Brasis

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POR GEORGE VIDOR
Regionalmente a renda continua concentrada. Mas, na média por habitante, o atraso vai ficando para trás em estados antes considerados bem pobres
O Brasil conta com uma gama de estatísticas econômicas e sociais invejáveis, especialmente as coletadas e elaboradas por institutos de pesquisas oficiais, como o IBGE, embora os privados também deem grande colaboração. O olhar sobre o passado nos ajuda a entender o presente, e elucubrar sobre o futuro. Informações mais precisas atenuam os efeitos especulativos de mercados financeiros essenciais para as atividades produtivas, que, ao mesmo tempo, causam transtornos e inseguranças aos que efetivamente entregam produtos e serviços necessários ao dia a dia de todos nós, também poupadores.
Por orientação das Nações Unidos, logo após a Segunda Guerra Mundial institucionalizou-se a contabilidade nacional entre os diversos países, a partir de um modelo testado pelos holandeses. São cinco grandes contas, que possibilitam avaliar, e comparar, o valor agregado da produção (PIB), a renda nacional, o consumo, a poupança e o investimento de cada economia no decorrer de um determinado período, geralmente os doze meses do calendário. Alguns itens de uma conta permitem que se estime valores em outra (é o método das partidas dobradas, usado desde priscas eras pelos italianos). A contabilidade nacional recorre a um conjunto enorme de estatísticas e, por isso, os dados são divulgados com alguma defasagem. O IBGE acaba de divulgar as contas nacionais detalhadas de 2015, com enfoque regional, por exemplo.
Ainda que o agronegócio venha empurrando, saudavelmente, a economia para o interior, o Brasil continua carregando uma concentração de renda regional que agrava os problemas que enfrentamos, como a dificuldade de administrar aglomerados urbanos onde milhões se deslocam de um lado para o outro ao longo do dia. E que demandam serviços básicos em profusão.
Em 2015, como se sabe, a economia brasileira encolheu 3,5%. O encolhimento foi generalizado, porém em Mato Grosso restringiu-se a 0,3%. Já no pobre Amapá, no extremo Norte, a queda chegou a 5,5%.
O Brasil que no mapa é formado de Minas Gerais para baixo responde por mais de dois terços do Produto Interno Bruto. Todos os demais estados detêm menos de um terço da renda nacional (o produto é equivalente à renda, nas contas nacionais, por definição). São Paulo, sozinho, fica com 32,4% do produto e da renda. Depois vem o Estado do Rio, com 11%, seguido por Minas Gerais (8,7%), Rio Grande do Sul (6,4%) e Paraná (6,3%).
O Distrito Federal (ou seja, Brasília), pelo peso dos altos vencimentos do funcionalismo público que trabalha e vive lá, mantém, disparado, a maior renda por habitante do país, cerca de R$ 74 mil anuais, enquanto no estado mais rico, São Paulo, esse valor é da ordem de R$ 43,7 mil. Atrás do Estado do Rio (R$ 39,8 mil), já aparece Santa Catarina (R$ 36,5 mil), o que traduz bem a qualidade de vida tão invejada pelos demais brasileiros. Interessante é que alguns estados, antes vistos como muito pobres, já aparecem no ranking dos que têm renda média mais alta no país:  Mato Grosso (R$ 32,9 mil), Mato Grosso do Sul (R$ 31,3 mil) e Espírito Santo (R$ 30,6 mil). Décadas atrás, o Espírito Santo, assim como o Norte de Minas Gerais, foi incluído na região favorecida pelos benefícios fiscais da Sudene, criada para atrair investimentos ao Nordeste porque teria um grau de pobreza semelhante ao daquela região.
Há vários brasis nesse nosso imenso país. Passou o tempo em que eram apenas algumas locomotivas puxando vários vagões vazios. O trem agora está mais para metrô, com tração em todos os vagões. Só que há vagões viajando muito cheios, com excesso de peso, e outros andando mais leves.  Nem todo mundo vai poder viajar sentado nesse trem, mas com o tempo é possível melhorar a distribuição de passageiros (a renda, no caso da economia) entre os vagões para que haja mais conforto coletivo.
Cabotagem em pé de guerra
Em casa que falta pão... No primeiro governo Fernando Henrique, uma reforma constitucional permitiu que qualquer empresa brasileira, independentemente da origem do capital, possa explorar os serviços de cabotagem (a navegação de cabo a cabo, que incluí toda a costa brasileira e mais o Uruguai e a Argentina, dentro do acordo do Mercosul).  Os terminais portuários se tornaram mais eficientes o que, conjugado a essa abertura, fez com que a cabotagem fosse ganhando importância no transporte de carga, competindo com caminhões e trens.
Para terem outorga na prestação de serviços de cabotagem, a empresa precisa ter navios. Para cada navio construído no país, um outro, de igual capacidade, pode ser alugado no exterior.  Na impossibilidade darem conta de encomendas de navios dentro dos prazos adequados, as empresas podem importar navios, pagando, no ato de recebimento, um imposto correspondente a 45% do valor investido na embarcação.
As empresas que sobreviveram na cabotagem se queixam de uma competição desleal por parte de companhias que não têm frotas e arrendam navios estrangeiros de longo curso quando estão de passagem pelo Brasil. Às vezes, por uma perna (de um porto a outro), a preços que cobrem apenas o custo de permanência temporária da embarcação na costa brasileira, o que interessa ao armador. O caso está na justiça, mas caberia à Antaq (a agência reguladora) pôr ordem no terreiro. A agência está imobilizada. Já não há mais empresas brasileiras no longo curso. Na cabotagem, estão ameaçadas agora de minguarem.  
 

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