Ecos da recessão

Ecos da recessão

POR GEORGE VIDOR
Até os segmentos de tecnologia da informação dispensaram pessoal. No Rio, a esperança está de novo no petróleo
O longo período de recessão não poupou ninguém na economia brasileira, nem mesmo em áreas nas quais se imaginava que as empresas continuariam a investir, para reduzir custos e buscar mais eficiência. Este ano, com números até agosto, as demissões superaram as admissões com carteira assinada entre os profissionais voltados para a tecnologia de informação (computadores, software, manutenção, help desks, etc.). Foram menos 983 empregos. Mas isso em um universo de mais de 600 mil empregados, dos quais cerca de um terço alocado em empresas totalmente dedicadas ao software e a serviços de informática.
Considerando-se apenas essas empresas, as admissões superaram as demissões em quase duas mil pessoas. São Paulo está reagindo mais rápido, com saldos positivos, enquanto o Rio de Janeiro continua no vermelho. O Rio ainda se ressente da forte retração ocorrida na indústria do petróleo. Com a atividade de exploração meio paralisada, não há dados de pesquisas para serem interpretados ou simulados nos computadores. Sem encomendas de novos equipamentos sofisticados, não há software a ser desenvolvido ou instalado. Assim, o impacto negativo da indústria do petróleo acabou se espraiando por toda a atividade da tecnologia de informação no Rio.
A última rodada de licitações realizada pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) foi um sopro de esperança não apenas para a indústrias, mas também para todos os serviços que a acompanham, entre os quais a tecnologia da informação. Pelo percentual de blocos arrematados na rodada (13%), a rodada poderia ser classificada como um fracasso. Como diria Paulinho da Viola, porém, não o foi, em razão de uma aposta ousada que a Petrobras e a Exxon Mobil, associadas meio a meio, resolveram fazer na velha conhecida Bacia de Campos.
É uma aposta e tanto, pois talvez consigam descobrir alguma extensão do pré-sal, ou mesmo no pós-sal, pois as características dos blocos se assemelham às de Marlim, que ainda é, disparado, o campeão de produção no Brasil (será superado possivelmente pelos campos do pré-sal, mas até lá, se mantém como líder incontestável). A Exxon ficou de fora por muito tempo da atividade de exploração de petróleo no Brasil. Foi infeliz na Bacia de Santos, pois arrematou o único bloco que até agora se mostrou seco no pré-sal.
No entanto, a maior companhia petrolífera do Ocidente é conhecida por não pregar prego sem estopa. Prioriza a rentabilidade dos investimentos. Não voltaria ao Brasil apenas por vir se não vislumbrasse boas perspectivas nessa área da Bacia de Campos.
E este mês de outubro haverá licitações específicas para o pré-sal. A primeira envolvendo campos contíguos a blocos que já estão em produção. E a segunda em áreas novas, não só na Bacia de Santos, mas também na de Campos (Alto de Cabo Frio, por exemplo). Desculpem a falta de modéstia, mas a coluna cantou essa pedra para os leitores semanas atrás.  As duas licitações serão pelo regime de partilha, pelo qual, sairão vencedores as empresas ou os consórcios que se dispuserem a entregar ao governo a maior parcela de petróleo que vier a ser extraído, tal como acontecerá brevemente no campo de Libra.
As chamadas "majors", que são as grandes companhias petrolíferas, devem entrar com apetite nos leilões, porque desta vez haverá de fato competição. No de Libra só um consórcio se habilitou. E o motivo é que as regras anteriores desestimulavam os investidores. Eram obrigados a aceitar a Petrobras como sócia e operadora do campo. A lei ainda permite que a Petrobras tenha preferência sobre os blocos que serão agora licitados. A companhia já se manifestou em relação a apenas três. Nos demais, possivelmente haverá novidades.
Que venham os anjos
Os investidores anjos estão protegidos pela lei de pequenas e médias empresas, e já não ficam mais sujeitos a responder por atos da administração das companhias as quais aportaram capital. Sem esse tipo de proteção, até ações trabalhistas podiam ameaçar o patrimônio desses investidores. E, nesse caso, toda a concepção do investidor anjo – cujo objetivo é injetar capital em pequenas companhias capazes de decolar – ia por água abaixo. Infelizmente, na regulamentação da lei, o Ministério da Fazenda olhou mais para o lado fiscal do que para o investimento e tributou os ganhos de capital dos anjos como se eles estivessem fazendo aplicações em renda fixa ou emprestando dinheiro. Não considerou que são aplicações de risco e deveriam ser tratadas como tal (ou seja, com estímulo fiscal). O deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), que foi relator da lei, pretende convocar uma audiência para reverter esse quadro. Se não, vai ficar difícil os anjos porem os pés na terra. A propósito, a taxa de investimento na economia brasileira caiu uma barbaridade nos últimos anos.

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