Saída de emergência

Saída de emergência

POR GEORGE VIDOR
Liberar a União de gastos obrigatórios, temporariamente, é a saída emergencial para estancar o colapso das finanças públicas
Qualquer que seja o desfecho do processo de impeachment – embora o mais provável seja mesmo o afastamento da presidente Dilma – daqui para frente todos os governantes vão pensar mil vezes antes de sair chutando o balde nas finanças públicas, como ocorreu em 2013/2014. Joaquim Levy, que era uma das pessoas mais indicadas para promover o ajuste à frente do Ministério da Fazenda, preferiu jogar a toalha. Nelson Barbosa foi tocando como pôde e agora o que vem por aí é aumento de impostos, dentro de um programa de emergência nacional certamente acompanhado de pedidos de desculpas por parte do presidente em exercício Michel Temer na segunda quinzena de maio.
Governadores e prefeitos só não embarcaram nessa mesma canoa porque já não contam mais com bancos públicos para se apoiarem. Mesmo assim, vários empurraram o rombo para a frente atrasando pagamentos de fornecedores ou inflando a conta de “restos a pagar”. As reformas estruturais têm sido proteladas porque campanhas políticas populistas as associaram a um discurso neoliberal, de direita, ainda que o seu propósito seja exatamente o de evitar que a economia passe por situações semelhantes como o atual. Se ficarmos de braços cruzados, chegaremos a um ponto que os velhinhos aposentados serão “caçados” e “abatidos” nas ruas, especialmente se forem servidores inativos.
No plano emergencial o que pode ser feito por um governo interino, ao menos enquanto o Senado não der o seu veredicto final sobre o impeachment, é a chamada Desvinculação das Receitas da União (DRU) em um considerável percentual. Por esse mecanismo, a União fica desobrigada de gastar obrigatoriamente quase 90% das receitas em áreas pré-definidas, impedindo que se faça um remanejamento provisório de uma para outra. Sem essa flexibilidade, fica inviável se acertar as finanças públicas em um quadro de estagnação econômica. Para o lançamento do Plano Real, isso também foi feito.
É possível
Se bem administrado, uma rede hospitalar filantrópica pode ser financeiramente autossustentável. É o que vem provando na prática o Hospital São José, no Rio. Junto com o Hospital Santa Catarina, em São Paulo, o São José gera os superávits necessários para garantir o restante da rede (33 unidades, em sete estados) mantida por uma congregação de irmãs, sediada na cidade de Petrópolis. Lá a congregação mantém um hospital (Santa Teresa) que se tornou referência na região serrana fluminense. Cirurgias ortopédicas às vezes levam pacientes a fazer caminho inverso, da capital para o interior.
O São José está no grupo “top” de hospitais da Zona Sul do Rio, posição que divide com o Samaritano, o pró-Cardíaco e a Clínica São Vicente. Mas para garantir os superávits financeiros – assim como o Santa Catarina – o São José não consegue atender pacientes do Sistema Único de Saúde, função que fica a cargo do restante da rede. A gestão do São José é profissional. Paulista de Guaratinguetá, Nélisson do Espírito Santo passou cinco anos em um hospital da rede em Teresópolis. Há três está no Rio, cuidando da administração e das finanças do São José. A parte médica fica a cargo do cardiologista Augusto Neno.
Na praia
Ainda há espaço para hotéis de porte médio, ou mesmo grandes, administrados pelos donos, sem vinculação com redes internacionais ou nacionais? O Praia Ipanema Hotel manteve essa opção, mas a nova geração da família que está à frente do hotel percebeu que tinha que oferecer algo a mais para atrair hóspedes. De origem síria, a família proprietária do hotel começou nos negócios com uma loja de tecidos na Rua da Alfândega, na região conhecida no Rio como a Saara (lá há de fato uma concentração de descendentes de árabes e judeus – sofrendo agora concorrência direta de chineses – porém o nome é apenas uma alusão ao enorme deserto, pois é a sigla de Sociedade dos Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega). A segunda geração passou a investir em imóveis, quando surgiu a oportunidade de construir o primeiro hotel da orla de Ipanema, o Sol. Aprenderam com a experiência e construíram o Praia décadas atrás.
A quarta geração assumiu, reformou o restaurante e criou uma área para reuniões e pequenas convenções de executivos. O próximo passo é abrir uma varanda do bar para a rua, no térreo. O que eles querem é ser conhecidos como “ipanemenses”, ou seja, como um hotel capaz de dar todas as dicas sobre a vida do bairro. A estratégia parece que está dando certo pois têm mantido uma ocupação média acima de 70%. 
Na “UTI”
A crise econômica vem multiplicando o número de empresas que buscam reestruturar dívidas, por meio de negociação. Algumas consultorias até se especializaram nesse trabalho. A Alvarez&Marsal, uma das principais, por exemplo, está envolvida diretamente com 35 desses processos, além de cinco outros já na fase de recuperação judicial. Eles sempre recomendam aos clientes que tentem a restruturação numa fase em que isso ainda é possível. Mas muitos preferem esticar a corda até chegar à recuperação judicial, a antiga concordata, quando tudo fica mais demorado e geralmente mais doloroso.

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