Carro chefe

Carro chefe

POR GEORGE VIDOR
A indústria automobilística foi uma das molas propulsoras da economias mas é possível que o mercado não volte a crescer tanto
O automóvel foi, sem dúvida, uma das molas propulsoras da economia brasileira no governo Lula. Em dez anos (2004-2014), a frota se expandiu em 20 milhões de veículos. Havia uma demanda reprimida, pois o carro exerce uma fascinação sobre o ser humano difícil de ser explicada, e milhões de famílias sonhavam em ter o próprio carro. Talvez seja pelo desejo de liberdade que todos temos instintivamente: o automóvel dá a sensação que se pode ir a qualquer lugar, ao menos em tese.
.Mesmo em áreas periféricas, como é o caso da Baixada Fluminense, a motorização se tornou um fenômeno (Japeri tem hoje um automóvel para cada sete habitantes; há dez anos era um carro para cada 30 moradores). O automóvel ajudou a eleger e a reeleger Dilma.
Mas não só grande parte dessa demanda foi atendida como a vida nas cidades se tornou caótica, com congestionamentos que levam qualquer um ao desespero. Crédito mais escasso, juros mais altos, salários encolhendo, tudo isso provocou uma queda vertiginosa nas vendas. E o pé no freio na indústria provocou um efeito dominó que tem se refletido em diversas áreas. A siderurgia, por exemplo, vem capengando porque o aço é um dos principais insumos do automóvel.
É pouco provável que esse mercado volte no curto – e mesmo no médio - prazo ao período da bonança. Os investimentos em transporte público de alta capacidade começaram a dar resultados e muita gente se sente aliviada em não ficar mais presa ao automóvel. A economia brasileira terá de buscar outros caminhos para ganhar novo impulso.
Quem paga
A ANS, agência reguladora dos planos de saúde, tem um “estoque” de R$ 1 bilhão em multas. O valor é desproporcional aos fatores que os geraram. Se a agência considerar que o plano rejeitou indevidamente parte de uma despesa, mesmo que a diferença seja de R$ 300, a multa pode chegar a R$ 80 mil. Contestar as multas na justiça obriga os administradores de planos de saúde a depositar em juízo os valores contestados, o que compromete o capital de giro, tão precioso nesses tempos de crise. Então, acaba sendo financeiramente mais fácil negociar o pagamento das multas em 60 prestações. Isso vira despesa administrativa e, de certa forma, é transferido para o que será cobrado dos segurados. É o famoso “custo Brasil”.
Correndo atrás
E por falar em custos, em tempos de vacas magras as empresas de médio e grande porte têm de buscar soluções inovadores para poupar tempo e dinheiro. A terceirização tem sido uma saída natural, ainda que sempre surjam riscos de questões trabalhistas ou interpretação equivocada da justiça em relação a esses contratos. Mas é possível “terceirizar” serviços dentro de uma mesma organização, por meio de um centro de serviços compartilhados separado das unidades de negócios principais da empresa. Há menos de dez anos os “CSC” começaram a ser adotados no Brasil por companhias que competem com multinacionais. Mas é ainda uma experiência que não se disseminou entre gestores, embora a Coppead tenha incorporado o tema a seus cursos. De lá se formaram os primeiros profissionais especializados na montagem de CSC (a maioria englobando folha de pagamento, contabilidade, contas a pagar e serviços similares). É o caso da jovem engenheira Vanessa Saavedra Frederico, que se juntou a outros colegas para criar o Instituto de Engenharia de Gestão.
Vanessa escreveu e publicou um livro sobre os CSC em 2014, pioneiro no tema, no Brasil.
“Gastroturismo”
A Espanha conquistou a “pole position” no reino da gastronomia europeia, o que fica evidente no número de restaurantes estrelados que existe por lá. As regiões competem entre elas e hoje o País Basco (em torno de San Sebastian) se destaca mais que a Catalunha. O fluxo de turistas para lá já era significativo e foi reforçado pelos que viajam motivados pela gastronomia. Portugal está entrando por esse caminho. A cozinha portuguesa tem se renovado pelas mãos de um grupo de novos chefs (José Avilez, do Belcanto e Café Lisboa), Rui Paula (do DOP no Porto e DOC em Peso da Régua, região do Douro, e que abriu também um restaurante em Recife) e de iniciativas como a área voltada exclusivamente para esse fim no Mercado da Ribeira – a Cadeg de lá - em Lisboa. O turismo gastronômico é uma via que precisamos valorizar mais no Brasil. No blog, em breve, escreverei mais detalhes sobre os restaurantes citados.

Comentários