Não foi de vez

Não foi de vez

POR GEORGE VIDOR
Comemoramos o natal ainda com muitos problemas, mas do caos econômico está ficando para trás
Com tudo que aconteceu, é mesmo difícil chegar a última semana do ano sem desalento. O brasileiro é mesmo um povo sem caráter?, pergunta que vinha do Primeiro Mundo  lá pelos anos 1960, quando o país patinava no subdesenvolvimento e não conseguia transformar em riqueza seus abundantes recursos naturais. Para dar a resposta, íamos buscar explicações em nossas raízes e na complicada formação do Brasil como nação. Várias décadas se passaram, a economia se transformou, porém muitas das mazelas permaneceram. O país já não convive com uma fome assustadora e nem com uma ignorância endêmica. Não saber ler e escrever deixou de ser a regra para se tornar exceção. No entanto, apenas 15% da população adulta têm curso superior completo. Uma elite acadêmica. Desigualdades regionais e entre as pessoas – acentuadas quando se considera o tom da pele - continuam escandalosas.  
Mas o caos que se abateu sobre a economia está ficando para trás. Fecharemos 2017 com as taxas básicas de juros nominalmente mais baixos desde que me dou como gente; e inflação (3%) no limite do que a União Europeia considera hoje como suportável para os aderentes ao euro, a moeda única de lá. O desemprego se mantém acima de 10%, entre outras razões porque a construção civil ainda não reagiu como deveria. E obras de infraestrutura que poderiam estar em curso continuam travadas ou não saem do papel devido a nossas crônicas ineficiências e constrangedora burocracia. A agenda de reformas avança aos trancos e barracos (fomos o último país a abolir a escravidão e seremos também o último a promover a óbvia reforma da previdência). O nosso amaldiçoado Estado do Rio de Janeiro se esforça para sair do buraco. O petróleo já foi a tábua de salvação, e é dele que se espera em 2018, mais uma vez, o empurrão que a economia fluminense está de todo tão precisada.
Na contramão
Esta semana o grupo 14zero3 (uma alusão à data comum de aniversário dos dois sócios, Gustavo Gill e Leonardo Rezende) inaugura mais um restaurante no Rio, com especialidade em comida grega-mediterrânea. Será vizinho, em Ipanema, ao badalado Pici, de cozinha italiana, o primeiro que a dupla abriu desde que ambos se desfizeram da rede de bares Botequim Informal. No início do mês, o grupo 14zero3 abriu o Luce, também de cozinha italiana ("pratos afetivos, daqueles que o cliente volta depois para repetir", define o sócio Leonardo), no shopping Fashion Mall. No início do ano, será a vez, também em Ipanema, de uma filial da Brasserie Mimolette, que já funciona no Leblon. E até maio, devem abrir o primeiro Heat, um restaurante ao estilo americano de carnes (com molho barbecue à parte, felizmente).
Cerca de 100 restaurantes fecharam no Rio durante a crise que se abateu sobre o país e a cidade. Tal retração criou igualmente oportunidades para empreendedores entusiasmados. Em apenas um ano, o grupo 14zero3 passou a empregar 160 pessoas, pagando salários acima da média de mercado e faturando cerca de R$ 30 milhões. Com as novas casas, chegará a R$ 80 milhões, mas os planos são de ir também para o exterior e encontrar um patamar de faturamento da ordem de R$ 350 milhões, sempre na linha de restaurantes com cozinhas variadas. A próxima aventura será um restaurante de comida asiática, que será reaplicado, assim como a Mimolette e o Hit. Todos os restaurantes têm seu próprio chef, mas sob orientação de um supervisor, Elia Schramm. O segredo do sucesso é um pouco antigo, mas totalmente válido: os donos estão sempre à beira do balcão.
Magia
Jornal só traz notícia ruim. Essa é a impressão que se tem da mídia desde os tempos de Gutenberg, embora não seja verdadeira, estatisticamente, pois se fossemos classificar as notícias em positivas ou negativas iríamos constatar que mais da metade do que é publicado poderia ser rotulado como neutra. No entanto, as notícias que geralmente marcam a todos são de fato aquelas que chocam, mexem com as emoções. Daí os jornalistas muitas vezes serem vistos como abutres da sociedade. Como ninguém é obrigado a comprar jornal, acessar sites de notícias ou assistir ao que a TV e o rádio estão veiculando, é de supor que a mídia atende a demandas variadas do público. Seja como for, ainda que o mundo esteja vindo abaixo, em toda a edição de natal guarda-se um espaço para uma mensagem que reflita as celebrações da data, comemorada no Ocidente mesmo pelos não foram criados na fé cristã ou não acreditam em Papai Noel.
Como é época de troca de presentes, e também de celebrações, o noticiário estará voltado para as vendas, comparando-se o natal deste ano com o anterior. Não deixa de ser um bom termômetro da economia. Mas mesmo para uma coluna que trata preferencialmente de temas econômicos não é possível se ater apenas aos números frios. Nessa época, alguns ficam mais alegres e outros mais tristes, porém não indiferentes. Essa é a magia do natal, que sempre abre uma pitada de esperança, individual ou coletiva, ainda que os tempos andem sombrios. E é assim que desejo a todos um ótimo dia de natal, esperançoso que tenhamos um 2018 com menos aflições e mais boas notícias.

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