Pós-calmaria

Pós-calmaria

POR GEORGE VIDOR
Tal qual os antigos navegantes, a economia sempre passa por calmarias, geralmente no início do ano. Mas o horizonte está clareando
Os antigos navegantes passavam muitos apertos cruzando o "Mar Tenebroso'. Mesmo nas calmarias deviam sentir algum frio na barriga, pois dependiam das correntes e da direção dos ventos para chegarem a seus destinos. A economia brasileira está agora naquela calmaria habitual para a época do ano. Até o tráfego desgastante nas grandes cidades dá uma trégua por causa das férias. Mas, felizmente, os navegantes de hoje têm mais instrumentos que ajudam a prever o tempo que devem encontrar pela frente.
E, nesse sentido, o ano começou razoavelmente bem, pois o cenário é de queda de inflação e de taxa de juros, com uma tímida recuperação da atividade industrial e uma safra que já se mostra muito promissora. O grande obstáculo a ser superado continua sendo o ajuste nas finanças públicas. Os mercados chegaram a comemorar o déficit primário de R$ 155 bilhões porque ficou abaixo do limite autorizado pelo Congresso.
Porém, o desastroso seria prosseguir na rota de colisão para a qual a economia brasileira fora empurrada. O ajuste está tanto na agenda do Congresso como na do governo. Estancar o desequilíbrio da previdência social é uma questão de urgência pois sem isso será preciso esperar um milagre dos céus para que as contas públicas voltem a acumular superávits primários, única saída para se desarmar a bomba relógio do endividamento que vem crescendo como uma bola de neve.
No curtíssimo prazo, já há soluções encaminhadas para a dramática situação financeira de alguns estados importantes, que nessa crise podem arrastar também os municípios. No entanto, sem a reforma da previdência os estados não conseguirão respirar mais aliviados, porque a maioria dos entes federativos entrou em uma fase que o número de servidores inativos cresce em proporção alarmante. Não dá para deixar simplesmente como está.
Infelizmente o drama pelo qual passam servidores públicos ativos e inativos, e de muitos empregados contratados por estados e municípios, com atrasos sucessivos no recebimento de salários e aposentadorias, tem feito a sociedade despertar para o risco que significa não promover a reforma da previdência. Muitas pessoas achavam que em hipótese alguma os servidores poderiam ficar um dia sem receber seus vencimentos. Na prática evidenciou-se que o risco é real e no futuro a previdência poderá passar pela mesma situação, se o desequilíbrio atuarial ( tempo de contribuição versus tempo de benefícios) e financeiro do sistema continuar se acentuando.
O ajuste nunca é confortável. Mas com a economia se expandindo, mesmo que pouco, tudo se torna mais fácil. Contudo, só vai dar para comemorar quando as estatísticas de emprego começarem a sair do vermelho.
Sem leite derramado
O consumo de leite caiu cerca de 5% no ano passado no Brasil, o que dá uma ideia do forte impacto negativo da recessão na economia. O leite, de vaca ou de cabra, e seus derivados estão presentes em quase todas as refeições dos brasileiros. Quando o consumo despenca, é que as coisas estão mesmo mal. Mas, ainda assim, existem lacunas e brechas de mercado que podem ser aproveitadas. No estado do Rio de Janeiro, o mercado local de leite é estimado em R$ 1,4 bilhão por ano. O consumo fluminense é equivalente a 2,5 bilhões de litros, dos quais as usinas e indústrias instaladas no próprio estado fornecem o equivalente a 1,5 bilhão de litros. No entanto, somente 550 mil litros vêm de produtores fluminenses. A maior parte da matéria-prima chega de outros estados. Minas Gerais, principalmente.
Há uma clara oportunidade de negócio aí (no passado, somente a extinta cooperativa CCPL chegou a processar o equivalente a 1,5 bilhão de litros anualmente), mas é preciso que produtores, indústrias e autoridades se entendam e busquem soluções para os entraves na cadeia produtiva. A estratégia de atrair novas indústrias não funcionou; a resposta que se esperava – aumento da oferta de matéria-prima não ocorreu. E, segundo diagnóstico que o sindicato das indústrias está fazendo, com apoio da Firjan, não é por conta da falta de terras adequadas para produção. Dos 92 municípios fluminenses, 78 produzem leite. Aproximadamente 80% das terras agricultáveis estão hoje ocupadas por pastagens.  Falta então encontrar um denominador comum, que compatibilize os interesses de todos os elos da cadeia produtiva.
Livre
O shopping da Gávea aderiu ao mercado livre de energia elétrica. Obteve uma considerável redução no valor da conta, nos horários de pico de consumo. O objetivo é baratear o condomínio, rateado pelos lojistas do shopping. Os tempos não andam fáceis, mas o shopping está construindo mais um piso, o sétimo, que servirá como estacionamento e abrigará também novas salas de cinema, um dos atuais atrativos do centro comercial.

Comentários