Ainda falta o azul

Ainda falta o azul

POR GEORGE VIDOR
PIB já será positivo no trimestre, mas ponto final na crise depende do azul nos números do emprego
O primeiro trimestre já está perto de fechar as portas, mas, oficialmente, pelas estatísticas só teremos a confirmação, se o país já saiu ou não da recessão, no início de junho, quando o IBGE divulgar a estimativa preliminar do Produto Interno Bruto (PIB) referente ao período de janeiro a março. Instituições financeiras, consultorias econômicas e outros institutos de pesquisa tentam simular o comportamento da economia usando a metodologia das contas nacionais apuradas pelo IBGE e chegam até a se aproximar das estimativas oficiais. O desafio sempre está no setor de serviços, que responde por três quartos do PIB.
O próprio IBGE ainda escorrega na avaliação dos serviços. Já não se calcula a participação da administração pública pelo número de funcionários (sim, no passado, era a medida adotada!) e não é mais tão precário o critério usado para se avaliar os resultados da intermediação financeira. No entanto, diferentemente da indústria e da agropecuária, em que há parâmetros de produção física (unidades produzidas) para se chegar a um valor que corresponda de fato à realidade, nos serviços os estatísticas e economistas quebram a cabeça para estabelecer um modelo que reflita o que efetivamente se passa nesse variado segmento, que inclui também transportes, comércio, educação, saúde, turismo, entretenimento, etc.
Nesse mundo em que todos anseiam por informações em tempo real, não dá para ficar esperando a divulgação de resultados com defasagem de dois ou três meses. Para medir a temperatura e a pressão da economia, os chamados mercados – especialmente aqueles com mais componentes especulativos, que fecham negócios para entrega no futuro, com passarinho voando, sem ter nada nas mãos – usam variados instrumentos (índices que sejam minimamente confiáveis).  Produção e venda de veículos, registros de exportação e importação, novos empreendimentos imobiliários, fluxo de câmbio (entrada e saída efetiva de divisas do país), investimentos estrangeiros diretos, e por aí vai.
Mas em uma fase de transição, em que algumas atividades começam a se recuperar, e outras permanecem afundando, olhar para certos "termômetros" específicos é essencial. A arrecadação de impostos é um deles. Em janeiro, houve uma modesta recuperação, sem que tivesse entrado nos cofres públicos qualquer receita extraordinária. O índice de desemprego é outro desses "termômetros". No caso dos empregos formais, com carteira assinada, houve uma perda da ordem de 40 mil postos de trabalho no primeiro mês do ano. Época de férias, tradicionalmente de pouca contratação pessoal e de término de certos contratos de ocupações temporários típicas de fim de ano. De qualquer forma, o número de pessoas trabalhando com carteira assinada diminuiu. Observando-se esses números por um olhar otimista, percebe-se que a crise particular do Estado do Rio de Janeiro pesou muito na estatística (metade das perdas de empregos formais ocorreu no RJ) e que, mesmo assim, um ano atrás, o quadro era mais trágico, nacionalmente. Os índices de emprego são os últimos a reagir, pelo menos naquele tipo de análise "a economia vai bem, e o povo vai mal". Assim, o que marcará, realmente, o fim da crise não é a estatística do PIB, mas sim o momento em que os dados de emprego, formais e até os que trabalham por conta própria, saírem do vermelho para o azul.
Vencendo a burocracia
Somos um país com tantos problemas e um grau de estupidez reinante que chegam às vezes a desanimar. Não teria soluções, somos incapazes (a culpa cai sempre na conjugação da tal herança ibérica, na preguiça dos índios e nos hábitos primitivos africanos). Mas temos muitas ilhas de excelência e a maior dificuldade é transformá-las em um arquipélago para contrabalançar o lado negativo "continental". Então aqui vai mais um exemplo de excelência: capaz de concorrer com gigantes multinacionais, como a IBM e a Oracle, a empresa Sinax – 100% brasileira - reúne cem pessoas. O negócio deles é eliminar papel e reduzir drasticamente a burocracia de processos administrativos.
Na prefeitura de Maringá, a concessão de alvarás hoje leva 18 dias; antes eram meses. Isso significa antecipar receitas, agilizar negócios e menos uma coisa para infernizar a vida das pessoas. A plataforma desenvolvida pela Sinax permite aos gestores acompanharem todas as etapas do processo administrativo e com quem está exatamente, estabelecendo prazos máximos de liberação. Se alguém sentar em cima (o processo, na verdade, passa a ser totalmente digital), o sistema acusa o responsável e alerta os superiores para que providências sejam tomadas. Uma organização criada por empresários tem financiado algumas iniciativas de desburocratização, geralmente voltadas para municípios com mais de 70 mil habitantes. No Rio de Janeiro, a plataforma será adotada pela Secretaria estadual de Meio Ambiente. Ufa!
Não por acaso, um dos sócios fundadores e diretor geral é nada menos que Ricardo Piquet, atualmente à frente do Museu do Amanhã. A sede é no Rio, mas a base tecnológica da Sinax fica em Curitiba.   

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