Rescaldo

Rescaldo

POR GEORGE VIDOR
O modelo “bolivariano” do petróleo precisa ser mudado para marcar o fim do plano “mil anos no poder”
O desmonte do plano tipo “Terceiro Reich” (mil anos no poder) capitaneado pelo grupo político que ora se afasta do governo pode começar pelo petróleo, já que a Petrobras foi o epicentro do escândalo de corrupção que por si só merecerá uma farta distribuição de “tornozeleiras” eletrônicas entre os que comandaram o país ao longo de treze anos. O modelo de exploração do petróleo foi mudado apenas com esse objetivo, pois a arrecadação decorrente da exploração futura do pré-sal ficaria concentrada nas mãos do governo federal. O modelo de inspiração “bolivariana” inviabiliza investimentos porque agride a racionalidade econômica. A Petrobras não pode ser obrigada a investir onde não quer.  O Senado já aprovou a mudança do modelo, dando agora flexibilidade à Petrobras. Falta a Câmara dos Deputados avaliar e ratificar a inciativa. O presidente em exercício Michel Temer não irá vetar o projeto que vier do Congresso. Como originalmente foi apresentado pelo senador José Serra, com Dilma possivelmente seria vetado.
Hora da colheita
Os Jogos Olímpicos estimularam a construção de novos hotéis no Rio. Somente na região da Barra da Tijuca a oferta vai aumentar este ano em 10.500 quartos. Agora é concorrência para valer. Os empreendedores contam com a possibilidade de o Rio atrair mais eventos, considerando que os Jogos deixarão legado considerável em mobilidade urbana e toda a sorte de instalações capazes de abrigar shows, campeonatos esportivos, feiras, congressos, convenções.
Cada empreendedor terá de contar também com seus próprios méritos, além de criatividade. O Vogue Best Western (empreendimento da Calçada), por exemplo, se apoiará em um prédio comercial vizinho, no centro de treinamento de tênis ali construído e na área de lojas onde se destaca um conjunto de dez restaurantes. Ricardo Amaral foi curador desse circuito goumet, que ele batiza como “nova Dias Ferreira” (referência à famosa rua do Leblon, cheia de restaurantes). Ele mesmo ressuscitará lá a pizzaria Gato Pardo, que ficava na Lagoa.  O circuito será inaugurado pouco antes dos Jogos, com a consultoria das organizadoras da “Casa Cor”, pois cada restaurante foi projetado e decorado por algum destacado profissional do ramo.
O Vogue é mais um dos empreendimentos imobiliários que serão concluídos este ano sem que outros tenham sido lançados para manter ativa a construção civil na cidade. Com poucas entregas em 2017, os preços poderão até subir por alguns meses, depois que o estoque de imóveis desocupados encolher. Em face da situação crítica do mercado, a Calçada adotou um modelo de investimento pelo qual os proprietários formam um pool de locação e dividem os resultados dos alugueis proporcionalmente ao tamanho dos imóveis, estejam eles ocupados ou não.  Somente depois de dez anos é que esse modelo pode ser revisto.
Vencendo obstáculos
Atropelada pela crise internacional dos primeiros anos da década, a então Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) ficou quase órfã, pois o grupo alemão que a controla (ThyssenKrupp) decidiu rever seus negócios no setor e a ofereceu a quem quisesse comprá-la. Desfez-se primeiro de uma siderúrgica no Alabama, nos Estados Unidos, cujo projeto era integrado ao do CSA. Situada no Distrito Industrial de Santa Cruz, município do Rio, a CSA ainda teve a falta de sorte de, durante a pré-operação do seu primeiro alto-forno, causar uma “chuva” de grafite sobre as comunidades próximas, recebendo uma saraivada de críticas, até do prefeito da cidade, que, naquele momento chegou a afirmar (e deve ter se arrependido, pelos resultados posteriores) que o Rio não seja mais esse tipo de indústria.
Com os preços das placas de aço se aproximando novamente dos US$ 500 por tonelada, a siderúrgica está voltando a respirar.  A receita atual ainda não é suficiente para remunerar o enorme investimento feito na companhia. Porém, como é uma das mais modernas do setor, com custos decrescentes, a ThyssenKrupp CSA é uma das raras siderúrgicas que está expandindo a produção no momento. O maior cliente é a “ex-co-irmã” do Alabama, que agora pertence à ArcelorMittal. O segundo cliente é a Ternium, de Monterrey (México), que compra 600 mil toneladas por ano. E o terceiro são os próprios alemães da ThyssenKrupp, pois a siderúrgica brasileira consegue ser mais competitiva que a matriz, mesmo com o custo do frete de travessia do Atlântico.
Das instalações em Santa Cruz saem placas de aço com uma qualidade – as “chuvas” de grafite não se repetiram - que levaram a ThyssenKrupp CSA a conquistar mais clientes. A demanda cresce pouco, mas a oferta de placas está encolhendo no mundo porque fecharam siderúrgicas obsoletas na Ucrânia e na Rússia. Nos Estados Unidos, também há velhas unidades fechando as portas. Em 2016, a CSA produzirá 4,2 milhões de toneladas. Tem capacidade para chegar a 5 milhões.
A empresa tem 3.700 empregados e indiretamente emprega mais 2.300. Dessas pessoas, 61% vivem a um raio de 20 quilômetros, numa das regiões com um dos mais baixos índices de desenvolvimento humano (IDH) do Rio. A empresa gera mais energia elétrica que consome e reutiliza 96% da água necessária a seu processo industrial.

Comentários