Avanços

Avanços

POR GEORGE VIDOR
Se a economia brasileira continuar caminhando para uma taxa de juros “normal”, país poderá ter um mercado de capitais verdadeiro
Só mais recentemente, depois de os Estados Unidos e alguns países da zona do euro mergulharem em profunda crise econômica e financeira, a eficácia do receituário convencional de políticas monetária começou a ser posta em questão por economistas que não têm horror ao mundo das finanças. Essa discussão antes se restringia a um debate monetaristas x estruturalistas (desenvolvimentistas), como se a economia pudesse mesmo ser dividida entre o lado real (produção, consumo) e o financeiro. O resultado é que de uma parte havia uma negação sobre efeitos colaterais das taxas de juros excessivas, por exemplo, e da outra a identificação da política monetária como epicentro de todos os males.
Não há dúvidas que as decisões de investimento se tornaram mais dependentes dos atores do mundo das finanças. Criar valor para o acionista certamente é a missão primordial para a maioria dos executivos que tocam as empresas. Com a globalização dos mercados financeiros, as economias são comparáveis, de modo que existe um certo script que todas que as autoridades monetárias procuram, ou ao menos antes procuravam, seguir.
A taxa básica de juros, determinada pelos bancos centrais, geralmente é a ferramenta mais importante das autoridades monetárias para se se manter a inflação sob controle, o câmbio equilibrado, etc. Mas a grave crise econômica e financeira mundial deixou os bancos centrais perplexos, pois tanto os estímulos monetários, como as iniciativas de caráter restritivo não se comportaram dentro do script.
No Brasil, essa discussão felizmente se afastou do plano ideológico e enveredou mais pelo campo técnico, o que tem proporcionado boas reflexões sobre os efeitos negativos da manutenção de taxas de juros excessivamente elevadas. Um desses efeitos é a atrofia do mercado de capitais. Os poupadores se habituaram a um padrão de risco baixo associado a altos rendimentos de renda fixa, com origem nos títulos de dívida emitidos pelo Tesouro Nacional. O mercado de capitais ficou restrito a um grupo mais afeito ao mundo das finanças, deixando a impressão ao público em geral que é um terreno que não se deve entrar para não se levar uma rasteira dos “espertalhões” que dominam a atividade financeira.
Mas é bem possível que a economia brasileira esteja transitando para um patamar de inflação mais tolerável e compatível com o existente nas demais. Nesse caso, as taxas de juros tenderão à “normalidade” e os altos rendimentos em renda fixa não serão mais de baixo risco. Assim, o mercado de capitais não será mais desconsiderado como alternativa, o que motiva uma nova discussão. Após tantos baques, o mercado de capitais amadureceu? Está preparado para conviver com o controle acionário de grandes empresas, como Vale e Eletrobras, pulverizado? Só o tempo dará respostas para essas questões.  De qualquer forma, já tivemos um grande avanço. Assim, como inflação de dois dígitos é intolerável, taxas de juros estapafúrdias também o são. É o tipo de remédio que mata o doente, em vez de curá-lo.
Sem serenidade
Em uma situação de desespero financeiro, como a que se encontra o Estado do Rio, decisões são tomadas mirando o curtíssimo prazo, sem tempo para se pensar duas vezes sobre as consequências futuras. A concessão de benefícios fiscais, por exemplos, foi suspensa por dois anos, e é claro que isso afasta investidores. Mas também prejudica aqueles que já estão instalados no Estado e querem crescer.
São poucas as atividades ou empresas que, no momento, ousam dar passos à frente. Mas existem. Instalado há 21 anos no centro do Rio, o Verde Vício é um restaurante de sucesso. Com o conceito de refeições saudáveis, chega a atender mais de 500 pessoas no almoço, e entrega outras 300 refeições. Emprega 45 pessoas. Há dois anos passou a ter como sócios principais um ex-executivo financeiro e a filha dele, além da nutricionista que elabora os cardápios. Por causa do sucesso, resolveram abrir uma nova filial no centro, o que os levará a mudar de regime tributário. Até aí tudo bem. Só que bares e restaurantes estão sob um regime especial para recolhimento de ICMS, com alíquota de 4%, Mas na interpretação da receita estadual, a lei que suspende os benefícios fiscais atinge também o regime especial. Um novo restaurante terá de pagar 12% de ICMS. Ora a concorrência se torna impossível, pois quem já está instalada continuará pagando 4%. O resultado é que ninguém vai investir em nada novo. É o desespero causando esse tipo de estupidez.
Obviamente isso vai gerar uma demanda judicial, quando tudo poderia ser resolvido pela sensatez.    

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