Ver para crer

Ver para crer

POR GEORGE VIDOR
Empreiteira tenta se reconstruir executando obras para o setor privado. Termelétrica no açu pode ser uma delas
A termelétrica programada há anos para o complexo portuário-industrial do Açu, no Norte do Estado do Rio, vai mesmo sair do papel. A escolha da empresa que tocará a obra para a Prumo está em estágio avançado. A Andrade Gutierrez é forte candidata a executar o projeto. A termelétrica já passou por todas as etapas de licenciamento ambiental, o que estimulou a Prumo a tirar o empreendimento da gaveta. A oferta de gás natural no Brasil aumentará muito com a produção do pré-sal, o que viabilizará a expansão do parque termelétrico no país.
A AG, por sua vez, tem experiência no segmento. Antes que as coisas parassem por lá, devido à falta de pagamento, vinha executando, por exemplo, a obra civil de Angra 3, uma usina termonuclear. E o empreendimento no Açu se encaixa no novo foco da construtora, que, depois da operação Lava Jato, tenta se reerguer com obras para o setor privado. No momento, a AG não está executando qualquer obra para o setor público.
O grupo está na fase do "teste São Tomé". Assumiu publicamente o compromisso de se pautar pela ética nos negócios, rejeitando as velhas práticas do mundo das empreiteiras. Mas mesmo internamente é preciso "ver para crer" o quanto isso é verdadeiro. E uma das formas de convencimento é envolver também as famílias dos funcionários, informando-as sobre iniciativas tomadas para que a empresa consiga, ou ao menos tempo, criar uma outra reputação junto à sociedade.
Os controles internos na AG estão até exacerbados. Dentro do grupo, não caixinhas das obras, não pode circular mais de R$ 1 mil em dinheiro vivo. Os gestores precisam explicar cada passo que dão, e qualquer anormalidade é detectada pelos sistemas de controle. Um cadastro com nomes e CPF de políticos e filhos de políticos permite que se detecte qualquer pagamento. Outro dia um funcionário, transferido temporariamente para o local de uma obra, alugou uma casa e apareceu no sistema que o imóvel pertencia ao prefeito da cidade. Por casualidade. Mas nesses tempos de Lava Jato toda a atenção é necessária, com olho vivo e faro fino.
 Agentes de "compliance" estão espalhados por todas as áreas do grupo, devidamente identificados, para constatar, na prática, se as posturas estão sendo mesmo adotadas (o diretor responsável por esse trabalho, um especialista em auditoria, tem 41 anos!). O número de denúncias dobrou de 2015 para 2016, ainda que o total de funcionários tenha caído pela metade (de 20 mil para 10 mil). Tomara que, de fato, após décadas e décadas (ou provavelmente, séculos) o jogo sujo que sempre envolveu esse mundo das empreiteiras esteja realmente mudando, para o bem delas própria e de todos nós que sonhávamos em viver num país melhor.
Muito devagar
A queda nas taxas básicas de juros ainda não produziu o resultado esperado no mercado imobiliário.  Crédito não falta, e há oferta de sobra. O que falta são compradores. As incorporadoras tiveram de baixar preços (de 25% a 30%) para desovar estoques de imóveis comerciais e residenciais, porque precisam quitar seus financiamentos com os bancos. As equipes estão encolhendo mesmo nas áreas técnicas que estavam sendo preservadas.
A rentabilidade de quem está no azul caiu pela metade. Os balanços mostram, na melhor das hipóteses, retorno de 8%. E ainda estão penduradas sobre a cabeça do setor muitas sentenças de primeira instância relativas a distrato de contratos, determinando que incorporadores devolvam mais de 80% dos recursos pagos por compradores que desistiram de adquirir imóveis em construção. Na segunda instância os juízes têm dado outra interpretação, prevalecendo a ideia de o desistente receberá de acordo com o valor pelo qual o imóvel for revendido, quando toda a obra estiver concluída, assim como acontece nos consórcios.
Gastronomia
Nessa escassez de eventos na cidade, o Rio Gastronomia, que terminou ontem no Píer Mauá e no Vogue Square, na Barra, foi quase um bálsamo. Tive o prazer de ser um dos 13 avaliadores de restaurantes e bares selecionados pela equipe que coordena o prêmio anual do GLOBO. Não chegou a ser surpresa que o guia editado pelo jornal tenha reunido 200 diferentes estabelecimentos, pois já faz tempo que o Rio deixou de ser um deserto no mundo da gastronomia. Antes essa lista seria diminuta, se comparada, por exemplo, com a oferta que sempre existiu em São Paulo (ainda que da rigorosa lista de cinco garfinhos este ano constem nomes como Naga, Gero e Fasano, originários de SP). Agora os cariocas não passam mais vergonha. A lista poderia ser até maior. Mesmo em tempos de crise, tem muita gente na área batendo um bolão, em termos de preço e qualidade.

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