Despedida

Despedida

POR GEORGE VIDOR
Nesta segunda-feira, 19-2-2018, os leitores não encontrarão mais minha coluna semanal no GLOBO. Publicada há mais de 20 anos, faz parte de uma história que começou em 1972, quando tinha apenas 19 anos e estava no primeiro ano da faculdade de economia. Como começara a trabalhar aos 16 anos e meio (rsrsrs), já me achava um repórter "tarimbado" quando fui convidado por Ismar Cardona para uma nova Editoria de Economia que O GLOBO estava montando, dentro de uma estratégia maior de renovação do jornal. Começara no extinto Correio da Manhã, e já passara pela sucursal Rio da Tribuna da Bahia, pelo Boletim Cambial (BC Diário) e pela sucursal Rio da Gazeta Mercantil. Mas era apenas um jovem pretensioso, já carregando amarguras do envolvimento político equivocado na adolescência.
Quando entrei para O GLOBO acho que metade dos amigos deixou de falar comigo. Exageros à parte, muitos não entendiam porque eu revelava entusiasmo em trabalhar num jornal que era visto como alinhado ao governo militar. Mas o que fizemos no GLOBO naqueles anos 1970 foi uma revolução no jornalismo carioca e, por que não, nacional. O concorrente direto (Jornal do Brasil) era imbatível em várias áreas, incluindo a seção de economia. Em alguns anos, esse quadro mudou. E O GLOBO foi ampliando seu universo de leitores. Quem nunca o leu passou ao menos a folheá-lo para ver o que estávamos publicando.
De repórter inicial virei colunista, subeditor e editor de economia, até que em 1983, por um desentendimento editorial, o então diretor de redação Evandro Carlos de Andrade resolveu me dispensar. O mesmo Evandro me convidaria de volta em novembro de 1986. Nessa minha segunda trajetória no GLOBO (entre uma e outra trabalhei no Jornal do Brasil, na Veja e na Gazeta Mercantil, ancorando também o programa Ação e Investimento na TV Bandeirantes). Fiquei um tempo como editor de economia, depois passei a colunista diário, a editorialista e repórter especial, quando Luiz Erlanger teve a ideia de que escrevesse uma coluna às segundas-feiras na folga de Miriam Leitão. Por muitas vezes algumas pessoas atribuíam a mim o que ela escrevia, e a ela o que eu escrevera, embora nossos estilos sejam bem diferentes (rsrsrs) e pontos de vista também.
E agora chegou a hora de dizer tchau aos leitores da edição de segunda-feira. Um pouco pelos 65 anos, um pouco pelo desgate e cansaço de todos esses anos, um pouco pela necessidade de o jornal tentar outros caminhos, o que é perfeitamente compreensivo. Do GLOBO só levo boas lembranças (as más já esqueci, rsrsrs). Parte da minha vida se passou na rua Irineu Marinho. Tive convites profissionais para sair, e nunca quis. Uma vez uma colega comentou que não entendia como alguém pudesse ficar mais de 10 anos em um mesmo emprego (fiquei impressionado, já estava com 13 nessa segunda fase; mas ela continua aqui até hoje, rsrsrs). Fiquei porque sempre tive forte ligação emocional com O GLOBO - diz-se que ninguém deve se apegar tanto ao veículo em que trabalha, mas o que fazer? É um defeito que os jornalistas carregam. Esse apego me levou também para a Globonews (a convite igualmente de Luís Erlanger e Alice Maria, com aval de Evandro Carlos de Andrade), onde fiquei quase 19 anos, em uma fase da minha carreira da qual me orgulho.
Então me despeço agradecendo muito aos leitores, ao GLOBO, aos meus colegas, aos irmãos João Roberto, José Roberto e Roberto Irineu Marinho, à memória de Roberto e Rogério Marinho, e a todos aqueles que me ajudaram nessa trajetória.
Obrigado!

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