Empurrão

Empurrão

POR GEORGE VIDOR
Polos exportadores aparecem com saldo positivo de empregos no cadastro do Ministério do Trabalho
Poucas cidades brasileiras estão no “azul” este ano no cadastro (Caged) do Ministério do Trabalho que registra os números de admissões e demissões com carteira assinada. Mas nesse grupo seleto se destacam municípios onde há polos de fabricação de calçados, como Franca (São Paulo), Nova Serrana (Minas) ou Novo Hamburgo (Rio Grande do Sul). Não se trata de mera coincidência, pois já há de fato um impacto positivo da desvalorização do real sobre indústrias que exportam ou sofriam forte concorrência de importações.
Ao recuperarem mercados, fabricantes de sapatos voltaram a contratar pessoal, pois é um tipo de indústria que as máquinas ainda substituíram totalmente o trabalho humano. Esse efeito ainda não foi suficiente para estancar a retração dos demais setores da economia. Por causa do desânimo que passou a dominar o mundo dos negócios, muita gente deixará de aproveitar a oportunidade que serão os Jogos Olímpicos. O astral dos consumidores deve melhorar, especialmente se os atletas tiverem um bom desempenho, como se espera, e o Banco Central der uma ajuda na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) começando a cortar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual.
Mês das noivas
Maio é também o mês das noivas e, pelo que saiba, igrejas e casas de festas continuam com as agendas lotadas. É possível fisgar uma pequena fatia da demanda gerada pelos casamentos no caso dos comerciantes que conseguem se incluir nas chamadas “listas de presentes”. A Catran é uma rede de lojas de artigos de cama e mesa que foi criada há 90 anos no Rio e não tinha antes listas de presentes. Em tempos de vacas magras, os presentes mais supérfluos – que os casais incluem em suas listas por hábito, mas que provavelmente passarão anos sem usar – pedem bem para artigos essenciais. No lugar de porta-copos e baixelas, entram lençóis, toalhas, fronhas, colchas, etc.
Os comerciantes que não forem inventivos nesse ambiente de crise, ficarão a ver navios esperando o tempo passar.
Correndo atrás
Antes de abrir as portas, o Shopping Nova Iguaçu já tinha 65 mil seguidores nas redes sociais. Essa relação fez com que os empreendedores atraíssem para o shopping uma grande livraria (a Saraiva) que nem sonhava em abrir uma filial na Baixada Fluminense. Nova Iguaçu não está livre das mazelas dessa região periférica do Rio, mas é um município que concentra vários centros universitários e abriga muitas indústrias e empresas de logística. Tem um comércio tradicional no seu “calçadão”, porém não contava ainda com um shopping na região central da cidade. Os empreendedores – Ancar Ivanhoe à frente – identificaram uma área onde havia uma pedreira e resolveram apostar no potencial do município. Assim, investiram em um shopping completo, com 250 lojas, milhares de vagas de estacionamento, cinemas, restaurantes e que, futuramente. Incluirá também torres comerciais vizinhas.
Curiosamente, a pedreira onde está instalado o shopping foi financiada há décadas pelo banco (Andrade Arnaud) que deu origem ao grupo Ancar. O mundo dá mesmo voltas.
Equívoco fatal
Anos atrás o governo do Estado do Rio de Janeiro cometeu um equívoco fatal ao destinar praticamente toda a receita de royalties do petróleo para compor o fundo previdenciário (Rioprevidência) que paga aposentadorias e pensões dos servidores inativos, que hoje somam mais de 200 mil. Pela lei, a receita dos royalties só pode ser usada em investimentos ou no abatimento de dívidas. Em tese, ao capitalizar o fundo com royalties, o Estado se enquadrou artificialmente nos limites estabelecidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal para pagamento de pessoal. E, dessa maneira, pôde usar mais à vontade recursos do caixa para outros gastos, inclusive investimentos – pois, nessa situação, aumentou sua capacidade para contrair novas dívidas. Mas acabou criando uma falsa ilusão de que finalmente a partir daí teria caixa para arcar com um programa de investimentos de médio prazo.
Se tivesse usado o dinheiro dos royalties diretamente para investimentos e fosse obrigado a capitalizar o fundo previdenciário com receita corrente (ICMS, basicamente), o Estado teria sido mais prudente em sua gestão financeira. Agora estaria cortando os investimentos (qu4e serão sacrificados de qualquer forma) e não seria obrigado a ficar raspando o fundo do tacho diariamente para tentar pagar os salários e as aposentadorias de 461 mil servidores ativos e inativos.

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