Alento

Alento

POR GEORGE VIDOR
Minha coluna no Globo de 9-5-2016:
Sinais ainda muito tímidos de recuperação podem ajudar novo governo a conquistar confiança dos mercados
Ao que tudo indica já teremos um novo governo esta semana. Não tão novo assim, pois o PMDB fez parte do atual. Sob a batuta de Michel Temer, a equipe econômica que o acompanhará não poderá fazer mágica. Mas a troca de guarda será suficiente para dar um alento ao mundo dos negócios. O impacto negativo da crise foi tão forte que está difícil enxergar se batemos no fundo do poço ou ainda há ladeira para descer. Com certa atenção, é possível se detectar algumas indicações de recuperação. A economia em estado de coma começa a dar sinais vitais, como assinala o economista Francisco Lopes, em suas análises para clientes da Macrométrica.
E esses sinais aparecem até mesmo em estatísticas da indústria. Quando comparado ao trimestre anterior ou a igual período do ano passado, há crescimento na produção e nas vendas de motocicletas em 2016. Produziu-se mais caminhões também. Embora tímido, o faturamento dos supermercados registra crescimento.
As previsões para os próximos meses permanecem pessimistas, refletindo o quadro político e econômico que o país vem enfrentado desde o fim de 2014. Dilma estreou o segundo mandato já sem força política para prosseguir pelos quatros anos que estavam por vir. Mas Francisco Lopes está entre os analistas que acreditam em retomada do crescimento no apagar das luzes de 2016, com a recessão ficando para trás em 2017.
O novo governo dificilmente conseguirá que o Congresso aprove em pouco tempo as reformas estruturais que o país precisa. Mas se der claras demonstrações que caminhará nessa direção, os mercados reagirão positivamente.  A possibilidade de redução das taxas básicas de juros pelo Banco Central já não encontra tantos adversários ferozes. A inflação está perdendo fôlego e com onze milhões desempregados sem perspectivas no curto prazo, somente um genocida pode continuar insistindo na tese de que os juros estão baixos.
Sete pragas
As sete pragas do Egito parecem mesmo que atingiram a economia brasileira. Uma das poucas válvulas de escape, o agronegócio, não passou ileso pela estiagem de abril que afetou a região Sudeste e parte do Centro-Oeste (perdeu-se muito do milho que estava plantado). Além disso, o atraso na liberação de crédito para comercialização da safra de grãos pegou os armazéns entupidos. Nas últimas duas semanas de abril, o movimento de caminhões que transportam grãos entre Goiás, o Triângulo Mineiro e os portos do Sudeste caiu cerca de 40%. Com isso, diminuíram também as vendas de diesel e a arrecadação de impostos incidentes sobre os combustíveis.
Esqueleto
Não param de surgir esqueletos dentro do armário do setor de energia elétrica. A recuperação do nível da água acumulada nos reservatórios das hidrelétricas situadas no Sudeste-Centro Oeste permitiu que as tarifas voltassem à bandeira verde, sem acréscimos especiais. Ainda há geradoras com contas a acertar pelo período que tiveram de comprar energia no mercado de curto prazo para atender compromissos que seriam assumidos com geração própria. É uma questão que não foi totalmente equacionada. Do lado das distribuidoras, há energia sobrando, porque foi contratada quando ninguém era capaz de imaginar que a economia brasileira cairia em uma recessão tão profunda. As distribuidoras pagam por essa energia e só conseguem revende-la no mercado livre por preços abaixo do assumido nos contratos. Podiam usar a imaginação e aproveitar essa fase para oferecer descontos para consumidores dispostos a regularizar ligações clandestinas.
A partir de 2017, e ao longo de oito, anos, as tarifas de transmissão de energia sofrerão um reajuste médio da ordem de 50%, por conta de um “esqueleto” herdado da época da renovação de concessões em 2013. Isso encarecerá a energia elétrica em 10%, ainda que paulatinamente. A Thymos Energia sugere que os médios e grandes consumidores comerciais e industriais fujam desse encarecimento comprando mais no mercado livre das chamadas fontes alternativas (usinas eólicas, biomassa ou pequenas centrais hidrelétricas). No mercado livre dessas fontes, há um desconto de 50% nas tarifas de distribuição, que pode anular o efeito do aumento na transmissão.  A Thymos estima que haja 11 mil empresas, hoje clientes cativos das distribuidoras locais de eletricidade, consumindo de 500 kw a 3 megawatts, e que poderiam ter acesso a esse nicho no mercado livre.
Para todos os gostos
Vai ser forte a concorrência entre as casas de acolhimento de diversos países com delegações que disputarão os Jogos Olímpicos em agosto, no Rio. A França, que ocupará a Hípica, no Jardim Botânico, promete caprichar na gastronomia e atrair principalmente famílias de cariocas e dos que estarão visitando a cidade (não se espera muitos turistas franceses para o evento, infelizmente). O embaixador Laurent Bili vai permanecer no Rio durante todo o mês de agosto.

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