Pesadelo e esperança

Pesadelo e esperança

POR GEORGE VIDOR
O recuo da inflação para o teto da meta talvez seja a surpresa positiva de 2016. Em compensação, a política continua um pesadelo
O pesadelo na política parece não ter fim, mas na economia ao menos há um sopro de esperança com o recuo na inflação. Se em dezembro o índice calculado pelo IBGE voltar a surpreender positivamente, como está ocorrendo em novembro, é até possível que o IPCA fecha no teto da meta, ou seja, em 6,5%. E se não acertar o alvo, baterá na trave. Por mais que o quadro internacional tenha ficado turbulento por causa da eleição de Donald Trump – cuja personalidade não se encaixa com o que se espera para um presidente da nação mais poderosa do planeta -  a inflação está de fato dando uma trégua por essas bandas do Sul do continente.
A recente desvalorização do real será, sem dúvida, um fator de pressão sobre os preços domésticos (ainda é um mistério o motivo pelo qual a variação do dólar impacta a tarifa de águas e esgoto; mas...paciência). No entanto, o caminho está pavimentado para o Banco Central baixar as taxas básicas de juros já nesta quarta-feira. O corte nos juros não será um caminho rápido, porém, quem sabe, talvez o sopro de esperança empurre a taxa Selic para 9,75% ao fim de 2017.
O imprevisível nisso tudo é o rumo da política e o efeito sobre a economia. A lenta recuperação da economia também pode estar influenciando negativamente a política.
Aposta
O mercado imobiliário ainda não digeriu o estoque de lançamentos do período de euforia do setor, mas a Brookfield – do grupo canadense originário da Brascan –, baseando-se em pesquisas que apontaram oportunidades mais compatíveis com o poder de compra dos clientes em potencial, voltou a investir. No Rio, lançou três edifícios residenciais (em áreas como Jacarepaguá e Abolição, na região suburbana), e, em São Paulo, outros sete. Para esses empreendimentos, a empresa acredita que atrairá compradores que prefiram apartamentos na planta, pois durante a obra conseguem acumular a poupança que teriam de dar logo de entrada em um imóvel pronto. E quanto receberem o apartamento, dento de dois anos, provavelmente encontrarão financiamentos a juros mais baixos para pagar o restante do valor do imóvel.
No enriquecimento
Se tudo continuar correndo bem, em janeiro deve começar o processo de licenciamento da segunda fase da usina de enriquecimento de urânio da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Resende. O investimento para que usina atinja uma capacidade de produção de 500 toneladas por ano – o suficiente para abastecer Angra 1, 2 e 3, mais os reatores de pesquisa e o que será usado no futuro submarino nuclear brasileiro – é estimado em US$ 510 milhões, dos quais US$ 170 milhões se referem à primeira fase, na qual foi testada em escala industrial, com sucesso, a tecnologia desenvolvida pela Marinha.
Além do desenvolvimento tecnológico, a conclusão do projeto proporcionará ao país uma economia anual de divisas da ordem de US$ 51 milhões. Esse é o gasto com importação de urânio enriquecido que terá de ser feito para se preparar os elementos combustíveis das usinas nucleares (que todos os anos precisam recarregar um terço do combustível de seus reatores).
O Brasil tem jazidas de urânio natural capazes de suprir a demanda interna e ainda garantir um razoável volume de exportação. Poucos países dominam a tecnologia do enriquecimento de urânio, que é necessário para se transformar o minério em elemento combustível de usinas nucleares que geram energia elétrica. Para esse fim, o urânio é enriquecido a 4,15%, muito menos do que destinado para armamentos (acima de 20%). De qualquer forma, há um controle internacional muito forte sobre usinas de enriquecimento exatamente para se evitar "camuflagem" de programas militares, como acontecia com o Irã antes da assinatura do acordo com os Estados Unidos e países europeus.
A INB é uma estatal que ainda depende de repasses do Tesouro Nacional. Somente com a conclusão da usina de enriquecimento e de eventuais parcerias para exportação de urânio é que a empresa passará a ter completa autonomia financeira. A INB hoje é presidida por um funcionário de carreira (José Carlos Tupinambá). Esta é a segunda vez que issso ocorre. O primeiro presidente oriundo do quadro de funcionários foi Roberto Garcia Esteves.
Ainda às turras
Os japoneses (Nippon Steel) continuam sem se entender com os sócios italianos (Ternium) na Usiminas. Entraram na justiça em Minas e conseguiram reverter a decisão do conselho de administração da companhia, que havia posto na presidência o diretor financeiro da siderúrgica. Mas essa iniciativa dos japoneses não agradou aos demais sócios, pois os indicadores da Usiminas vinham registrando melhora progressiva, com geração de caixa (Ebitda) e aumento de produção na unidade de Cubatão (antiga Cosipa). Os japoneses têm três votos no conselho. Os italianos, os representantes dos minoritários, dos funcionários, da caixa previdência e da CSN têm os outros nove. Além da Usiminas, os italianos possuem mais um negócio relevante no Brasil, que é a Tenaris (ex-Confab), fabricante de tubos de aço para a indústria do petróleo, principalmente. Embora conflitos judiciais sejam comuns na Itália, eles ainda não conseguiram decifrar os enigmas da justiça brasileira.

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