Nada de novo no front

Nada de novo no front

POR GEORGE VIDOR
O cenário político continua sem horizonte, mas ao menos a economia está se ajeitando
Em recente palestra, Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, resumiu muito bem o atual cenário brasileiro: as coisas até que estão se ajeitando na economia, mas na política ficamos sem horizonte. A atração doentia dos políticos tradicionais do país pela corrupção vai varrendo do mapa aqueles que eram vistos como potenciais governantes ou peças importantes dentro do Congresso. Quem vamos eleger para presidente, governador, senador, em 2018? Ao que tudo indica, terá que ser um tiro no escuro, sem ligação com esse passado político tenebroso, mas também sem comprovada capacidade para lidar com os problemas que o Brasil precisa enfrentar.
Alguém consegue enxergar um "Macron" (o jovem presidente da França, que teve uma ascensão meteórica na política, e até o momento está surpreendendo, positivamente) nesse horizonte brasileiro?  Diante de um quadro tão pobre de nobres lideranças, há quem sugira que, em vez de eleições gerais, promovamos um grande concurso nacional para escolha dos futuros governantes. É uma piada, mas reflete bem a atual falta de perspectiva no cenário político. Desmoralizado política e pessoalmente pelo seu envolvimento com o lamaçal em que estão mergulhados os principais partidos do país, o presidente Temer só consegue se manter no Palácio do Planalto por que de fato a sociedade não vislumbra quem possa tocar o barco até 2018, em uma transição satisfatória até as eleições gerais de outubro do ano que vem.
Por sorte, talvez, ou por cansaço, a economia não está deixando se contaminar pela crise política.  A equipe econômica que Temer nomeou tem respeitabilidade e vem entregando resultados pelo lado macro. A inflação recuou ou estacionou em um patamar que possibilite forte corte nas taxas de juros, o componente que ainda falta para eliminar a anemia do consumo e do investimento. As contas externas estão em razoável equilíbrio. No segundo semestre, que já se aproxima, teremos boas notícias vindas do setor de óleo e gás. O campo gigante de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos, começa a produzir comercialmente, e haverá, em setembro e outubro, duas rodadas de licitações que podem atrair mais investidores. É a tábua de salvação que o Estado do Rio de Janeiro aguarda ansiosamente,
Mal ou bem, as instituições estão funcionando. Restam esperanças de que o Congresso, ainda nesta legislatura, possa aprovar as reformas, inclusive a da previdência, já que não se trata mais de uma questão política, e sim de pura aritmética. No mais, sigamos em frente (o título da coluna é uma referência à obra-prima de Erich Maria Remarque, que descreve o drama das trincheiras alemãs na Grande Guerra, de 1914 a 1918; o filme, com mesmo nome, é também muito bom).
Lixo eletrônico
O mundo deve "produzir" este ano 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico. No Brasil, estima-se que nossa "quota" nesse lixo chegue a 1,4 milhão de tonelada. Nos países em desenvolvimento, apenas 13% do lixo eletrônico são recicladas. Aqui não existe estrutura para a reciclagem para a maior parte do lixo, que é então reaproveitado de maneira inadequada ou vendido para o exterior por meios obtusos. O Rio é o segundo maior "produtor" de lixo eletrônico no país. O sindicato que reúne as empresas de tecnologia de informação no Estado – TI-RJ- vai promover, pelo quinto ano consecutivo uma campanha de coleta e reciclagem de lixo eletrônico, esperando recolher três toneladas.  É uma parceria com a empresa carioca Futura, especializada no ramo. Pilhas e baterias são reaproveitadas no próprio país, mas as placas e outros materiais são exportados, por falta de que as recicle aqui.
ZPE
O complexo industrial-portuário do Açu, no Norte do Estado do Rio é sério candidato a receber uma zona especial de exportação. A experiência de ZPEs no Brasil não foram até agora bem-sucedidas, mas o Açu, de fato, reúne as condições para abrigar indústrias que se voltem inteiramente para a exportação. A propósito, uma correção em relação à nota da semana passada: a Prumo, empresa que controla o complexo do Açu, permanece com  ações negociadas no Novo Mercado da Bovespa.  
Boa nova
Agora em julho o Pará passa a contar com um sistema de monitoramento de florestas que permite verificar o que está ocorrendo a cada dois dias. Pelo sistema do IMPA, tem-se um retrato a cada 30 dias, e com essa defasagem geralmente é tarde para se tomar alguma providência.  O novo sistema permite enxergar o que se passa em uma área de apenas três metros. Exatamente por isso, o sistema já detectou que existe no Pará mais 10% de florestas do que se pensava.
Em 23/06/2017 12:34, Claudia dos Santos - Editoria Rio O Globo - Infoglobo escreveu:
Recebida! Obrigada! 
 

