Em dúvida

Em dúvida

POR GEORGE VIDOR
Câmbio está calmo, embora muitos investidores tenham feito as malas, em dúvida quanto à recuperação da economia brasileira
O ápice da crise política vai ficando para trás e o Brasil não está sob perspectiva negativa no horizonte das principais agências internacionais de avaliação de risco. O estrago que podia ser feito pela perda do grau de investimento no conceito dessas agências já ocorreu. No entanto, mesmo com as taxas de juros estratosféricas que são oferecidas aqui, investidores permanecem em dúvida quanto à trajetória da economia brasileira. Os estrangeiros diminuíram suas aplicações em títulos do Tesouro emitidos em reais. E os brasileiros não têm tomado tantos empréstimos lá fora. Isso se reflete na chamada conta financeira do câmbio contratado (que no acumulado do ano está no vermelho em aproximadamente US$ 50 bilhões).
O resultado da entrada e saída de moeda estrangeira no país permanece negativo também por outras razões, entre os quais a venda de bancos e empresas internacionais para grupos brasileiros, cujo pagamento é feito em divisas. A rede do HSBC foi vendida para o Bradesco e mais recentemente a do Citibank para o Itaú, por exemplo.
Se o fluxo do câmbio como um todo está negativo em US$ 8 bilhões, qual o sentido de o real ter se valorizado frente ao dólar este ano? O comportamento do câmbio é sempre uma incógnita no mundo inteiro, mas no Brasil essa característica é exacerbada pelo contrataste entre o grande volume de transações no mercado futuro e o que é transacionado à vista, com entrega imediata de moeda. Essa diferença é de mais de vinte vezes.
Se o câmbio refletisse o fluxo do momento, o real teria se desvalorizado em 2016. Porém, a balança comercial (exportações versus importações) vem acumulando superávits recordes que ajudam a equilibrar as contas externas do país. Na prática, o Brasil está dependendo cada menos de financiamentos do exterior para fechar essas contas.
No médio prazo, quando a economia der sinais mais evidentes de melhora, os superávits comerciais tenderão a encolher. Desse modo, não se prevê mais uma valorização do real como a que ocorreu anos atrás. A suave queda nas taxas de juros, que começou na reunião do Copom da semana passada, deve ajudar porque menos capitais especulativos vão se interessar pelo país. Para o conjunto da economia brasileira é melhor que seja assim.
Não para
A economia pode andar mal das pernas, mas um negócio que não para de crescer é o das farmácias. O comércio foi muito afetado pela crise, e na direção contrária novas farmácias surgiram. Estima-se que totalizem cerca de 60 mil no Brasil. As maiores redes detêm 45% do negócio.  Várias delas surgiram de antigos atacadistas do setor, que resolveram entrar diretamente no varejo porque as margens de lucro estavam se estreitando na atividade original. Dizem eles que quem ganha dinheiro mesmo no ramo são os fabricantes. Os atacadistas ficam com uma margem de 2,5%, em média. A das farmácias nem seria tão exuberante, mas o que desperta interesse é a estabilidade do negócio. Com crise, ou sem crise, as farmácias estão sempre vendendo. E o curioso é que sempre se concentram nas vias principais das cidades.
A Drogasmil é uma rede relativamente nova (outros atacadistas tinham entrado no varejo antes dela) que se expandiu rápida: contará com 280 lojas este ano. Para se diferenciar dos concorrentes, criou uma linha própria de produtos de higiene pessoal. O sabonete líquido para quem cozinha – e deseja se livrar rápido do cheiro que alguns alimentos deixam nas mãos -  tem feito sucesso.
Retrato
Cerca de 150 empresas, entre corretoras, seguradoras e resseguradoras, vieram para o Brasil quando o mercado local se tornou mais competitivo a partir do fim do monopólio do antigo Instituto de Resseguros do Brasil, que é agora é a IRB Brasil Re, uma concorrente como as demais. Dessas 150, aproximadamente 50 se adaptaram ao país e permaneceram. As outras fizeram as malas, embora o mercado segurador seja uma das poucas atividades que não tenha encolhido com a crise – à exceção de alguns ramos, como foi o caso dos planos de saúde. Meio travado está o mercado de grandes riscos. Desde o rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana, entrou em compasso de espera. Ninguém consegue avaliar o tamanho das indenizações que ainda terão de ser feitas pelo estrago da lama que desceu pelo Rio Doce até o mar.
Nem sempre
A experiência acumulada por anos de trabalho é menos valorizada do que se imagina entre os consultores de empresas. A turma mais sênior, acima de 60 anos de idade, representou apenas 1,4% num universo de 561 empresas de consultoria pesquisadas por Luiz Affonso Romano, ele mesmo um dos veteranos do setor. Como nem todos responderam à pesquisa, é possível que esse percentual seja um pouco maior.
 Romano renova a pesquisa anualmente e em 2016 constatou que 32,6% dos consultores estão faixa de 31 a 45 anos, vindo a seguir a faixa de 26 a 30 anos, com 26,9%. Os homens ainda são maioria (56,5%) no ramo. A principal atividade dos consultores está focada na estratégia dos clientes. Tanto assim que 64,5% ficam trabalhando diretamente nas instalações dos contratantes, e não em casa ou no escritório. A boa notícia é que mais de 80% estão satisfeitos ou muito satisfeitos com o que fazem e esperam faturar mais em 2017, com serviços contratados pelo setor privado.

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