E "la nave va"

E "la nave va"

POR GEORGE VIDOR
Indústria do petróleo já se ajustou no mundo aos patamares de preços mais baixos. No Brasil, também
A forte queda dos preços do petróleo mudou a cara do setor. As grandes companhias reviram seus custos e algumas conseguem hoje produzir mais no Golfo do México gastando um terço a menos do que nos tempos da bonança. Embora as cotações internacionais do óleo tenham voltado a subir e estejam oscilando na faixa de US$ 60 a US$ 70 o barril, a pressão sobre os custos, para baixo, será mantida. No caso do Golfo do México, houve considerável redução nos gastos com logística. Barcos de apoio às plataformas de exploração e produção têm sido afretados com mais rigor. E equipamentos alugados não ficam parados à espera de ordens de serviço.
No Brasil, essa é também a realidade da indústria, talvez de maneira ainda mais dura porque a companhia líder, a estatal Petrobras, ficou atolada dentro de um profundo lodaçal de corrupção patrocinado por quem deveria ter cuidado dela. Um rolo compressor passou sobre a cadeia produtiva sem distinguir gregos de troianos. Muito lentamente, a própria Petrobras e os demais atores da indústria estão passando uma peneira para separar o joio do trigo, à medida que os investimentos são retomados. A situação mais crítica é a dos estaleiros, que no curto prazo não têm perspectiva de encomendas. Os blocos recentemente licitados demandarão de imediato pesquisas. A fase da contratação de grandes equipamentos ainda vai demorar.
 E há também impasses nas negociações. Os estaleiros Brasfels (Angra dos Reis) e Jurong (Aracruz) estão com sondas de perfuração, que haviam sido encomendadas pela Sete Brasil, praticamente prontas, aguardando definição. No Eisa1 (Estaleiro Mauá, Niterói)), há três petroleiros em condições de serem entregues nos próximos meses e não se chega a um entendimento. No Rio Grande do Sul, partes de uma plataforma em construção correm o risco de serem vendidas como sucata. No Comperj, a conclusão da rede de tubos, que será necessária não só para o funcionamento da futura refinaria, mas também para a entrada em operação da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) até 2019, aguarda autorização da Petrobras.
A indústria brasileira em geral, e, em especial, a de bens de capital (máquinas e equipamentos), habituou-se ao protecionismo, à reserva de mercado. Políticas que até se mostraram necessárias em determinados momentos. Está em questão, no momento, por exemplo, o descomissionamento de plataformas da Petrobras que vão chegando ao fim de sua vida útil ou que não servem mais aos propósitos originais (caso dos equipamentos utilizados no pioneiro campo gigante de Marlim, na Bacia de Campos). A indústria naval, sufocada, reivindica privilégios nesse processo. Difícil concorrer com Bangladesh, onde navios são largados nas praias e os cascos cortados com maçaricos por centenas de pessoas, amarradas em cordas e descendo de rapel pelas paredes de aço.   
Mesmo assim, com tantos impasses, o setor de óleo e gás não está de braços cruzados no país. Todos os dias, os parceiros assinam três documentos, em média, relativos aos campos operados pela Petrobras na camada do pré-sal na Bacia de Santos. Mais de mil documentos por ano envolvendo decisões relacionadas à operação dos campos (sem considerar os contratos de grandes equipamentos). Até a Bacia de Campos, com produção em declínio, demanda novos serviços. No ano passado, o Parque Bellavista, empreendimento privado em Macaé que abriga empresas de suprimentos da área de petróleo, recebeu mais quatro companhias. Macaé quase virou uma cidade fantasma e volta a ter vida.
Uma coisa é certa: o setor de óleo já deixou de andar para trás no Brasil e certamente 2018 será melhor que 2017 para a atividade.
Robôs nas bolsas
Não faz tanto tempo assim que os investidores precisavam enviar ordens de compra e venda de ações pelo telefone. Eram atendidos por operadores nas corretoras. Um sistema dispendioso, que onerava os custos de intermediação e afetava a liquidez nas bolsas de valores. Uma corretora carioca inovou substituindo esse sistema por contatos diretos dos clientes por meio de computadores. Ainda assim, o sistema continuou caro. Até que uma empresa (Americas Trading Group), criada por ex-operadores, passou a oferecer ao mercado uma plataforma comum. A terceirização reduziu os custos. As dez maiores corretoras do país a utilizam (e 18 entre as 20 principais).
 Esse sistema foi avançando e obteve junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e ao Cade – órgão que combate a cartelização da economia – direito de acesso também à custódia de títulos gerenciado pela B3 (antiga BM&FBovespa). Não deixa de ser o embrião de uma nova bolsa de valores no país. De qualquer maneira, tudo leva a crer que os custos vão diminuir mais para se negociar ações e outros papéis, ampliando a liquidez do mercado, o que significa que se tornará mais fácil comprar e vender ações.  

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