Óbvia ululante

Óbvia ululante

POR GEORGE VIDOR
Daqui a vinte anos, quando a reforma da previdência estiver em pleno vigor, a realidade demográfica brasileira será totalmente diferente
A reforma que o governo está propondo para a previdência social só terá efeito pleno dentro de vinte anos, quando a janela proporcionada pelo atual bônus demográfico estará fechada. O número de brasileiros na faixa de 20 a 30 anos alcançou seu ponto máximo em 2010 e desde então diminui a cada dia. Isso explica porque lá por volta de 2040 teremos muito menos contribuintes, e muito mais aposentados e pensionistas se mantidas as regras em vigor na previdência. O Brasil precisaria ser uma Noruega ou uma Finlândia para aguentar esse tranco. Mas, sem a reforma, o país estará mais para Haiti do que para uma nação rica do Norte da Europa.
Deveria ser motivo de celebração e não de tormento a realidade que os brasileiros estão vivendo mais. Por essa razão óbvia ululante os brasileiros vão precisar trabalhar mais, para poupar também mais, de maneira voluntária (para si próprios), ou compulsória (de forma coletiva, como é o caso das contribuições para a previdência oficial). Daqui a 15, 20 anos, a maioria dos sessentões ainda se sentirá apta ao trabalho, à vida ativa. Em meados do século XX, os sessentões era velhinhos. Mais para trás, então... Vejam qualquer foto do imperador D. Pedro II aos 63 anos e comparem com os chamados "idosos" de hoje.
Pelos dados do IBGE, os brasileiros que chegam aos 65 anos têm uma expectativa média de vida que varia de 19 a 21 anos, sem grandes diferenças entre classes sociais e regiões do país. Um sistema previdenciário como o adotado no Brasil pelo INSS  tende ao  equilíbrio com o pagamento de benefícios aproximadamente por vinte anos.
 Onde a corda aperta
Um dos lados mais dramáticos da crise é o que acontece na saúde. Falido, o setor público não consegue mais bancar o aumento de despesas do setor. A procura por atendimento na rede pública aumentou também devido à redução do número de beneficiários dos planos de saúde. De agosto para cá até que a receita dos planos tem aumentado, mas sem conseguir acompanhar a evolução das despesas. Os planos de saúde perderam mais de 900 mil beneficiários no período de doze meses até setembro último. A maior parte em São Paulo (549 mil) e Rio de Janeiro (319 mil). Se forem considerados os planos de atendimento médico, sem levar em conta os odontológicos, a redução do número de beneficiários chega a 1,5 milhão, basicamente por causa das demissões nas empresas. Os planos empresariais respondem por dois terços do total de planos de saúde no país. Assim, quando a economia se retrai, cai junto o número de pessoas atendidas.
Além do encolhimento dos planos empresariais, há um outro fator que tem afetado a situação financeira dos planos, segundo a FenaSaúde, entidade que congrega os 40 principais administradores: a proporção do número de beneficiários idosos (que já correspondem a 6,1 milhões de pessoas) cresce mais rapidamente do que a dos integrantes mais jovens. Jovens pagam menos, porém demandam também menos atendimentos que os idosos.
Os planos que têm resistido mais à crise são os ligados a seguradoras, obrigados pela legislação a constituir reservas financeiras. Outros administradores que adotaram essa prática conseguem equilibrar as contas por meio da remuneração das reservas, enquanto esperam a recuperação da economia e mais receitas com a entrada de novos beneficiários.
Sobre Cuba (2)
Uma das coisas que mais me chamaram a atenção na visita que fiz a Cuba em meados dos anos 1990 é que o regime castrista não tolerava a abstenção nas eleições.  Como lá só há um partido, a abstenção seria uma das formas de protesto. No entanto, não passava de 1% no interior e de 2% em Havana (na capital, já havia, na época um pouco mais de resistência ao regime). É que no dia das eleições os chamados Comandos de Defesa da Revolução iam de porta em porta convocando os eleitores. Obviamente, ai de quem não comparecesse. A votação era em chapa única, podendo o eleitor riscar o nome de alguém e inserir, à mão, com sua própria letra, o de algum raro candidato independente (que, por esse sistema, nunca seria eleito).
Ironicamente alfinetava o pessoal do governo de lá dizendo que eles deviam se contentar com um índice de aprovação de 68% e não de 98%, porque não é um percentual crível. Havia uma funcionária do ministério das relações exteriores com a qual tinha prazer de polemizar. Parei quando percebi que ela e a filha revezaram o mesmo vestido nos eventos comemorativos mais formais que comparecemos.
BRT TransBrasil
As obras do corredor viário expresso por onde circularão os ônibus articulados recomeçam este mês, ainda na gestão Eduardo Paes. A TransBrasil será o corredor mais importante de todo o sistema BRT. Antes mesmo de as obras serem concluídas (faltam 50%), um primeiro trecho terá condições de ser inaugurado, integrando-se com a TransCarioca. Um ônibus articulado poderá sair de Jacarepaguá ou da Penha, pegar o viaduto que integra os dois corredores, chegar ao cento da cidade, e vice-versa.

Comentários