Pegando fogo

Pegando fogo

POR GEORGE VIDOR
O debate sobre as taxas de juros faz as cabeças pensantes meditarem sobre saídas viáveis para a economia
Como o debate sobre a utilidade das taxas de juros excessivamente altas no combate à inflação continua pegando fogo, vamos lá: em tese, os juros podem inibir o consumo, induzindo as famílias e os demais agentes econômicos a pouparem mais, e, assim, conduzindo o crescimento da economia mais para o lado do investimento. Na prática, não vimos isso no Brasil. A participação das famílias na taxa de poupança pouco se altera. No caso das empresas, varia em função dos lucros; e o setor público como um todo despoupa. O resultado final não tem sido relevante em termos de formação de poupança doméstica, o que torna o país dependente de poupança externa para seguir adiante.
Os juros altos envolvem uma discussão mais alta sobre acumulação de capital e transferência de renda dentro de uma sociedade já muito desequilibrada (em todos os sentidos!) como a brasileira. Uma acumulação de capital que acaba alimentando ineficiências. Não são poucos os balanços das empresas que mostram lucros operacionais minguados contrastando com resultados puramente financeiros exuberantes. Se os juros altos alimentam a ineficiência, fica quase impossível sair do círculo vicioso da inflação crônica. Além disso, os juros excessivamente altos contribuem ainda mais para manter o setor público superendividado, absorvendo as parcas poupanças domésticas, sem deixar, assim, espaço para investimentos privados.
A economia brasileira vive esse drama há anos. Às vezes troca inflação por dívida, e dívida por inflação. Fica naquela situação do “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Mas o debate sobre a questão dos juros tem o mérito de fazer as cabeças brilhantes dos nossos economistas pensarem mais sobre tudo isso, e não se acomodarem. Daí podem surgir soluções viáveis, que ajudem a nos fazer mais felizes, a todos nós.
Boutique
O mercado financeiro aparentemente se concentra em apenas alguns grandes grupos. Isso é verdadeiro quando se olha apenas para o atendimento no varejo: agências, caixas eletrônicos, transferências de recursos por via eletrônica, cartões de crédito, emissão de boletos de cobrança, e por aí vai. Mas quando se trata especificamente de negócios, compra de empresas, emissões de ações, gestão de fundos de investimentos, o mercado se pulveriza. Além dos que cuidam de fortunas, e de patrimônio de famílias ricas, há também as chamadas boutiques financeiras, que tratam de fusões, incorporações, restruturação de dívidas, etc. Em São Paulo, essas boutiques são mais comuns. No Rio, ainda há poucas, mas uma delas acabou de completar dez anos, a Aria Capital, que recentemente se tornou sócia da Wöllner, uma rede de lojas de roupas.
Fundão
A Eletrobrás é a “holding” das companhias federais no setor elétrico.Historicamente algumas de suas subsidiárias tinham mais força que a própria companhia mãe. Só de uns anos para cá é que a Eletrobrás assumiu mesmo esse papel de “holding”, não apenas pelo aspecto financeiro, mas fixando diretrizes de investimento, coordenação e as chamadas sinergias entre suas subsidiárias. Especificamente no caso dos recursos humanos, as subsidiárias adotam hoje regras convergentes. Como resultado disso, é intenção da Eletrobrás pôr os fundos de previdência privada dos funcionários das subsidiárias sob o mesmo guarda-chuva, um pouco parecido com o que aconteceu na Petros, que se tornou um fundo multipatrocinado, não mais restrito a empregados da Petrobras mãe.
A ideia é dar mais poder de fogo a esses fundos, juntando forças. Mas, para tal, questões terão de ser observadas para que os participantes saiam de fato ganhando. A maior parte dos participantes ainda está sob o regime de “benefício definido”. Por esse sistema, o participante contribui x e fica acordado que receberá y após a aposentadoria. Em face da crescente dificuldade para se garantir o valor desse benefício, os fundos migraram para o regime de “contribuição definida”, pelo qual os futuros recebimentos dependerão da rentabilidade apurada nas aplicações ao longo do tempo. A vantagem é que, se bem administrado, o participante poderá receber bem mais do que hipoteticamente teria como “benefício definido”, que é sempre calculado por baixo, devido aos riscos que um compromisso desse tipo envolve.
Fundos de pensão de várias estatais foram usados politicamente, para investir em projetos de interesse do governo. Ou seus administradores fizeram más escolhas, motivados por interesses escusos. Alguns fundos sofreram uma limpeza e um deles é o Real Grandeza, de Furnas, que vem saindo bem na foto. Desde 2010 adotou uma política de investir em títulos públicos de longo prazo, o que levou o fundo a liderar o ranking de rentabilidade (acima de 28%) entre os 15 maiores fundos de previdência privada. O segundo lugar ficou com o Itaú Unibanco (mais de 20%).

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