Desanuviou

Desanuviou

POR GEORGE VIDOR
A política continua complicada, mas ao menos na economia o clima já melhorou
Os problemas continuam os mesmos, mas a mudança da equipe econômica promovida pelo presidente em exercício Michel Temer parece que desanuviou o país. Ao menos no que que se refere à economia. A política permanece complicada, com revelações quase diárias na operação Lava Jato. No entanto, todo esse tumulto não tem impedido o Congresso de aprovar medidas necessárias para que as finanças públicas comecem a entrar nos eixos, entre elas a que desvincula parte das receitas da União dos percentuais de gastos obrigatórios.
A proposta de uma emenda constitucional que estabelece um teto para gastos públicos do setor público federal (incluindo legislativo e judiciário) pelos próximos vinte anos também vem repercutindo bem nos mercados porque, se aprovada pelo Congresso (e a tendência atual é de que será), representa um avanço institucional dos mais importantes. É o antídoto contra “pedaladas” fiscais e governantes que conduzem irresponsavelmente as finanças públicas.
A mudança de ambiente sem dúvida ajudará a economia a respirar um pouco no segundo semestre. A diferença em relação ao ano passado é que nessa fase de 2015 a velocidade com que o país estava descendo a ladeira acelerava. Alguns indicadores já começam agora a ser positivos, embora outros ainda estejam deteriorando, o que deixa os analistas financeiros confusos sobre se já batemos no fundo do poço ou não. Ainda que tímida, a sensação de recuperação da economia será maior dependendo da trajetória da inflação no segundo semestre. Se der uma trégua, o Banco Central terá condições de reduzir as taxas básicas de juros (simbolicamente, apenas como um sinal de que a “fera” está de fato controlada).  É o sinal que os bancos esperam para destravar o crédito. Com os juros no nível em que estão, não há quem deseje tomar empréstimos, e nem banco que queira emprestar, com receio de calote.  
Em Mendoza
A Argentina é o quinto maior produtor de vinhos do mundo. E 80% dessa produção se concentram em torno da cidade de Mendoza, aos pés da Cordilheira dos Andes, a cinco horas da fronteira com o Chile, por via terrestre. Solos áridos, com muito calcário, temperatura e ventos adequados (que impedem a proliferação de fundos e pragas) favoreceram o desenvolvimento de vinhedos das variedades malbec, cabernet franc, bonarda entre outras. Até a década de 1970 os argentinos só tomavam vinhos de mesa, do tipo italiano, meio doce, que era comum também no Brasil. Tinham hábito de acrescentar água gaseificada (soda) no copo. A partir de 1990 é que os vinhos finos foram conquistando espaço tanto no mercado interno como na exportação – para o Brasil, principalmente, em decorrência da criação do Mercosul.
Embora o país tenha passado por crises políticas e econômicas sucessivas, nos últimos quinze anos algumas vinícolas investiram em tecnologia e modernização pois perceberam que estavam perdendo espaço para concorrentes (inclusive da própria Argentina, com a expansão da produção na região de Salta/Cafayate, mais ao norte). Em Mendoza, a altitute média é de 900 metros. Mas no Vale do Uco há vinhedos a 1.500 metros de altura, mais próximos da Cordilheira. Antigos tanques de cimento voltaram a ser utilizadas (no lugar do alumínio), só que com inovações tecnológicas que permitem manter o vinho na temperatura ideal, além da oxigenação necessária para fermentação. Nas demais etapas, desde o armazenamento em barris de carvalho até o engarrafamento, o vinho circula por gravidade, para ter o mínimo de contato com o oxigênio.
Há uma série de vinícolas consagradas, como a Catena Zapata, a Vistalba, a Fournier, entre muitas outras. Mas a grande novidade lá é a El Enemigo, criada por Alejando Vigil, enólogo da Catena, em sociedade com Adrianna Catena, filha mais nova de Nicolas, o empresário que deu impulso ao negócio criado pelo avô. Vinícolas que produzem até 1,5 milhão de garrafas por safra são consideradas butiques. A El Enemigo começou na faixa de 100 mil garrafas, mas almoçar no restaurante da vinícola já virou um programa imperdível. E se Alejando estiver por lá (a casa dele fica ao lado), certamente vai aparecer para conversar com os comensais e dar boas dicas até de outros vinhos de amigos dele,
O nome El Enemigo partiu da ideia do inimigo que está dentro de nós mesmos e nos impede de experimentar coisas novas, realizar projetos sonhados, etc.
Mistério da meia noite
Continua sendo um mistério a atuação da Refinaria de Manguinhos no mercado de combustíveis do Rio e São Paulo. A empresa, ou o emaranhado de empresas, aparece como grande devedor (R$ 1 bilhão, com um débito que cresce R$ 200 mil por dia) do depauperado Tesouro do Estado do Rio, por não recolher impostos que lhes são atribuídos. Os combustíveis chegam por uma triangulação (importações nacionalizadas em Alagoas, produtos descarregados no Porto do Santos e transportados para o Rio em caminhões tanque). No papel, o negócio não dá lucro e só se sustenta porque os impostos cobrados não chegam aos cofres estaduais. A briga não tem fim nos tribunais.

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