Falta um empurrão

Falta um empurrão

POR GEORGE VIDOR
Juros em queda, inflação baixa, contas externas ajustadas, mas a economia ainda precisa de uma empurrada para crescer o que pode
Taxas básicas de juros em 7,5% ao ano, inflação rodando em torno de 3%, saldo nas transações envolvendo mercadorias e serviços com o exterior. O que falta a esse quadro é o país crescer a um ritmo anual que fique pelo menos entre 2% e 3%, para garantir a geração de melhores empregos, maiores salários, lucros e arrecadação de impostos. Não é tão difícil assim, se o Brasil conseguir destravar investimentos. Os leilões na área de petróleo mostraram que há oportunidades. No ano que vem, o Comperj, em Itaboraí, estará novamente em obras, para se concluir a unidade que receberá o gás natural extraído dos poços altamente produtivos do pré-sal na Bacia de Santos. Para serem destravados, alguns investimentos em infraestrutura precisam de empurrão do poder do poder público, especialmente no caso de rodovias e ferrovias.
Então o país tem condições de crescer a um ritmo razoável, ainda que o cenário político permaneça conturbado. O importante é se fortalecer os mecanismos de defesa da democracia, punindo severamente os políticos que insistem em trilhar no caminho da corrupção e da desventura. Só assim estaremos protegidos dos doidos varridos, dos líderes messiânicos, dos salvadores da pátria. E a eleição, seja de quem for, pode vir até a causar enormes frustrações, porém sem deixar o país em pânico diante de atitudes tresloucadas que o governante cogitaria, já que barreiras institucionais podem impedi-lo disso.
Tudo que aconteceu nos últimos anos está fazendo o Brasil se vacinar contra os infortúnios da política, acumulando pouco a pouco anticorpos contra desvarios. A Lava Jato pôs na cadeia quem não se imaginava. Políticos, empresários, executivos, funcionários públicos. Outros deverão passar também por essa experiência nada agradável, e já deveriam estar preparando uma malinha com sabonete, escova e pasta de dentes. Dessa lista possivelmente não escaparão ex-presidentes (incluindo o atual, que entrará na alça de mira a partir de janeiro de 2019, quando perderá o foro privilegiado).
A recuperação da economia será tanto mais rápida à medida que o Congresso desatar o principal nó das contas públicas, que é o forte desequilíbrio da Previdência. O debate sobre se há déficit ou não na Previdência se tornou bizantino, não leva a nada. Tem um rombo gigantesco que o Tesouro todo o mês é obrigado a tapar. Sem se resolver essa questão, as contas públicas continuarão estruturalmente desequilibradas, a reforma tributária que o país necessita permanecerá congelada, e os tesouros ficarão incapazes de custear o mínimo do mínimo para os serviços públicos funcionarem. Então, a reforma não é uma questão política, é uma questão nacional, que transcende este ou qualquer outro governo.
Atômicos
A coluna passada mencionou a energia nuclear como uma das opções atuais da economia russa. A Rússia hoje já lidera as inovações e as pesquisas nessa área, desde que os Estados Unidos e a Alemanha resolveram dar passos atrás (mesmo a França não tem ido muito adiante nesse campo). Os russos estão trabalhando nos reatores rápidos de quarta geração – refrigerados com sódio ou chumbo em estado líquido – e pretendem ter usinas flutuantes, baseando-se nos navios quebra-gelo nucleares que navegam no Mar Branco. Estão desenvolvendo também uma tecnologia de enriquecimento de urânio com centrífugas mais baratas, com apenas meio metro de altura. Por meio da Rosatom, os russos são os que mais constroem hoje usinas nucleares no exterior. E têm feito acordos para utilização da tecnologia nuclear em centros de saúde e de ensino, sem fazer alarde. Um deles fica na Bolívia a 4.000 de altitude. Informações devidamente checadas por Olga Simbalista, presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben).
É curioso como os russos conseguiram dar a volta por cima. Ficaram desacreditados, no fim da União soviética, devido ao acidente de Chernobyl, o mais grava da história. Nos congressos, seminários e reuniões internacionais, os russos não eram levados a sério. Felizmente, deixaram de se concentrar na pesquisa para armamentos atômicos e resolveram se dedicar ao uso pacífico da energia nuclear (os norte coreanos deveriam ter seguido esse exemplo, em vez de submeter seu povo a sacrifícios para fabricarem bombas que só acentuam o isolamento crescente do país).
Agora, passados cem anos da revolução bolchevique, não haverá desfiles militares, com mísseis balísticos de longo alcance, na Praça Vermelha. Por lá devem circular apenas figuras fantasiadas de Lênin, cobrando alguns trocados para tirar fotografias ao lado de turistas bobos.
Não a propósito, no meu blog, no site do Globo, sugiro uma pequena lista de restaurantes para quem for visitar Moscou: http://blogs.oglobo.globo.com/george-vidor/post/meus-restaurantes-preferidos-em-moscou.html

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