Até o Conselheiro

Até o Conselheiro

POR GEORGE VIDOR
Mesmo achando que o sertão vai virar praia, Conselheiro concordaria que a previdência precisa de uma reforma
O ministro Henrique Meirelles é ou não é candidato? Segundo as palavras do atual condutor das finanças públicas federais, reafirmadas sexta-feira na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), ele continua a dedicar todas as suas energias para que a economia do país volte a alçar voo. Meirelles não tem apoio partidário, o que torna a sua eventual candidatura a presidente da República muito difícil. Mas é um nome de credibilidade.
 O que já fez no Banco Central, no Ministério da Fazenda e na vida empresarial o credencia a ocupar o cargo. Porém, todavia, contudo, isso não é suficiente. A ultra carente população brasileira sempre almeja por um líder que nos ajude a atravessar o deserto em busca da terra prometida. Nessa procura angustiante, políticos carismáticos e messiânicos levam vantagem, o que abre espaço também para um bando de loucos varridos e toda a sorte de cínicos, demagogos, pilantras, maus caracteres et caterva. Até o espírito do lunático Antonio Conselheiro é requisitado, de vez em quando...
Candidato ou não, o homem que cuida das finanças federais segue peregrinando em campanha de convencimento sobre a urgência das reformas para equilibrar as contas públicas do país. As despesas da União dobraram de 2006 para 2016 (como proporção do Produto Interno Bruto, passando de cerca de 10% para quase 20%) e chegariam a 25% do PIB em 2026 não fosse o teto de gastos que está em vigor. Mantida a regra, vão recuar para pouco menos de 16% do PIB, se a economia continuar em crescimento.
Mas para crescer, as finanças públicas precisam ser ajustadas, caso contrário o déficit da previdência social vai engolir as receitas e representará 80% das despesas federais em 2026. Quem disse então que a reforma da previdência não é urgente? Como diz o ministro, a reforma não é uma questão de opinião, é uma necessidade do país. Mesmo esperando que o sertão vai virar praia, e a praia vai virar sertão, até mesmo o espírito de Antonio Conselheiro se convenceria disso se sentasse por quinze minutos na cadeira de Ministro da Fazenda.
Ainda a propósito das reformas, o ministro deu razão a alguns ativistas que acreditam que a mudança nas regras trabalhistas possa provocar desemprego. Citou o exemplo de uma corporação europeia que há três anos só tinha 20 causas trabalhistas e dois advogados em tempo parcial cuidando delas nos Estados Unidos, enquanto no Brasil essas causas passavam de 25 mil e 25 advogados se dedicavam em tempo integral para defender a empresa em juízo. Ou seja, a reforma pode mesmo desempregar advogados, procuradores, funcionários e juízes lotados nas varas do trabalho, por falta do que fazer daqui a alguns anos. Por outro lado, se a reforma produzir o efeito esperado, como aconteceu na Alemanha, que foi pelo mesmo caminho, a taxa de desemprego pode cair à metade.
Carochinha
Tem muito conto da carochinha nessa história de que nada é bom na construção naval no Brasil e tudo é bom lá fora. Os estaleiros coreanos, apontados como o suprassumo do setor, estão com a corda no pescoço, e vivem de uma grande encomenda de 200 navios feita pelo governo, que ajuda também com créditos. Somente as peças de um navio que a China vende por US$ 27 milhões, custam na Coreia US$ 24 milhões. Se a esse valor forem somadas as despesas de montagem, lucro, etc. etc., não é possível ficar nos US$ 27 milhões. A China faz milagre? Há muita coisa esquisita nesse jogo.
Em vez de ficar se lamentando, para partir para briga os estaleiros brasileiros precisarão mesmo fazer das tripas coração. O EAS, de Pernambuco, é um bom exemplo. Os primeiros navios que construiu custaram o dobro do valor de venda. O primeiro foi lançado ao mar precipitadamente, quando o espírito de Antonio Conselheiro baixou no nosso então presidente, e teve de voltar para a carreira. Nesse leva e traz ficou torto. O segundo foi o mais caro de todos, com enorme prejuízo para o estaleiro. No nono, as contas se equilibraram, e os cinco que estão em construção (e serão entregues a cada 90 dias, daqui para frente) já dão lucro.
O estaleiro faz hoje um navio com um total de 1,8 milhão de horas trabalhadas no lugar de 6 milhões iniciais. Pode entregar um navio em 14 meses. Emprega 2.600 pessoas diretamente (chegou a ter 11 mil no canteiro, com 60% das pessoas vindo de fora da região). Cerca de 90% dos empregados são de Ipojuca ou de municípios próximos. A meta é reduzir o número de horas trabalhadas para 1,4 milhão por navio. Mas para isso será necessária uma robotização tipo Coreia.
O EAS quer aproveitar as novas regras de conteúdo nacional estabelecidos para a indústria do petróleo e produzir o 40% dos cascos de futuras plataformas do tipo FPSO. E ainda participar da licitação de navios de duplo posicionamento, embarcações que se aproximam das plataformas para retirar petróleo extraído das profundezas.

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