Um certo alívio

Um certo alívio

POR GEORGE VIDOR
As duas grandes estatais federais vão efetivamente investir em 2017 mais que no ano passado
A recuperação dos investimentos este ano envolverá as empresas estatais, especialmente. Tanto Petrobras como Eletrobrás investirão efetivamente mais que em 2016, considerando-se o desembolso financeiro (e não o que é orçado, previsto). E a boa notícia é que esses investimentos ocorrerão não pela via do endividamento excessivo dessas companhias, mas já pelo efeito do ajuste que tiveram de enfrentar, depois de terem sido detonadas no governo anterior.
O investimento das duas grandes estatais deverá corresponder a 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB). O governo federal como um todo – não incluindo Petrobras e Eletrobrás – não deve investir este ano em infraestrutura mais que 0,8% do PIB. E nesses investimentos estarão incluídos os repasses de verbas para a construção subsidiada de habitações populares, pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Não dá ainda para abrir uma garrafa de espumante. Mas já vale uma singela comemoração pós-carnaval com aquelas garrafinhas.  
Comédia
Barcelona abriga todos os anos um evento na qual as empresas envolvidas na telefonia móvel apresentam suas novidades. E este ano, assim como nos eventos mais recentes, essas novidades giram em torno da “internet das coisas”. Cada vez teremos nossas vidas com as coisas se “comunicando” com as coisas. O que tornará ainda mais dependentes do bom funcionamento das redes de telecomunicações, especialmente da chamada banda larga.
No Brasil, hoje quase ninguém consegue mais sobreviver sem a telefonia móvel. De fato, as áreas de atendimento continuam crescendo, porém o serviço oferecido muitas vezes é irregular ou intermitente. Não por acaso as operadoras de telecomunicações são campeãs absolutas de queixas no Procon (embora esse número envolva apenas 1% dos seus usuários).
Exemplifico com o meu próprio caso, apenas para ilustração. Passo os fins de semana em uma área que não é um centro urbano, mas também não é um local isolado, e está bem próxima de uma das principais rodovias do Rio de Janeiro. Lá a banda larga depende da telefonia móvel, totalmente. E a escolha teve de ser pela operadora com melhor sinal na região. Desde o início de janeiro o sinal desapareceu. Após tentativas hilariantes de resolver o problema pelo call center (a descrição dos diálogos teria que ir para uma crônica de humor, pela impossibilidade de tentar fazer o outro lado entender o que estava se passando), acabei descobrindo, por minha própria conta, que o problema se devia a uma briga com a proprietária do terreno que abriga a antena da operadora. Não se entendem sobre o aluguel e a proprietária não deixa mais ninguém entrar para fazer a manutenção do equipamento. Por isso, o sinal, que já vinha intermitente, de repente desapareceu por completo. E agora? Reclamar com o bispo?
Supondo que tudo lá estivesse agora funcionando com base na “internet das coisas”, o que fazer? Seria um total desespero. E isso sem contar que um jornalista não dá mais um passo adiante sem banda larga e telefone celular. Não há para onde correr, pois o sinal das demais operadoras não é satisfatório por ali. Um trecho de oito quilômetros da tal rodovia, importante para o transporte de cargas, está sem sinal dessa operadora. É uma questão greve de segurança na estrada. 
Conclusão: nossos sistemas de telecomunicações acertam na massificação, mas não conseguem compatibilizar isso com a prestação de serviços de maneira individualizada, cliente por cliente. No entanto, sem essa compatibilidade o índice de insatisfação dos consumidores será sempre muito alto. E mercadologicamente negativo para as próprias empresas. Não foi por acaso que a Oi mergulhou em crise. Mas essa é uma outra história, pois operadora a que me referi começa com a letra C. Poderia descrever inúmeros outros exemplos envolvendo todas as demais, sem exceção. Se vamos de fato entrar na “internet das coisas”, os serviços terão de melhorar MUITO. A mudança na legislação das telecomunicações, em tramitação no Congresso, talvez ajude.
Rotina
As crises pelo mundo se tornaram tão rotineiras que os principais executivos das maiores empresas já não fazem planos especiais para enfrentá-las. De 165 CEOs (presidentes executivos) dessas companhias globais ouvidos pela PwC – aquela que se confundiu na entrega do Oscar de melhor filme este ano...- somente 21% disseram que farão tal tipo de planejamento para os próximos doze meses. No entanto, 65% deles responderam que passaram por crises nos últimos três anos.

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