Questão aritmética

Questão aritmética

POR GEORGE VIDOR
A inflação pode deixar de ser um tormento na vida brasileira se o país passar a respeitar as quatro operações aritméticas
O Brasil tem sido o país da inflação, há muitas e muitas décadas. Na verdade, há quase dois séculos. Nossos primeiros cronistas econômicos já falavam de descontrole monetário no fim do período colonial e durante o Império, nos dois reinados. "O Império era o déficit", resumiu Rui Barbosa, ministro da Fazenda do governo provisório presidido pelo marechal Deodoro da Fonseca, que derrubou a República. Tal declaração não impediu que o começo da vida republicana fosse marcado pelo descontrole na emissão de títulos, a ponto de se formar uma bolha especulativa que estourou em apenas dois anos ("o encilhamento", alusão a uma expressão usada na época, segundo a qual cavalos encilhados só passavam uma vez e não se podia desperdiçar a oportunidade).
A República Velha se foi em 1930, quando, em torno do obelisco da Avenida Rio Branco, tropas gaúchas apearam dos cavalos encilhados que os trouxeram para o Rio para exigir a renúncia do presidente Washington Luís. Porém a chamada era Vargas também se veria às voltas com a carestia. O controle de preços e de tarifas públicas se tornaria rotina a partir de então. Várias gerações de brasileiros tiveram de tomar cafezinho de péssima qualidade, por causa de um tabelamento que carreava para exportação o que havia de melhor do produto, carro chefe das exportações do país por anos a fio.
A inflação erodiu a imagem do governo de Juscelino Kubitschek. Para os contemporâneos de JK, ele foi o presidente bossa nova, que modernizou o país, incentivou a indústria, abriu estradas, construiu Brasília, mas emitindo moeda sem cerimônia (rodava a "guitarra", outra expressão da época).  Jânio Quadros e Jango Goulart foram apeados do poder ao meio de um ambiente de economia mergulhada na inflação.
Os governos militares tentaram dominar o dragão, sempre com a velha técnica do tabelamento e do controle artificial de preços. A crise do petróleo deu uma rasteira nos generais presidente, que foram à lona. E deixaram como herança para o governo civil que iniciaria a fase de redemocratização do país uma inflação aguda. Inflação que se sairia mais uma vez vencedora diante de diversos planos econômicos fracassados e mal engendrados, tornando-se crônica. Até que o Plano Real acendeu uma chama de esperança e indicou o caminho para quem sabe, um dia, convivermos em clima de estabilidade monetária para valer.
Daí os atuais índices de inflação causarem tanta perplexidade. O Brasil fechará 2017 com o IPCA, calculado pelo IBGE, abaixo do piso da meta de inflação. Ou seja, abaixo de 3%. O Banco Central terá de pedir desculpas ao Ministro da Fazenda por ter demorado a reduzir as taxas básicas de juros, que, no momento, já são, nominalmente, as mais baixas desde que o real começou a circular em 1º de julho de 1994. E hão de cair mais. O paquiderme não está mais sendo combatido com inseticida, pois parece que perdeu completamente o fôlego.
O que causa mais perplexidade é que a inflação desabou diante de um cenário político que não difere muito daqueles que o Brasil viveu nas diversas crises desde os tempos do Império. E em uma conjuntura econômica na qual as finanças públicas ainda estão fora do prumo, porque o país não respeita a aritmética. As quatro operações até por quem ostenta diplomata de doutorado.
"Governar é abrir estradas", dizia o presidente Washington Luís que seria deposto em 1930. Até aí tudo bem, pois o Brasil continua mesmo precisando de estradas, desde que se respeite as limitações orçamentárias. E assim retornamos ado dilema de respeitar as quatro operações (adição, subtração, multiplicação e divisão).
Esta semana veremos se o Congresso será capaz de quebrar mais um tabu. Se a Câmara dos deputados votar a favor da minirreforma da previdência social, demonstrará que parlamentares sabem fazer contas não apenas para o mal, mas para o bem também.
São passos necessários para que a economia brasileira seja normal, como qualquer outra, e não uma anomalia.
Em busca de aliados
Muitos dos aproveitamentos hídricos que podem abrigar usinas de médio porte para geração de eletricidade estão situados bem próximos ou até dentro de terras indígenas. As empresas que se dispõem a explorar esses aproveitamentos acham que é possível evitar os conflitos que impedem licenciamentos ou a continuidade das obras, posteriormente. Se terras indígenas forem afetadas, as tribos devem ser recompensadas com o pagamento de royalties, calculados de maneira correta. Os índios se tornariam sócios indiretos dos empreendimentos, encontrando assim até uma fonte segura de financiamento de longo prazo para preservar as terras e para manter o seu modo de vida sem serem perturbados por ameaças de invasão.     

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