Por outro lado...

Por outro lado...

POR GEORGE VIDOR
O corte nas taxas básicas de juros vai diminuir o déficit total do setor público este ano e em 2018
Por conta da queda das taxas básicas de juros, o déficit total do setor público este ano vai diminuir, ainda que o resultado primário (receitas versus despesas, excetuando os juros) possa piorar. O resultado primário é importante, pois no médio e longo prazos, é o que efetivamente vale para manter a dívida pública sob controle. Mas, no curto prazo, a diminuição do déficit nominal tem relevância. Nas economias desenvolvidas, o déficit é sempre avaliado no total, incluindo o pagamento de juros. São considerados bons parâmetros se esse déficit corresponde a menos de 3% do Produto Interno Bruto e que a dívida pública total não ultrapasse o equivalente a 60% do PIB.
O déficit público nominal no Brasil anda na casa de 9,5% do PIB (e a dívida total em 73% do PIB). O resultado primário negativo contribui com 2 pontos percentuais para esse déficit. A maior parte do déficit decorre então da conta de juros, que é paga integralmente com o lançamento de novos títulos, aumentando a dívida bruta do setor público. Se as taxas básicas de juros caírem para o patamar que se espera (em torno de 7% ao ano), é possível que o déficit nominal recue para cerca de 6% do PIB. E ainda mais em 2018.
Ou seja, em termos macroeconômicos, o efeito no curto prazo será mais forte do que o resultado primário negativo. Isso significa que o setor público absorverá menos a minguada poupança que nós brasileiros acumulamos. Por definição, a poupança é a parte da renda que deixamos de consumir, e se torna disponível para o investimento. E a economia brasileira somente sairá do buraco para a qual foi empurrada quando houver retomada de investimentos.
O consumo responde por mais de 80% do PIB e o investimento por menos de 20% (incluindo o destinado à manutenção e reposição de estoques). No entanto esses 20% têm poderoso poder de multiplicação sobre o conjunto da economia. Funcionam como uma alavanca.
É fundamental que o resultado primário deixe de ser negativo no mais breve prazo possível. Pelo lado das despesas, já se estabeleceu um limite: os gastos não podem ter mais crescimento acima da inflação de um ano para o outro. Daí ser tão necessária a reforma da previdência, pois do jeito que está os demais gastos do governo vão ter de encolher ano a ano, incluindo os essenciais. À medida que a economia for se recuperando, a receita terá aumento real, e como os gastos estão sob uma camisa de força, o resultado primário tende a melhorar.
É por isso que, mesmo com o governo anunciando que o resultado primário vai superar em R$ 20 bilhões o que havia programado para este ano, o mercado financeiro não deixou de apostar ou especular contra a queda das taxas básicas de juros, nem se prevê um salto na cotação do dólar. Quando a conta de juros diminui, cai a receita de Imposto de Renda incidente sobre os rendimentos dos títulos públicos. Parte dessa receita é transferida para estados e municípios. É uma forma disfarçada de emissão de moeda, que acaba alimentando a inflação. A queda dos juros tem mais esse aspecto salutar para a economia.
Não está fácil para ninguém, mas não vai demorar para termos a sensação que parou de piorar.
Bom sinal
A propósito, em Macaé, o parque industrial Bellavista, vizinho ao parque de tubos da Petrobras, deu partida à sua segunda fase. A área atual tem 1 milhão de metros quadrados ocupados por galpões industriais ou de empresas que prestam serviços às companhias petrolíferas. Nessa segunda fase, serão mais dois milhões de metros quadrados, já com licenciamento ambiental aprovado. N primeira fase, as áreas e os galpões previamente construídos eram vendidos com facilidades. Agora será preciso suar mais a camisa, devido ao ritmo do setor de óleo e gás, que está mais devagar. Mesmo assim, Leonardo Dias - cujo pai foi o lançador do empreendimento, e ainda está à frente do negócio – está animado com as consultas de empresas dispostas a se mudar para Macaé, pois conseguirão reduzir muito os custos.  
Burrocracia
O Estado do Rio foi o campeão do desemprego na região Sudeste em julho. Enquanto São Paulo e Minas já aparecem com números positivos no Caged, cadastro do Ministério do Trabalho que registra o total de admissões e demissões com carteira assinada no mês, RJ e Espírito Santo ficaram no vermelho. Esse quadro poderia estar menos negativo se a estupidez humana não tivesse impedido qualquer solução para obras de infraestrutura importantes e em condições de serem tocadas de imediato no Estado. Uma delas é a construção da estrada que substituirá a descida da Serra das Araras, na Via Dutra. Para qualquer cidadão de bom senso é difícil explicar porque a obra não está sendo feita. A "burrocracia" que envolve decisões como essa prefere o impasse. O triste é ver depois isso se traduzir nos números do Caged.

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