From: George Vidor <george.vidor@globo.com>
Sent: Friday, June 23, 2017 12:28:31 PM
To: Flavia de Carvalho Barbosa - Redação - O Globo; Luciana Rodrigues - Editoria Economia - O GLOBO; Lucila de Beaurepaire - Editoria de Economia - Infoglobo; Claudia dos Santos - Editoria Rio O Globo - Infoglobo; Janaína da Cruz Lage - Editoria Economia - O Globo; Ana Cristina Perrone - Editoria Economia - O Globo; georgevidor@gmail.com
Subject: Coluna para a edição de segunda-feira, 26-06-2017
 
Queridas, segue a minha coluna para a edição de segunda-feira (26-06). Tenham todas um bom fim de semana, o primeiro do inverno. Chá com torradas para todo mundo rsrsrs. Boa edição, bjs:
NADA DE NOVO NO FRONT
O cenário político continua sem horizonte, mas ao menos a economia está se ajeitando
Em entrevista para Claudia Safatle, no Valor Econômico, Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, resumiu muito bem o atual cenário brasileiro: as coisas até que estão se ajeitando na economia, mas na política ficamos sem horizonte. A atração doentia dos políticos tradicionais do país pela corrupção vai varrendo do mapa aqueles que eram vistos como potenciais governantes ou peças importantes dentro do Congresso. Quem vamos eleger para presidente, governador, senador, em 2018? Ao que tudo indica, terá que ser um tiro no escuro, sem ligação com esse passado político tenebroso, mas também sem comprovada capacidade para lidar com os problemas que o Brasil precisa enfrentar.
Alguém consegue enxergar um "Macron" (o jovem presidente da França, que teve uma ascensão meteórica na política, e até o momento está surpreendendo, positivamente) nesse horizonte brasileiro?  Diante de um quadro tão pobre de nobres lideranças, há quem sugira que, em vez de eleições gerais, promovamos um grande concurso nacional para escolha dos futuros governantes. É uma piada, mas reflete bem a atual falta de perspectiva no cenário político. Desmoralizado política e pessoalmente pelo seu envolvimento com o lamaçal em que estão mergulhados os principais partidos do país, o presidente Temer só consegue se manter no Palácio do Planalto por que de fato a sociedade não vislumbra quem possa tocar o barco até 2018, em uma transição satisfatória até as eleições gerais de outubro do ano que vem.
Por sorte, talvez, ou por cansaço, a economia não está deixando se contaminar pela crise política.  A equipe econômica que Temer nomeou tem respeitabilidade e vem entregando resultados pelo lado macro. A inflação recuou ou estacionou em um patamar que possibilite forte corte nas taxas de juros, o componente que ainda falta para eliminar a anemia do consumo e do investimento. As contas externas estão em razoável equilíbrio. No segundo semestre, que já se aproxima, teremos boas notícias vindas do setor de óleo e gás. O campo gigante de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos, começa a produzir comercialmente, e haverá, em setembro e outubro, duas rodadas de licitações que podem atrair mais investidores. É a tábua de salvação que o Estado do Rio de Janeiro aguarda ansiosamente,
Mal ou bem, as instituições estão funcionando. Restam esperanças de que o Congresso, ainda nesta legislatura, possa aprovar as reformas, inclusive a da previdência, já que não se trata mais de uma questão política, e sim de pura aritmética. No mais, sigamos em frente (o título da coluna é uma referência à obra-prima de Erich Maria Remarque, que descreve o drama das trincheiras alemãs na Grande Guerra, de 1914 a 1918; o filme, com mesmo nome, é também muito bom).
Lixo eletrônico
O mundo deve "produzir" este ano 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico. No Brasil, estima-se que nossa "quota" nesse lixo chegue a 1,4 milhão de tonelada. Nos países em desenvolvimento, apenas 13% do lixo eletrônico são recicladas. Aqui não existe estrutura para a reciclagem para a maior parte do lixo, que é então reaproveitado de maneira inadequada ou vendido para o exterior por meios obtusos. O Rio é o segundo maior "produtor" de lixo eletrônico no país. O sindicato que reúne as empresas de tecnologia de informação no Estado – TI-RJ- vai promover, pelo quinto ano consecutivo uma campanha de coleta e reciclagem de lixo eletrônico, esperando recolher três toneladas.  É uma parceria com a empresa carioca Futura, especializada no ramo. Pilhas e baterias são reaproveitadas no próprio país, mas as placas e outros materiais são exportados, por falta de que as recicle aqui.
ZPE
O complexo industrial-portuário do Açu, no Norte do Estado do Rio é sério candidato a receber uma zona especial de exportação. As experiências de ZPEs no Brasil não foram até agora bem-sucedidas, mas o Açu, de fato, reúne as condições para abrigar indústrias que se voltem inteiramente para a exportação. A propósito, uma correção em relação à nota da semana passada: a Prumo, empresa que controla o complexo do Açu, permanece com  ações negociadas no Novo Mercado da Bovespa.  
Boa nova
Agora em julho o Pará passa a contar com um sistema de monitoramento de florestas que permite verificar o que está ocorrendo a cada dois dias. Pelo sistema do IMPA, tem-se um retrato a cada 30 dias, e com essa defasagem geralmente é tarde para se tomar alguma providência.  O novo sistema permite enxergar o que se passa em uma área de apenas três metros. Exatamente por isso, o sistema já detectou que existe no Pará mais 10% de florestas do que se pensava.

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