Sol e água fresca

Sol e água fresca

POR GEORGE VIDOR
O Brasil ainda poderia construir 120 hidrelétricas de porte médio
Ainda por muito tempo a principal fonte de geração de energia elétrica no Brasil continuará sendo a água. Situação semelhante só é encontrada na Noruega. Um privilégio, pois o custo da geração hidráulica é um dos mais baixos, assim como o impacto que causa ao ambiente. Na relação custo/benefício, a geração hidráulica dá de 10 a zero.
Porém, a energia solar parece ser a bola da vez, especialmente porque permite a chamada geração distribuída, próxima ao centro de consumo. Seja no telhado de uma casa ou em uma área de condomínio, se as placas fotovoltaicas estiveram posicionadas de modo a receber o máximo de raios solares, é até possível que o consumidor passe a ser também "exportador" de energia, repassando o excedente para a rede local de distribuição de eletricidade, em acordo com as concessionárias. Empresas peso pesado, como a Engie (grupo belgo-francês, que é o maior gerador privado de eletricidade no país) estão apostando firmemente no segmento. Compraram participação relevante em uma companhia start up (iniciante) e vão acabar qualquer dia desses batendo à sua porta, oferecendo o serviço.
No entanto, além de exigir um investimento inicial relativamente elevado, sem raios solares diretos (que "transportam" os fótons, descritos por Einstein no papel, bem antes de qualquer experiência de comprovação), não há geração. Trata-se de fonte renovável, mas intermitente. Não dá para contar com ela em todos os momentos. Isoladamente, não funciona.
O que o Brasil tem ainda de abundante são os aproveitamentos hídricos e também urânio, que pode ser enriquecido e usado como combustível de reatores nucleares. No caso, da hidroeletricidade, as empresas geradoras listaram 120 aproveitamentos de médio porte espalhados pelo país. Seriam usinas com capacidade de geração entre 200 e 1000 megawatts.
Quando a grande hidrelétrica de Belo Monte estiver a plena carga, a capacidade de geração de eletricidade no país estará próxima a 150 mil megawatts, dos quais consumimos aproximadamente 70 mil MW nos horários de pico, cada vez menos concentrados ao longo do dia. Estaria sobrando energia se todas as usinas tivessem condições de funcionar a plena capacidade. Mas não é assim. Quando os rios e os reservatórios estão cheios, na época de chuvas fortes, as hidrelétricas podem funcionar a plena carga. Mas, no período seco, se não tiverem reservatório para armazenar água, têm de ir desligando as turbinas. Então, na média, o sistema funciona com 50% de sua capacidade.
O Brasil desistiu de armazenar água porque isso geralmente exige a formação de enormes lagos artificiais, alagamento de terras férteis, remoção de núcleos urbanos e inundação de florestas. O licenciamento ambiental de uma hidrelétrica está condicionado ao atendimento de grande número de exigências, incluindo compensações em projetos sociais. Nesse processo, quase sempre o investidor tem de arcar com despesas que deveriam ser de responsabilidade do poder público. Na ausência dele, a sociedade se mobiliza para conseguir realizar antigos anseios e pressiona ao máximo o empreendedor. Se o investidor não se dispuser a absorver esse custo, esbarrará em fortes resistências, às vezes incontornáveis.
Daí que os grupos privados estão se desinteressando pelas grandes hidrelétricas e se voltando para aproveitamentos de porte médio, a maioria a fio d'água, ou seja, usando o fluxo natural dos rios, sem armazenamento (esse conceito não significa que junto às barragens não se formem lagos; a gigantesca Itaipu é uma usina a fio d'água, porque o volume que recebe do Rio Paraná é o mesmo que passa por suas turbinas).
Esses 120 aproveitamentos listados enfrentarão dificuldades de licenciamento.  E o desafio será viabilizá-los economicamente. Não têm as vantagens das grandes hidrelétricas (que ganham na geração em larga escala) ou das pequenas centrais, até 30 megawatts, que não pagam pelo transporte da energia gerada. A alternativa é a construção de usinas térmicas, sendo que muitas queimam carvão ou óleo.
A economia brasileira precisa ampliar e melhorar sua infraestrutura. E o setor elétrico é um dos mais propensos a receber investimentos privados. Sem a garantia de que teremos energia firme, disponível, não dá, por exemplo, para substituir parte da frota de veículos por carros elétricos, menos poluidores. Então, o que estamos esperando?
Na Ásia
A economia do Sudeste da Ásia continua surpreendendo. Enquanto no resto do mundo o crescimento econômico anda devagar ou desacelerando, os dez países que compõem a Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático) aumentaram sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) do planeta de 1% para 3,4%, segundo estudo da PwC. Com 635 milhões de pessoas e um PIB de US$ 2,7 trilhões, os dez países da Asean, juntos, já formariam a sétima economia do mundo. Respondem por 7% das exportações globais, ficando atrás apenas da União Europeia (24%), Estados Unidos (13%) e China (9%). O Brasil tem menos de 2%. O que não falta no Sudeste da Ásia é gente para trabalhar: 430 milhões de pessoas.

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