Efeito prático

Efeito prático

POR GEORGE VIDOR
A queda dos juros traz de volta para o mercado imobiliário um número considerável de famílias
A conta é conhecida, mas vale repetir para se ter uma ideia do efeito prático imediato da redução da taxa básica de juros na economia brasileira: para cada ponto percentual de queda, o valor exigido de renda familiar mensal para concessão de financiamentos imobiliários também diminui em aproximadamente R$ 1 mil. Ou seja, a queda dos juros traz de volta para o mercado um número considerável de famílias, para as quais a compra da casa própria se tornara inacessível por falta de crédito.
A redução dos juros é assim uma alavanca para uma das áreas da economia, a construção civil, que mais gera empregos. Mas o setor definhou muito nos últimos anos, contribuindo fortemente para o círculo negativo da recessão e do desemprego. Outro segmento que sofre impacto direto da redução dos juros é o mercado de veículos, caminhões e ônibus. Em relação a esses últimos, o BNDES concede financiamentos equivalentes a 80% do valor do veículo, com um ano de carência para o início dos pagamentos. Porém metade do financiamento é a taxas de mercado, sem qualquer subsídio. Nos atuais patamares, as empresas não se sentem estimuladas a renovar suas frotas.
O Comitê de Política Monetária (Copom) baixou para 12 ao ano a taxa básica de a ((Selic), o que é ainda muito alta considerando-se a trajetória atual da inflação. No entanto, é como se fosse uma pedrinha jogada no meio do lago. Para que o movimento da água chegue até a borda, levará algum tempo. Mas, ao menos a água já começou a se movimentar.
Fora do prumo
O setor elétrico ainda não conseguiu se recuperar inteiramente do vendaval que sofreu no governo Dilma. E a conclusão é que os investimentos somente voltarão à normalidade com uma redefinição dos seus marcos regulatórios. Não é preciso partir do zero, mas modificações precisam ser feitas para que o risco do investimento se torne compatível com a lucratividade desse segmento, que tradicionalmente não está entre as mais altas.
A agência reguladora (Aneel) se conscientizou disso e tem ouvido o setor sobre essas mudanças. O grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) é um dos que mais tem se debruçado nesses estudos, na procura de formas que atenuem o impacto econômico das oscilações nos preços da energia do mercado de curto prazo. Quando o chove pouco, e os reservatórios esvaziam, as geradoras e distribuidoras se encalacram. Mas quando sobra energia, se encalacram do mesmo jeito. Algum meio termo talvez seja possível.
Antiterceirização
 No Congresso até que o tema andou. No judiciário já há alguma compreensão em relação a isso, mas a maior resistência à terceirização hoje parte do segundo escalão do Ministério do Trabalho. A Associação nacional dos Hospitais Privados chegou a entregar um ofício ao Ministério propondo-se a discutir a questão e a resposta foi uma total rejeição. O segundo escalão se nega a debater a terceirização pois chega a vinculá-la a trabalho escravo. No caso específico dos hospitais, como superar esse impasse, se 70% dos médicos são autônomos? Atendem simultaneamente pacientes em diversos hospitais. Não há como estabelecer um vínculo empregatício entre eles.
Termômetro
O número de contêineres movimentados nos portados brasileiros caiu 4% no ano passado. Mas pela primeira vez as exportações lideraram a quantidade de cofres de carga movimentados, chegando a 54%. Menos mal. Os dados são do Centronave (Centro Nacional de Navegação Transatlântica
Medo dos abutres
Se houver mesmo a fusão dos fundos de previdência privada das empresas do grupo Eletrobrás, o número de abutres que costuma rondá-los terá de diminuir, mas em compensação poderão despertar o apetite das aves de rapina mais famintas, pois ficarão mais gordos. Esse é o temos de alguns ex-dirigentes desses fundos. Se ficarem muito grandes, podem se distanciar dos participantes, e haverá menos controle sobre a administração. Questões que ainda estão em jogo para serem discutidas.
Termômetro (2)
A Global Line, de Andrea Fuks, faz uma pesquisa, em parceria com a
Worldwide ERC, junto a duzentas empresas no Brasil para avaliar como a anda a ida e volta de executivos no Brasil. Conclusão: diminuiu muito a expatriação de executivos, especialmente por parte das multinacionais brasileiras. Ao que parece, a expansão dos negócios lá fora perdeu prioridade, por enquanto. Tempos de lava-jato.
Com esta coluna de leitura leve, própria para o dia de hoje, desejo a todos um bom fim de carnaval.

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