em um campo da Petrobras atrasou um ano por causa dessas disputas. Pedro Parente, presidente da Petrobras, e Ariovaldo Rocha, presidente do Sinaval (o Sindicato Nacional da Indústria de construção Naval). discutiram publicamente, durante um almoço em Brasília, no qual Michel Temer reuniu membros do chamado “conselhão”. O quase bate boca chegou a chamar a atenção e Temer, que estava em outra mesa.
Agora os ânimos se acalmaram. Em vez de briga, as partes resolveram se entender, o que é mais razoável. O Sinaval encaminhou à Agência Nacional do Petróleo (ANP), depois de consultar outros órgãos do governo, uma proposta que pode tornar o entendimento possível com a indústria do petróleo. Há tempos a Petrobras e seus parceiros alegam que a construção naval brasileira não tem condições de construir cascos de plataformas (do tipo FPSO) competitivamente. Então o Sinaval optou por uma solução intermediária: cerca de 40% dos cascos seriam feitos no Brasil (e nos demais 60% poderiam estar incluídas a popa e a proa, partes mais complicadas, por exemplo, integrando-se posteriormente os blocos aqui). O sindicato aponta dois estaleiros aptos a essa tarefa: o EAS, em Suape (Pernambuco) e o Enseada, na Bahia.
O primeiro casco seria entregue em 24 meses. A partir daí cada estaleiro se comprometeria a entregar dois cascos por ano.
No Rio de Janeiro, a construção naval emprega nãos mais que seis mil pessoas. Já empregou diretamente cerca de 39 mil!

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