Huashuashuashuash

Huashuashuashuash

POR GEORGE VIDOR
Economia brasileira vive nova realidade com taxas de juros mais baixas na era do real
Muitos leitores não vão entender o título. É uma expressão que os mais jovens costumam usar em redes sociais para expressar uma risada, um contentamento. Como estamos em novos tempos, e ainda é carnaval, "huashuashuashuash", no caso, é de alegria, para comemorar entusiasticamente o mais baixo patamar de taxas básicas de juros nominais da história do real. Juros básicos de 6,75%, sem pirotecnias, é total novidade em nosso país. E como qualquer experiência nova, será preciso testá-la na prática.
A inflação tem dado sinais de que se acomodará em um patamar abaixo de 4% em 2018. Nem sequer sabemos quais serão os candidatos a presidente da República, ou a governador e a senador na grande maioria dos estados, e a economia brasileira segue em ritmo de recuperação, mesmo que lenta. A previsão do governo é que 2,5 milhões de postos e trabalho poderão ser criados este ano, seja pelo incremento das atividades produtivas, seja pelos efeitos positivos da reforma trabalhista (um exemplo: o município de Petrópolis teve em janeiro metade das causas na Justiça do Trabalho do que no mesmo mês de 2017).
Se, por um lado, a redução dos juros básicos impulsiona investimentos produtivos (há que se pensar em alternativa às aplicações financeiras) e consumo, por outro proporciona forte redução no custo de se produzir, transportar, comprar, vender. Antecipadamente (ex ante, como gostam de escrever os economistas) não se consegue estimar o resultado dessa equação. Mas o Banco Central não está mergulhando em uma aventura, e nem brincando de política monetária. Qualquer pessoa de bom senso que se sentar em uma diretoria do BC não terá dúvidas de considerar o patamar de taxas de juros no Brasil uma grave anomalia, uma aberração. No passar do tempo não há como se sustentar uma política que tenta trocar inflação mais baixa por juros mais altos. É uma bomba relógio, uma espada de Dâmocles sobre a economia.
O BC não pode tudo. O conserto das finanças públicas é primordial para se ter uma economia que caminhe sem recorrer a entorpecentes. O equilíbrio fiscal não será obtido da noite para o dia, porém para os mercados, para os agentes econômicos, é essencial que se construa uma estrutura, uma base institucional, que ajude a alcançar tal objetivo. Mesmo com a reforma da previdência capengando (porque parte significativa da sociedade e dos parlamentares que vão apreciá-la no Congresso continua acreditando que 2 mais 2 são 5), parte dessa estrutura foi construída. Então o BC está remando em maré a favor. Não baixar os juros nessa conjuntura seria jogar fora uma oportunidade de ouro.  
Animados
Como muitos negócios de libaneses que imigraram para o Brasil na primeira metade do século XX – fugindo do império otomano ou por outros motivos-, a Casas Pedro nasceu como uma pequena loja de sobrado na região do centro do Rio que hoje é conhecido como SAARA (por conta da Sociedade dos Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega), lugar que cristãos, judeus e muçulmanos convivem amistosamente. A família vivia no andar de cima do sobrado, e a loja funcionava no térreo. Sempre vendendo temperos, especiarias e coisas que os cozinheiros amam e têm dificuldade de encontrar no mercado. A segunda geração abriu novas lojas na mesma região, mas em determinado momento os dois irmãos resolveram cada qual seguir o próprio rumo. Mas ficaram com identidades parecidas, pois um tinha a Casa Pedro e o outro a Casas Pedro. Quando o tio começou a ter problemas, o sobrinho – já com a terceira geração assumindo – comprou a parte dele. E virou tudo Casas Pedro.
Depois do lançamento do real em 1994, o varejo ficou perdido, sem saber mais como ganhava dinheiro. A inflação despencou e a realidade veio à tona. Foi preciso reorganizar o negócio. Mas a decisão de buscar um novo caminho é relativamente recente. Com 16 lojas em 2015, a Casas Pedro catou profissionais renomados no mercado, mas com uma atividade tão peculiar no varejo, deu com os burros n'água. No começo de 2016, com o impacto da desvalorização do real, quase foi à lona. A família teve de se desfazer de patrimônio, acertou as contas e procurou uma parceria. Desde então não parou de crescer, abrindo lojas na Zona Sul e em outros cantas da cidade.
Este ano a Casas Pedro espera inaugurar oito novas lojas, chegando a 32, atingir um faturamento de R$ 227,4 milhões (mais 38% em relação a 2017) e passar de mil empregados. Investiu em um moderno centro de distribuição no bairro de São Cristóvão, onde funciona também a loja virtual (televendas). São vinte mil itens comercializados, com 19 novos produtos sendo testados a cada mês – alguns saem do cardápio, outros entram em definitivo. O pão folha e as massa de esfihas e salgados são feitos em uma fábrica de propriedade da família, que funciona no centro do Rio. A Casas Pedro lembra os antigos armazéns de secos e molhados, os empórios da vida. Os funcionários atendem sempre com boa vontade e não por acaso os novos gerentes são escolhidos entre eles.

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