Ajuste na marra

Ajuste na marra

POR GEORGE VIDOR
A economia vai se ajustando meio que na marra. Depois das contas externas e dos salários, inflação finalmente começa a ceder
A sensação é que a economia está completamente parada, mas ela ainda se mexe, o que é natural, pois todo mundo tem conta para pagar durante o mês. O ajuste, que começou pelas contas externas com a forte desvalorização do real no ano passado, vem passando pelos salários, devido à onda de desemprego no mercado de trabalho formal, que eliminou 2 milhões de empregos com carteira assinada. E está chegando também, finalmente, na inflação. Até os analistas financeiros mais pessimistas já preveem que o índice oficial de inflação (IPCA) poderá ficar em 2016 no topo da meta, recuando dos atuais 9,5% para 6,5%.
A indústria de transformação deve apresentar uma tímida recuperação em decorrência da substituição de importações e de incremento nas exportações. Com o dólar acima de R$ 3, a indústria saiu de uma balança comercial altamente deficitária e este ano é possível que feche com pequeno superávit.
A economia sempre se ajusta. Tanto melhor se for de maneira mais organizada, atenuando os impactos negativos de perda de renda e qualidade de vida. Se não for assim, a economia se ajusta na marra, como acabou acontecendo no Brasil na esteira dos desatinos de política econômica praticados especialmente em 2014. Desatinos dos quais infelizmente não estaríamos ainda livres, haja vista o que Lula e seus fiéis seguidores andaram falando por aí.
Se o Senado confirmar a decisão da Câmara e abrir o processo de impeachment contra Dilma Rousseff, supostamente esse risco diminui em um governo Michel Temer, mesmo que temporário.
Custo da não reforma
Servidores estaduais inativos e pensionistas do Estado do Rio ficaram sem receber porque o fundo previdenciário não tem dinheiro. Como o país empurra com a barriga a reforma inevitável, esse risco pode se generalizar entre estados e municípios que têm regime próprio de previdência. É muito difícil convencer a sociedade que em economia de fato não existe almoço grátis.
Mobilidade, “quae sera tamen”
Os Jogos Olímpicos certamente ajudaram a tirar do papel um projeto de mobilidade urbana que tornará a vida dos cariocas menos infernal, no que se refere ao trânsito. O escritório do arquiteto Jayme Lerner, ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná, projetou esse sistema e a Prefeitura do Rio, com adaptações, absorveu anos depois a ideia, com a construção de corredores exclusivos para ônibus articulados, capazes de transportar 140 passageiros, de uma só vez, os chamados BRTs. Até julho serão inaugurados dois novos corredores (o TransOlímpica, ligando a Barra da Tijuca ao subúrbio de Deodoro) e o lote zero da TransOeste, que estenderá a via atual até a estação terminal do metrô, no início da Barra. Embora sem data para inauguração, tudo indica que um trecho inicial da TransBrasil (entre a Ilha do Fundão e o centro da cidade) também estará apto para ser usado em 2016.
A novidade é que esses corredores se entrelaçam e por isso serão criadas 12 diferentes linhas de BRTs. O passageiro que embarcar em uma estação de integração com outros meios de transportes (metrô e trens) ou com linhas de ônibus que “alimentam” o sistema, não precisará mais fazer baldeação. Por exemplo, quem sair de Jacarepaguá poderá ir direto para o início da Barra da Tijuca. Da Penha para o centro da cidade e vice-versa.
Para isso já foram comprados mais de cem ônibus articulados pare reforçar a frota existente. E muitos ônibus convencionais deixarão de circular, aliviando o trânsito. A intenção é que até 2018 cerca de 67% dos cariocas vivam a menos de um quilômetro de algum ponto ou estação de um transporte público de alta capacidade (BRTs, metrô e trens). Esse percentual não passava de 18% anos atrás.
A TransBrasil deverá funcionar parcialmente com apenas uma estação prevista no meio do caminho (a da Fundação Oswaldo Cruz, FioCruz, onde muita gente desce para pegar ônibus convencionais que seguem pela Linha Amarela até a Barra). Quando estiver pronta, a TransBrasil terá dois terminais de integração com ônibus que virão de municípios da Baixada Fluminense, pela Via Dutra e pela Rio-Petrópolis. O ideal é que houvesse também BRTs intermunicipais, o que aliviaria muito o centro do Rio da chegada e saída de centenas de ônibus convencionais, especialmente nos horários de pico. É um investimento que poderia ser negociado com as concessionárias das rodovias, pois tanto o governo federal como o estadual estão quebrados.
Os BRTs cariocas hoje transportam cerca de 550 mil passageiros nos dias de semana. Como é cobrada uma passagem apenas, mesmo que faça baldeação esse passageiro é contado como uma viagem. Para efeito de comparação, o metrô transporta 840 mil passageiros e os trens cerca de 700 mil.

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