Visto lá de fora

Visto lá de fora

POR GEORGE VIDOR
A segurança pública se tornou pedra vital para o país buscar caminhos de recuperação
Um país lindo, com um povo muito divertido, porém ninguém pode andar pelas ruas relaxado, sem ficar bem atento ao que se passa em volta. Em resumo, essa é a visão que se tem do Brasil lá fora, retratada por quem um dia já nos visitou. Uma visão que se propaga pelo mundo do turismo e, por isso, afasta potenciais visitantes e promotores de eventos internacionais. Europeus e americanos não estão livres da violência, pois são alvo de terrorismo e de psicopatas que saem atirando a esmo ou atropelando quem encontram pela frente, como aconteceu semana passada em Nova York, próximo ao local de outra tragédia, o atentado que derrubou os prédios originais do World Trade Center. Mas a sensação de que a qualquer momento alguém pode apontar um fuzil na sua direção e atirar, os turistas não têm quando passeiam pelos mais importantes polos de atração turística do planeta.
A essa sensação de insegurança nas ruas brasileira se somam os escândalos de corrupção na vida política e no mundo empresarial do país. Internacionalmente, somos vistos como uma nação governada por gente da pior espécie, com uma polícia bandida.
É difícil explicar para quem está lá fora – e talvez para nós mesmos - como o crime assumiu esse vulto no Brasil. Os criminosos são menos numerosos que as forças de segurança, não contam com serviços de inteligência que têm disponíveis nas mãos todo tipo de informação. Não fazem escuta telefônica. Não usam imagens de satélite ou obtidas por helicópteros. Mesmo assim parecem dar banho no aparelho de estado. Isolam-se em comunidades com entradas e a saídas identificadas, e possíveis pontos de fuga controláveis. De lá, bandidos caçam suas presas, dia e noite, em abordagens a transeuntes e motoristas, assaltando a torto e direito, quase sempre sem dó e piedade de suas vítimas.
Diante desse quadro perverso, que desestimula investimentos, retrai consumidores, assusta cidadãos comuns, a solução para os problemas brasileiros se torna mais difícil. Temos um aparelho de estado caro que não cumpre a sua função básica, que é garantir a segurança da população. O turismo, que podia ser uma alavanca para ajudar a economia a respirar, pouco pode contribuir para melhorar essa situação, enquanto a segurança pública não for encarada de maneira realmente séria e eficaz no país.
Abalaram o mundo, mesmo
Amanhã faz 100 cem anos que os bolcheviques tomaram de assalto o Palácio de Inverno, em Petrogrado (novamente chamada de São Petersburgo). Lá já não vivia a família imperial; os Romanov estavam confinados em sua residência de verão desde que em fevereiro de 1917 os russos se revoltaram contra a penúria que lhes vinha sendo imposta pelo regime czarista, a propósito do envolvimento em uma guerra que impôs enormes sacrifícios ao povo, sem qualquer justificativa a não ser a movimentação do xadrez político na Europa. Kerensky, à frente do governo provisório, não teve o sucesso esperado, e os bolcheviques souberam aproveitar a oportunidade. Em dez dias se aboletaram no poder e não largaram mais por 70 anos. Teria início aí a divisão do mundo entre socialismo e capitalismo. Como os ideólogos marxistas (soviéticos, especialmente) identificavam esse embate como o principal, no resto do mundo comunistas e simpatizantes tinham de fechar os olhos e tapar os ouvidos para os crimes de Lênin e Stálin, os gulags, a repressão em Berlim Oriental, a construção do Muro dividindo a antiga capital alemã, a invasão da Hungria, a invasão da Tchecoeslováquia, os expurgos entre os próprios companheiros, a fascistóide revolução cultural de Mao, o falso romantismo da revolução cubana, e por aí vai.
Em 1917, a Rússia adotava o calendário juliano. Há uma diferença de 13 dias em relação ao gregoriano. Por isso, a "Revolução de Outubro" ocorreu, para todos nós, no dia 7 de novembro. E o Natal na Rússia ainda é celebrado no dia 6 de janeiro.
Os russos ainda chamam seus governantes de líderes, herança dos tempos do czarismo e do comunismo. Olhando para trás, além dos equívocos econômicos e políticos, o que mais espanta é como essa liderança soviética tinha uma visão ignorante sobre a arte em geral. A Rússia teve um movimento impressionista paralelo e quase independente ao da França e isso se perdeu. Foram pioneiros (Kandinsky, Chagall e outros), no início do século XX, no que se chamou depois de pintura avant-garde. Os líderes soviéticos tinham horror a isso. Em relação à arte, Lênin, Stálin, Mussolini e Hitler se assemelharam.
A Rússia continua sendo um país que desconfia de estrangeiros. Em Moscou vivem pessoas de etnias não eslavas, vindas das ex-repúblicas soviéticas, mas serão sempre uma minoria. Estima-se que 65% dos judeus espalhados após a diáspora viviam em territórios da Rússia czarista (Bessarábia, Moldávia, parte da Romênia e da Polônia, etc). Hoje essa percentagem não chega a pesar nas estatísticas.
Desses tempos ficou uma lição: totalitarismo e arte não convivem bem. Quando a arte é atacada, isso é mau sinal.

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